quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Insólito

Não conseguia dormir. Algo me incomodava. Sentia-me mal como se houvesse uma infecção pustulenta sob minha pele. Um estado febril de excitação misturado ao frio da espinha que voltava a cada instante. Os lençóis não me continham. Os pensamentos não me deixavam. A mente voando feito louca, viajando pelos locais mais obscuros de minhas memórias. Medo, dor, dúvidas. Parecia haver uma camada fina de areia sobre o colchão, meu corpo reclamava pequenas bolhas doloridas e minúsculas. Pulei da cama. O corredor estava em silêncio. Pelo apartamento, figuras disformes e escuras dominavam o cenário. Eu vaguei, sonolenta, pelos cômodos, misturando real e irreal, minha mente pregando peças. De repente me vi. Alta, branca, cabelos bagunçados, parecia saída de uma mente insana. Olhava para mim como se nunca tivesse me visto antes, como se eu fosse a criatura mais estranha deste mundo e do outro. Eu não tinha entendido nada até aquele momento. Brigamos. Meu jeito racional e sempre controlador conflitava com meu instinto selvagem e não domesticável. A sobriedade entrava em atrito com minha insensatez. A mente sã não entendia a sonhadora e a taxava de doentia. Digladiamos. Uma queria tomar o lugar da outra, como se ambas fossem de lados diferentes. Quem eu era já se confundia com o que ela queria que eu fosse e o que eu necessitava que ela fosse se misturava ao que ainda não era. Eu sabia que se não resolvesse essa luta, não teria chance de resolver a guerra inteira. Nós nos encontrávamos todas as noites e todos os dias, até quando manteríamos esse impasse eu não sabia. Ao final de tudo, como sempre, terminamos na cama, dormimos juntas, era nossa maneira de entender que éramos uma só. E nós realmente o éramos, ganhando e perdendo as lutas pra nós mesmas, para entendermos que só tínhamos uma à outra.

Um comentário:

Joana Masen disse...

Bem vinda amiga! E que estória hein. A bipolaridade nossa de cada dia. Não vejo a hora de pegar seu livro e devorá-lo. Beijos!