sábado, 30 de março de 2013

TERRA DE PRIMEIRA QUALIDADE

A juntar a "As Minhas Disposições" disponho minhocas em fila, fazendo entre elas uma corrida. A primeira a sair do prato, pode comer terra de primeira qualidade.
NoDia 30…

terça-feira, 26 de março de 2013

Tempo para recordar


O pai se ergueu do sofá, caminhou até a janela e, de costas para o filho, começou a discursar:

__ Garoto, dias assim me remontam aos anos em que passei na cadeia. Dias terríveis, angustiantes. Neles, as horas escorriam lentas e dolorosamente. Como eu sofri, meu filho, como eu sofri.

Uma pausa. Cabisbaixo, o pai cobriu os olhos com a mão, enquanto gesticulava negativamente com a cabeça.

__ Eu cometi um erro, filho. Fui seduzido pelo caminho mais fácil e paguei por isso. Por favor, pelo que há de mais sagrado, não faça o mesmo.

__ Tá bom, pai, vou ficar atento a isso. Mas... o quê te lembra da cadeia nos dias de hoje? O céu nublado? O ritmo desacelerado do domingo?

__ Não, o arroz empapado da sua mãe. Hoje, o almoço foi uma tragédia, igual aos da penitenciária.

domingo, 24 de março de 2013

Ars Poetica


Não tenho voz de queixa pessoal, não sou
um homem destroçado vagueando na praia.
Drummond

por certo não sou digno da poesia
é o que se comenta
nos pequenos círculos

não comi a flor de lótus
tampouco sai às ruas chapado de rivotril

também disso estou certo
– eles o dizem, por que duvidar –
não evitei o amor
 essa grande balela

sequer morri de tuberculose
(nos corredores de uma sinistra biblioteca)

é o que se comenta
quem sou eu para duvidar

não me matei (ou matei alguém)
pelas palavras – ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência a vossa, etc e tal –
muito menos tive a Grande Visão

não vendi armas ao rei da Abissínia
ou cruzei o país
– vagabundo em um vagão –
no encalço do Sublime


.

sábado, 23 de março de 2013

São as águas...


Tá vendo esse silêncio?
vem das roupas molhadas
sapatos encharcados
e da noite passada em claro
arrastando móveis
acordando crianças
para sair correndo
e tentar salvar alguma coisa
em meio a casa inundada
sem telhado
sem nada...


*** Conheçam meu blog literário: Coisas que eu sei que eu sei  

terça-feira, 19 de março de 2013

você fica aí falando sem parar coisas que eu não quero escutar eu nem gosto da sua voz
aí eu fico te olhando e fingindo que presto atenção e que sei lá o que
as outras pessoas chatas eu imagino um esquartejamento bem tenso e louco aí eu sorrio fico bem
mas de você eu tenho um certo nojo repulsivo dos seus dentes dos seus braços do seu cabelo
aí eu fico com nojo de te cortar em pedaços e me sujar com a sua alma lamacenta

aí eu fico escutando chateada as suas chatices
porque não sei como te matar sem ficar enjoada enojada entojada tudo com ada no fim

sua grandessíssima filha de uma puta inesquartejável




quarta-feira, 13 de março de 2013

SOMENTE

Eu não minto, 
apenas invento 
o que sinto.

ah este vento
só na mente
sopra o momento.

não, eu não minto!
o que invento
é o que sinto.

terça-feira, 12 de março de 2013

Dedicatória


Alegrou-se com a notícia de que o livro seria dedicado a ela. Caminhou até a livraria com passos e um sorriso dignos de uma musa inesquecível, imortal.
Ao abrir na primeira página, leu: “Em memória de...”

O livreiro recolheu o corpo.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Relembre






Relembre

É difícil no começo

Atente

Todo saber tem um preço

Esteja

Preparado para andar

Contenha

A vontade de ficar

Estude

O que parecer complexo

Separe

Tudo que seja deserto

Reúna

Vida e morte novamente

Acorde

Olhe, sinta, pense

Relembre



Joakim Antonio




Imagem: By Gregory Colbert - Alafoto.com

sexta-feira, 1 de março de 2013

o sonho de Lilith




veio pela fumaça cavalgando Cérbero
altiva e por hora a chamarei de Hécate
a guardiã escarlate das portas do inferno

há quem diga que tem asas
que seus cabelos longos
e vermelhos como fogo
trazem um aroma de inexplicável
de sêmen e mirra

o desejo passivo nos olhos
travestia seu coração de pedra
afeita a tomar falos em contrações
que de tão violentas eram castrantes

quem há de se olhar refletido
nesse espelho de mil faces
sem que a deseje e se sinta impotente
enquanto o peito esmagado arfa
e o sorriso debochado estremece?