sexta-feira, 23 de março de 2012

A pequena história de uma sonhadora

foto:NaBHaN  

Ela tinha um sonho: viajar pelo mundo todo. E esse sonho era alimentado diariamente por sua amiga, Pipa, que voltava de suas viagens contando todas as maravilhas que via, as pessoas que conhecia, e os fatos interessantes que presenciava. A Pipa era assim, viajada, experiente, tinha seus truques para sair de casa, voar pelo céu azul e retornar sã e salva, cheia de histórias! Enquanto ela, a Bexiga, ficava amarrada a um barbante, presa, sem poder dar sequer uma voltinha, a amiga Pipa fazia seus passeios incríveis, cada vez que saía, ia a um lugar diferente, para onde o vento a empurrava. Bexiga não revelava a inveja que sentia da companheira, não queria estragar a amizade que tinham, e também não queria ficar sem ouvir as histórias de Pipa, pois era a única forma que tinha para viajar (ou pelo menos sonhar que estava viajando) a todos os lugares que imaginava ir um dia. Bê não podia reclamar, tinha uma vida boa afinal. Ela ainda se lembrava da época em que era apenas um balão vazio, no meio de tantos iguais a ela, esperando que alguém a enchesse de ar e a deixasse num formato bem bonito, para ser escolhida por alguma criança bem legal. Quando seu dia chegou, alguém a segurou delicadamente, enchendo todo o seu corpo com um ar quente, que a deixou com uma sensação maravilhosa, como se estivesse acabando de nascer naquele exato momento. Logo em seguida, ela pôde sentir as mãos firmes que a seguravam e a dobavam pra lá, viravam pra cá, torciam, até que conseguiram lhe dar a forma de um coração, grande e bem cheio de ar. Claro que, a partir dai, foi fácil ser escolhida por uma menininha meiga e com grandes olhos curiosos, que a segurou junto ao peito e a levou para casa. A única coisa que Bexiga não esperava, era que a mãe da menina a amarrasse com um barbante, dizendo que assim era melhor para ele não sair voando por ai... engraçado, a Bexiga sempre imaginou que seu destino era voar, subir bem alto, perto do sol, das estrelas... e agora ficaria amarrada? Bexiga foi ficando preocupada, sem saber como agir; queria sair voando livremente, mas agora que tinha aquela dona tão linda! Logo ela percebeu que não estaria sozinha, ao seu lado estava uma linda pipa, amarela, bem desenhada, com uma cara muito feliz. Ah, que bom seria ter alguém com quem conversar e compartilhar seus medos. No primeiro dia naquela casa, quando acordou e não viu a Pipa por perto, teve vontade de gritar por ela, mas decidiu esperar sua dona acordar e sair com ela para passear. A pequena não apareceu, e Bexiga ficou triste e solitária, amarrada, sem poder se mexer. No final do dia, quando a Pipa retornou do passeio, elas começaram a amizade, e Pipa contou tudo que tinha vivido naquele dia com seu dono, e outras tantas aventuras que já havia passado durante suas saídas por aí. O que mais a Bexiga poderia fazer, senão ouvir as histórias que a companheira contava, e imaginar que também estava vivendo as mesmas aventuras mágicas que desejava viver desde que nasceu? Muitos dias assim se passaram, e a Bexiga foi ficando sem ar, enfraquecendo, diminuindo, murchando... até que numa manhã ensolarada, a mãe da menina achou que a Bexiga já não servia pra mais nada e cortou o fio que a segurava ali. Ela levou um susto quando sentiu o vento a carregando, com o sol queimando seu rosto, mas imediatamente começou a sentir sua respiração voltar a encher seu corpo, seu coração bater rapidamente, e abriu bem os olhos para ver o mundo pela primeira vez, como queria fazer a tanto tempo. Ela registrava todos os detalhes, as cores das árvores, as crianças brincando, as pessoas apontando para ela surpresar por verem uma bexiga pairando sozinha pelo céu. Que maravilha! Era exatamente como ela imaginava, muita vida, muitas coisas para ver e ouvir! Era ainda melhor do que as histórias que ouvia. Quando já estava mais alto do que imaginava estar, Bexiga olhou pro lado e viu, surpresa, sua amiga Pipa, olhando para ela sem saber o que dizer... sem entender como ela chegara até ali, solta e tão feliz. A única coisa que a Bexiga conseguiu dizer foi: Tchau amiga! Vou conhecer o meu mundo!

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