segunda-feira, 23 de julho de 2012

A mulher dos sonhos

foto: Cristian


No meio de toda aquela fumaça e todos aqueles cheiros horríveis tive a impressão de ver um lampejo de luz... olhando mais atentamente percebi uma deusa, uma imagem que não pertencia àquele lugar sujo, que não deveria estar ao lado de pessoas tão baixas... mas estava ali, a um toque de meus dedos, tudo o que sempre desejei. Usava um vestido vermelho sensual, no mesmo tom do batom, cabelos muito negros e um salto alto que parecia fazê-la flutuar sob os outros mortais. Ela se aproximou lentamente do balcão e sussurrou para o barman: “Me dê uma bebida forte”. Com seus olhos escuros e brilhantes passou a observar o movimento do salão, trocou comigo um breve olhar despretensioso, que me deixou sem ar, e continuou a agir como se não pertencesse a esse mundo. O barman deixou o copo sob o balcão, ela o pegou e bebeu o drink de um só gole. Com movimentos lentos e graciosos, ela caminhou por entre as pessoas, passou pelas pequenas mesas que estavam abarrotadas de homens barbudos e mal vestidos, em frente ao palco principal, subiu os dois degraus que levavam até ele e, sem cerimônias, passou a dançar  ao lado da stripper que já estava ali. De onde eu estava, pensei ter visto ela me olhar profundamente enquanto desabotoava o vestido. Ela despiu-se, deixando à mostra sua bela lingerie vermelha, enlouquecendo os marmanjos a seus pés. A pobre stripper sentiu-se diminuída diante de tanta beleza e ousadia que saiu do palco, deixando a mulher misteriosa sozinha para provocar os clientes. Quando a música acabou, ela pegou o vestido do chão e saiu, sem dizer nada. Pensei em tentar falar com ela, já  que ela me olhou o tempo todo enquanto dançava. Corri para alcançá-la antes da saída, e só consegui encostar de leve minha mão em suas costas suadas. Ela parou, virou-se e veio em minha direção, devagar, prorrogando minha ansiedade e usando de todas as suas armas de sedução. Parou com a boca muito perto da minha e eu congelei. Fechei os olhos, ela levou o dedo indicador até minha boca, e, como que tentando sentir meu perfume, percorreu meu pescoço, me arrepiando com sua respiração quente, até chegar ao meu ouvido e dizer, bem baixinho: “Aproveite o silêncio”.  Quê?!?  Sem entender nada, abri meus olhos de repente e, assustado, reconheci o pequeno café em que eu havia parado para uma pausa e adormecido. Agora, já consciente de mim e do meu sonho, decidi que preciso parar de assistir “Inception”*.


(* A origem - 2010, EUA, Cristian Nolan, Legendary Pictures)

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