foto: Cristian
No meio de toda aquela
fumaça e todos aqueles cheiros horríveis tive a impressão de ver um lampejo de
luz... olhando mais atentamente percebi uma deusa, uma imagem que não pertencia
àquele lugar sujo, que não deveria estar ao lado de pessoas tão baixas... mas
estava ali, a um toque de meus dedos, tudo o que sempre desejei. Usava um
vestido vermelho sensual, no mesmo tom do batom, cabelos muito negros e um
salto alto que parecia fazê-la flutuar sob os outros mortais. Ela se aproximou
lentamente do balcão e sussurrou para o barman: “Me dê uma bebida forte”. Com
seus olhos escuros e brilhantes passou a observar o movimento do salão, trocou
comigo um breve olhar despretensioso, que me deixou sem ar, e continuou a agir como
se não pertencesse a esse mundo. O barman deixou o copo sob o balcão, ela o
pegou e bebeu o drink de um só gole. Com movimentos lentos e graciosos, ela caminhou
por entre as pessoas, passou pelas pequenas mesas que estavam abarrotadas de
homens barbudos e mal vestidos, em frente ao palco principal, subiu os dois
degraus que levavam até ele e, sem cerimônias, passou a dançar ao lado da stripper que já estava ali. De
onde eu estava, pensei ter visto ela me olhar profundamente enquanto
desabotoava o vestido. Ela despiu-se, deixando à mostra sua bela lingerie
vermelha, enlouquecendo os marmanjos a seus pés. A pobre stripper sentiu-se
diminuída diante de tanta beleza e ousadia que saiu do palco, deixando a mulher
misteriosa sozinha para provocar os clientes. Quando a música acabou, ela pegou
o vestido do chão e saiu, sem dizer nada. Pensei em tentar falar com ela, já que ela me olhou o tempo todo enquanto dançava.
Corri para alcançá-la antes da saída, e só consegui encostar de leve minha mão
em suas costas suadas. Ela parou, virou-se e veio em minha direção, devagar,
prorrogando minha ansiedade e usando de todas as suas armas de sedução. Parou
com a boca muito perto da minha e eu congelei. Fechei os olhos, ela levou o
dedo indicador até minha boca, e, como que tentando sentir meu perfume,
percorreu meu pescoço, me arrepiando com sua respiração quente, até chegar ao
meu ouvido e dizer, bem baixinho: “Aproveite o silêncio”. Quê?!? Sem entender nada, abri meus olhos de repente
e, assustado, reconheci o pequeno café em que eu havia parado para uma pausa e
adormecido. Agora, já consciente de mim e do meu sonho, decidi que preciso
parar de assistir “Inception”*.
(* A origem - 2010, EUA, Cristian Nolan, Legendary Pictures)
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