Suavidade: era o que mais esperava da vida.
Ela me olhava fixamente, como se procurasse respostas em meu
franzir de testa. Ou num piscar de olhos. Talvez num olhar fugidio a devanear
coisas esquecidas no silêncio dos dias. A vida vai empoeirando sonhos, soterrando
projetos, minando a alma.
A vida nos fita. Espreitando o primeiro passo em falso para
nos passar a rasteira e nos tirar o chão.
Não foi suavidade o que encontrei. Foi o tombo. A queda mais
absurda.
O corpo não flainou no espaço; não se levou pelo vento feito
pluma que se perde suavemente. O corpo desmoronou como um saco de ossos no chão da
realidade.
Arfante e em suspensão suportou o peso da desonra. O coração
apertado e a náusea aflorando na boca. Um sorriso amarelo a contornar situações
intransitáveis. O desespero de se ver confuso. A loucura de não se encontrar no
mundo.
Suavidade: era o que mais esperava da vida.
Mal sabia que carregaria tantos mortos nos ombros. Não
supunha as dores que viriam, nem imaginava os rostos que se apagariam ao longo
dos anos. Tantos olhares a perderem o brilho, tantas vidas a sucumbirem às
doenças. Tantos sonhos amputados.
Ah! Suavidade! Tanta esperança depositada em artefato tão
solúvel.
Suavidade: era o que mais esperava da vida.
Ela, porém, brincou com os sentidos. Fardo pesado e mal
medido se mostrou. Veio desconforto e fadiga.
Tenho comigo que, em um canto qualquer, ela se ri de nós. De
nossas agruras, de nosso desvelo em viver. E, quando o espírito harmoniza com
tudo ao redor, vem sorrateiramente mostrar-nos caminhos tão belos e de extrema
leveza capaz de se desfazer no emaranhado do tempo que se distrai e nos diz
festivo que já é tarde e é preciso dormir.
Suavidade: era o que mais esperava da vida.
Um comentário:
DOCUMENTO
Preparando meu testamento para o final do mês, deixo o mesmo começar nesta frase, com: era uma vez…
Desta vez lendo aqui, mais uma vez, comentando. Comentando, mais uma vez, a escrita como consequência de leitura.
Nada mais justo que ler, não ficar apenas… comentando? Esta ideia, a do comentário, a de comentar, é documento!
SUAVIDADE
a suavidade
subiu nas pernas
da madeira da mesa
vindo poisar
as letras
num verso para tu
Assim
SUAVE TU
tu me dás nomes
para saborear
minha vida
assim
todo dia
renovada alegria!
Mim
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