Vultos se movem nas sombras. Espectros dão risadas, que ressoam malignas envolvidas pelo silêncio de todo o resto. A urbanização mineira funciona e, na madrugada, não há trânsito.
Um sujeito surge e balbucia coisas inaudíveis. Esforço-me numa leitura labial. Fracassada. Ele segura um boné, parece se tratar de uma oferta. Faço minha cara de “foi mal, não tenho dinheiro”. E é verdade, do contrário estaria num taxi.
Seria um boné roubado? Ou uma artimanha para me roubar?
À (meia-) noite, todos os gatos são pardos (assaltantes em potencial), diz a sabedoria do assistir-Jornal-da-Globo-tomando-chocolate-quente-enquanto-o-mundo-lá-fora-é-todo-malvado.
É verdade, eu corro risco. Preciso ficar alerta. Consola-me o fato de assim ser a vida, por todos os lados, perigosa. Mas o maior dos riscos, ainda acredito, é morrer de tédio.
No céu não há estrelas, apenas prédios obscuros. Tampouco vejo carruagens ou automotivos dos anos 1920 para me transportar para qualquer “Era do Ouro”. Dou-me por satisfeito em adentrar o primeiro ônibus que me levará para casa.
Vida pé-no-chão. Tudo que reluz geralmente é ouro de tolo.
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