Quando
eu era criança, achava o feio, bonito: gostava de ver, nos dias das eleições,
as ruas cheias de papéis, os santinhos dos candidatos. Chegava até a janela da
minha casa e via aquele cenário, outrora tão familiar, agora salpicado de
cores. Quase um carnaval e seus confetes.
E, curioso,
eu ficava pensando: como as ruas ficavam daquele jeito? Na noite anterior à
eleição, a cidade normal; amanhecia e era papel para todo lado. Quem fazia
aquilo? Como era? Eu ficava imaginando - chegava meia-noite e a rua ficava
lotada, candidatos com ternos e seus cabos-eleitorais com bonés e bandeiras,
cuidadosamente deixando santinhos pelo chão, para convencer o eleitor
descuidado que saísse de casa sem saber em quem votar.
Certa
noite, já adolescente, eu voltava para casa na madrugada anterior a uma
eleição. A chuva e os bares fechados por conta da Lei Seca me deixaram sóbreo o
suficiente para ver o “fenômeno” acontecer. Vi carros parando em esquinas e
seus ocupantes lançando a papelada para fora. Jogavam e aceleravam até a rua
seguinte. Som de motor e rádio FM. Simples, direto e, o pior, sem glamour algum.
Claro, foi uma decepção, devastou as memórias imaginárias que perduravam da infância. Mas foi bom, em todo caso: aprendi que emporcalhar as vias públicas é feio, e o feio, ao menos nessa caso, não é bonito.
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