sábado, 6 de março de 2010
O Observador
Estou sentado, não vejo, mas sei que meus olhos olham pra mim.
Alguma secreção, secreção?, é. Algum visgo verte das minhas cavidades oculares.
Como eu posso ter certeza que meus olhos estão virados pra mim…? Não sei, será que estão.
Isso me assusta…
Viro a cabeça para cima, tentando conter a coceira no nariz. Escorre alguma coisa na minha boca. Me afogo. A cabeça que se move, a cabeça, a mão no rosto, o espirro.
Um espirro irrompe e jorra mais coisa viscosa em cima de mim.
O lugar onde ficavam os olhos doeu pungente quando espirrei.
Lembrei dos dedos.
Os dedos permanecem manchados, sim… Eu sei que permanecem porque ainda não lavei as mãos. Manchados de sangue e lágrimas involuntárias e puz e tudo mais que saiu e continua saindo do lugaro onde ficavam meus olhos.
Será que eles estão olhando pra mim?
Acho que sim. Marquei bem o lugar.
Marquei.
Sentei na cadeira, amarrei meu tronco pra não me mecher, as pernas, pra não cair. É! Marquei.
Fiz dois pequenos buracos na mesa e memorizei a rotação exata que eu deveria pousar os olhos.
Marquei o lugar certinho.
É… Sim…
Eles estão virados pra mim. Tenho certeza.
Você vai voltar, vai me encontrar aqui, de novo, e vai dizer dessa vez que eu não me enxergo?
Pf…
Imbecil.
.
Willy Barp
5 comentários:
Meio exótico e algo escatológico... mas, como ouvi ontem e concordo, se revira é bom... um texto precisa "causar"... mexer com o leitor... e este, devo dizer, mexe bastante... :)
obrigado pelo comentário.
Acredito que é isso mesmo
uma das funções da literatura é esse "desloque"
=D
Abraços.
Surpreendente o fechamento do texto; parabéns!
:)
valeu
=D
obrigada por ser nosso parceiro!
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