domingo, 12 de setembro de 2010

Engano

- Alô!

- Boa tarde, o senhor Seixas encontra-se?

- Quem quer falar com ele?

- Falo em nome do Banco Rio Sul.

- E por que é que não pode falar comigo?

- Desculpe-me, senhora, mas devo falar diretamente com o senhor Seixas.

- Olha aqui, mocinha, tudo que é do interesse do Alberto é também do meu interesse. Saiba você que sou a senhora Seixas e que, apesar de ainda não ter passado tudo no papel, somos muito bem casados!

- Peço desculpas novamente, mas eu preciso falar com o senhor Seixas, temos alguns assuntos para resolver e, para isso, preciso que ele confirme alguns dados, senhora.

- Não me chame de senhora, mocinha. Eu devo ter quase a sua idade!

- Desculpe, mas foi a senhora...

- Senhora não!

- Desculpe. Foi você que me disse que era a senhora Seixas.

- Era e ainda sou!

- Tudo bem, mas, ainda assim, preciso conversar com o senhor Seixas.

- Mas quanta insistência, trate logo desse tal "assunto", seja ele qual for, comigo mesma. Afinal de contas, o que é que você precisa? Deu algum problema no cartão? Alguma coisa nos investimentos? O que foi?

- Trata-se de uma dívida, senhora.

- O que foi que você disse?

- Desculpe novamente, não tive a intenção.

- Não, não isso. Você disse que tem uma dívida?

- Sim, senhora! Eu trabalho na área de cobranças. O saldo devedor do senhor Seixas está acima do tolerável pelas políticas da empresa há alguns meses. Por isso estamos ligando para informar que os cartões serão suspensos se não negociarmos esta dívida.

- Ah, mas isso você que resolva lá com aquele traste. Eu não tenho nada a ver com esse sujeitinho!

3 comentários:

L. Rafael Nolli disse...

É bem isso mesmo, Rodrigo! Imagino que essa cena deva se repetir semanalmente pelo mundo a fora! Muito bom o conto, conseguiu captar a situação precisão e humor.

Isaias de Faria disse...

conto de primeira! seguindo uma tradição de grandes contistas.

Glauber Vieira disse...

rsrsrs, só faltava dizer que as dívidas surgiram por causa da "outra"...