__ Sou um artesão de
palavras. Minha matéria-prima são as ideias. Escrevo textos, mas gosto de
pensar no meu ofício como o labor de um alquimista. Colho sonhos, cores,
sorrisos. O amor, a delicadeza humana, as lágrimas de uma donzela. O frescor
das manhãs, a filosofia das crianças, o aroma do café na cozinha das avós... E
os transformo em literatura.
__ Ok. Mas não tem essa
opção no questionário. Posso marcar que o senhor é desempregado e não tem renda
fixa?
__ Só se você estiver
presa nas objetividades que nossa sociedade inventa, minha cara.
Ela marcou um xis ao
lado do “desempregado” e outro em “sem renda fixa”. E o empréstimo não foi
liberado.
Um comentário:
Muitos discutem a "utilidade" da literatura. E ela é tão importante para justamente ir além das "objetividades" da sociedade. Dar a tal cor, os tais sonhos. Aparentemente inútil, mas se nos fosse tirada, a vida seria um deserto no sentido "subjetivo" - como muitas vezes é, pela falta de colorido, um amontoado de objetividades utilitárias, áridas e inumanas.
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