terça-feira, 26 de março de 2013

Tempo para recordar


O pai se ergueu do sofá, caminhou até a janela e, de costas para o filho, começou a discursar:

__ Garoto, dias assim me remontam aos anos em que passei na cadeia. Dias terríveis, angustiantes. Neles, as horas escorriam lentas e dolorosamente. Como eu sofri, meu filho, como eu sofri.

Uma pausa. Cabisbaixo, o pai cobriu os olhos com a mão, enquanto gesticulava negativamente com a cabeça.

__ Eu cometi um erro, filho. Fui seduzido pelo caminho mais fácil e paguei por isso. Por favor, pelo que há de mais sagrado, não faça o mesmo.

__ Tá bom, pai, vou ficar atento a isso. Mas... o quê te lembra da cadeia nos dias de hoje? O céu nublado? O ritmo desacelerado do domingo?

__ Não, o arroz empapado da sua mãe. Hoje, o almoço foi uma tragédia, igual aos da penitenciária.

5 comentários:

Silvio Barreto de Almeida Castro disse...

Mudou de casa mas a gororoba é a mesma.

Edu Café disse...

Sensacional...

Paco Steinberg disse...

Ai que infelicidade! Meu arroz é assim tb.

Muito bom o texto!

Anônimo disse...

A analogia está bem conseguida! Parabéns.

l. f. amancio disse...

Obrigado pela leitura, amigos.