segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Pastor João
Convicto da missão que o próprio Deus lhe confiara, Pastor João apenas observava, compadecido, os policiais que o conduziam. Acusavam-no de estelionato, formação de quadrilha, associação para fins de tráfico, corrupção de menores, mediação para servir à lascívia de outrem, a lista era extensa. Quanta babaquice. Afinal, o que era a lei dos homens se comparada à Lei do Todo-Poderoso? Jamais esqueceria a noite em que Ele aparecera, na forma de um cabeçudo alienígena verde-oliva, grandes olhos flamejantes, dentro da fulgurante bola de fogo amarela, dizendo, com aquela voz tonitruante, as palavras que mudariam para sempre a vida de João:
- João! Esqueçe tudo o que aprendeste sobre bem, mal, certo, errado, pecado, Céu, Inferno e Purgatório. Queima tua Bíblia. São mentiras, invencionices de Lúcifer, visando privar os homens dos prazeres da vida e levá-los à perdição. Poucos conhecem o caminho da verdade. Mostrar-to-ei. Ouve. Procura um livro chamado Código Penal. Segue as instruções que ali estão. Pratica o que o livro chama de crimes. Assim agindo, alcançarás a felicidade na Terra e a salvação no Céu.
Lembrou-se de sua ingênua audácia, ao questionar Aquele Que Tudo Sabe:
- Mas... Senhor... Tornar-me-ei um criminoso?
- Serás um servo de Deus. Vai, João, combate o bom combate. Não temas, sempre estarei contigo. - respondeu o Onipotente, desaparecendo numa nuvem de fumaça que provocava ardência nos olhos e nas narinas.
Fitou novamente os policiais, as algemas comprimindo dolorosamente seus pulsos. "Eles não sabem o que fazem" - pensou.
Polinter, Base Neves. Acautelado, à disposição do MM. Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Capital. Os presos, todos crentes, conheciam-no e o respeitavam. Não é todo dia que viam uma celebridade do mundo do crime, inda mais um homem de Deus. Ministrava fervorosos cultos, ensinando às ovelhas o verdadeiro caminho do Céu, que todos conheciam de uma à outra ponta e muitos já o haviam trilhado várias vezes. Conquistou dezenas de almas no xadrez, deixando os antigos pastores a catequizar as paredes. Tudo transcorria bem na Seara do Pastor João, até aquela fatídica noite de 25 de agosto, a noite do eclipse lunar...
Todos dormiam na cela, à exceção de Pastor João, que meditava sobre os intrincados e tortuosos caminhos do Senhor. Viu o pequeno facho de luz surgir na parede, bem em frente ao poster da Viviane Araújo. Recordou-se de imediato. Caiu de joelhos.
- Senhor! Finalmente vieste me socorrer!
O diminuto clarão foi aumentando de tamanho, adquirindo a forma do Deus marciano. Pastor João alternava choro e riso, em seu rosto uma expressão desvairada. Tremeu quando ouviu a voz de trovão:
- João, meu servo, regozijo-me contigo. Vejo que és valoroso. Mesmo diante de tantas e tamanhas adversidades, não titubeaste nem arrefeceste. És valente e constante. Mereces teu galardão. Queres vislumbrar o que te aguarda?
- Senhor, não sou merecedor. Fiz apenas o que me ordenaste. Combati o bom combate, visando ao cumprimento de minha missão. Se achares que sou digno, mostra-me minha recompensa.
O ser verde luminoso, então, soltou uma gargalhada estereofônica, ao mesmo tempo em que suas formas foram se transformando: a pele verde tornou-se rubra, os olhos de fogo enegreceram, surgiram chifres, cauda e cascos de bode. O cheiro de enxofre era quase insuportável. Pastor João contemplava, boquiaberto, o ser venerado que transformara sua vida, transmutar-se na figura do Príncipe das Profundezas, o Tinhoso, o Cão do Pé Preto! Aturdido, viu, na parede, imagens de um filme de terror, saídas de um projetor invisível, cujo protagonista era ele próprio! Viu-se mergulhado em um lago de magma, destrinchado e devorado por demônios alados, suas vísceras lançadas aos cães; viu jacas gigantescas serem enfiadas em seu ânus, viu seu corpo ser corroído por urina ácida lançada por íncubus horrendos; viu sofrimento, muito sofrimento.Súbito, a tela sumiu, o Diabo riu zombeteiro. Olhou para o aturdido Pastor João e falou:
- Te vejo no Inferno, babaca!
Dito isto, desapareceu numa nuvem de fumaça com cheiro de enxofre. Pastor João ficou ali ajoelhado, imóvel, durante vários minutos. Alguém sacudiu seu ombro.
- Ô pastor! Algum problema?
Era Alcebíades, preso por haver assassinado a mulher e a sogra. Após alguns minutos, Pastor João fitou o rosto perscrutador de Alcebíades e ordenou:
- Alcebíades, coma meu cu!
- O quê? Tá doido, pastor?
- Você quer padecer no lago de fogo e enxofre do Inferno? Faça o que estou mandando, coma meu cu!
- Tá legal, pastor. Se é pra me livrar do Inferno, vamulá.
Os gemidos acordaram os demais presos. Pastor João mandou que todos o comessem, sob pena de arder no fogo do Inferno. Temerosos de perder a alma, um a um, ininterruptamente, os presos sodomizaram-no durante várias horas.
Dias depois, Pastor João foi transferido para o manicômio judiciário, onde passa os dias olhando para as lâmpadas do teto, babando e balbuciando:
- Deus é verde, o Diabo é vermelho, Deus é o Diabo verde, Deus é o Diabo. Vinde a mim e meterei meu ferro em brasa no vosso cu. Deus é o Diabo...
Após a internação de Pastor João, os demais ministros do Evangelho, dantes rechaçados, voltaram normalmente às suas agradáveis e rentáveis atividades na cadeia.
Carlos Cruz - 27/08/2007
domingo, 26 de agosto de 2007
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Esparsos em maio de dois mil e três
1
Vencendo
galgando
superando
plantando
o
2
Elaborando
construindo
demolindo
plantando
o
3
Refugiados
escondidos
falando o
arando
{passam
4
Carregando
superando
Levando
vivendo de
E
e
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Sobre o desejo
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Beleza insubmissa
- Mas poemas sobre o espírito são tão belos. Ou então os que têm flores e pássaros; adoro esses mais bucólicos!
A beleza verdadeira é em essência revolucionária, pois insubmissa. Não importa o tema ou a motivação, pois ela transborda temas e motivações. É insubmissa, pois indiferente e independente dos meios que a produziram. Depois de feita, tem vida própria – imprevisível.
- E o coração, a lágrima e a solidão? Sim, as rimas. E as rimas?
Não há regra para isso, pode ou não haver rimas. Não há garantia gramatical na produção da verdadeira arte. O fato é que se está sob controle não é verdadeiro. Por isso, toda ditadura teme a beleza da arte, mas deseja a plasticidade da publicidade.
- Então era isso! O tal engajamento.
Quem falou disso? Pode ser, ou não. A questão nunca foi essa. Os livros que importam são os primeiros a serem queimados. Não é o tema, é a potência. Se tiver os dois, então... O que interessa é saber que toda beleza verdadeira, por sua simples presença, quebra a ordem previsível imposta pelos determinismos históricos.
THORPO
terça-feira, 21 de agosto de 2007
DE REPENTE
Como tudo na vida muda; ao som das músicas e muito bem querida, Ynaê cresceu e mudou. Conheceu Miltinho, seu fiel amigo, mas consigo esmoreceu. Não que Miltinho fosse triste, mas sim docinhos, carinhos e proteção deixaram de fazer parte de seu coração. Agora seus desejos cresciam e se tornavam reais, e no prelúdio em comemoração as festividades natalinas “Asa Branca”, além de ser cantada para ela, significava paixão e um desejo enlouquecedor queimando o peito sem arbitrariedades para o resigno. Queria o mundo solto para amar um menino, enquanto a ela amasse por esse mundão sem cerca todo de Deus e dos dois.
Noutro dia, no caminho até uma matinê na escola Ynaê conheceu Godofredo, menino que para ela – novo na cidade – era perfeito, mas tinha um grande defeito, que era ser namorador. Subitamente se tornaram íntimos e Miltinho não existia mais, pelo menos para Ynaê. A cada dia eles se conheciam, trocavam segredos e se beijaram pela primeira vez. Estavam sempre juntinhos conversando bem baixo no banco da praça.
Os vizinhos e amigos se chatearam, cruzaram os braços e curvaram o pescoço. Não mais careciam de oferecer-lhe carinho nem prosa, nem versos na escola, nem coca-cola no bar do Bartolomeu, pois Ynaê, apesar de apaixonada parecia menina levada que só queria falar de amor e do prazer de conviver com o baeco. E nada do que os vizinhos dissessem ou fizessem a menina se sentia abalada, e estava diuturnamente grudada na barra da calça do torengo. Cabra da peste ciumento, que não deixava livre o passeio do lado direito para nenhum marmanjo tocar o fio de lã da saia tricotada por sua mãe que presenteara Ynaê.
Certo dia, solteirona e despeitada, Gorgulha pôs-se na janela a fofocar com Vivinha, a tia e vizinha despertando inversores cheios de pudores paralelos as leis do viver: “Vai embirar? É lasca ou há de sofrer? É preta com toda glória do brau essa Ynaê. Não pára de abufelar mãinha, vai abufelar a tia e o arraial sofrê. Pensa ser casa de noca, vive pra cima e pra baixo com esse ababacado, pra modo de quê?”, outra vizinha gritava: “Bamburim pebado quem jogá faz o laço, deixa o barco corrê!”
Gorgulha se apossou dos falatórios, saiu apressada até a sacada e em sua mãe foi despejar. Pobre Ynaê enamorada, ao que chegou levou palmadas e no quarto ficou a chorar, olhando as paredes cercando a sala, os três reis magos abençoando a casa, decidiu não mais ficar. Logo fugiu pela janela deixando uma carta no criado da sala onde havia um abajur.
No campo encontrou um cavalo, montou no coitado e Godofredo procurou. Ofegante e dissimulada Ynaê o beijou, abraçando-o e ao apertá-lo lhe contou: “Não podemos nos ver mais meu alvorecer. Quero muito querer, mas não poderemos mais!”. Seus olhinhos brilhavam, sua respiração acelerada, a boca suava como uma garrafa d’água petrificada ao degelo. “Quero amar você Ynaê – dizia Godofredo, cheio de desejo e de bem-querer – não importa o que digam, não pense, só sinta o que queremos viver!”.
E no crepúsculo do nascimento de Cristo, Ynaê questionou o viver, já que o sentido se perdera só de imaginar a distância daquele que lhe trouxera um sentido e o enternecer. Os amantes se abraçaram e assim ficaram olhando um para o outro, observando a noite passar. E com repente o amanhecer não tardou, o dia logo chegou e destemida Ynaê foi à lagoa se encontrar.
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Pior
Sei que as diferenças sociais existem, sei que o mercado exige horrores de cada um de nós quando participamos de uma seleção para emprego, sei que para muitas pessoas o nível de escolaridade é baixíssimo, mas, gostaria de saber por que existem exceções. Recentemente, aqui no Rio Grande do Sul, publicaram a reportagem de um rapaz que vivia em uma vila de papeleiros, ou seja, o rapaz cresceu em um meio miserável, o pai e a mãe catavam papel para sobreviver. Ele poderia ter adotado as premissas do coitadinho e sair por aí empunhando-as. Ele poderia estar lamentando e hoje ser um ninguém, mas não, ele se esforçou, estudou e conseguiu uma bolsa de estudos. Hoje faz educação física e estágio em sua área. Será que ele é alguém mais especial? Será que em seu lar os valores são outros? Nos habituamos a acreditar que as pessoas que estão em situações péssimas são incapazes de conquistar uma posição de destaque na sociedade. Alimentamos isso com moedas..., aquelas que servirão para comprar a bebida, a cola de sapateiro, aquelas que permitirão a disseminação de ideologias que contradizem a ordem natural das coisas. Para que possam viver em sociedade, os indivíduos precisam desempenhar bem o seu papel, e isso começa quando ocupamos a nossa posição de responsáveis por nós mesmos. Não há como eu, você, nós, sermos responsáveis pela conduta do outro, pelas necessidades do outro. Aliás, abro uma exceção aqui, o Estado é responsável sim pelas crianças desamparadas, pelos idosos que não tem família, pelos doentes que não tem amparo familiar.
Para que possamos buscar o bem comum, temos que evitar ser um mal para sociedade, sendo assim, rejeito esses três verbos: matar, roubar e pedir.
Outro dia, depois de ter trabalhado o dia todo, ter assistido uma aula de metafísica, aquelas discussões sobre ente e essência ainda latejando em minha cabeça, chego na parada da PUCRS e tem uma fila enorme me esperando. Enquanto aguardo o ônibus avisto o mesmo homem de todos os dias, pedindo passagem ou moedas, com o mesmo hálito de bebida destilada, com as mesmas roupas sujas. A moça que está em minha frente não lhe dá moedas, e fala qualquer coisa que, ele irritado responde: “é melhor ficar pedindo do que estar matando ou roubando”. Antes que ele chegasse em mim para me pedir qualquer coisa, respondi impulsivamente: “não roubar e não matar é um dever de todos”. Ele retrucou qualquer coisa, mas aí, a fila já estava andando. Depois fui pensando no que falei... e se ele resolvesse pôr em prática seu norteador ético? Certamente eu seria a sua primeira vitima. Por isso quando escuto alguém falando, “é melhor está pedindo do que estar matando ou roubando”, sinto que tem um bandido em potencial me pedindo moedas, sinto que se hoje ele não rouba e não mata, amanhã o fará quando lhe negarem moedas. Cada moeda dada certamente eles as cobrarão novamente. Irão sempre esperar de nós. De nós que, muitas vezes, formamos delinqüentes. Eu poderia estar matando, estar roubando, mas não, estou aqui escrevendo esta crônica para pedir mais um pouco de atenção com o ser humano. Se uma criança te pedir comida, dê comida, não dê dinheiro. Pergunte o seu nome, quais os seus sonhos, diga a ela que ela pode, diga que ela um dia será alguém importante e só fale em coisas boas. Muitas vezes um bom motivo para “Ser” já é o bastante para alguém alcançar o sucesso.
domingo, 19 de agosto de 2007
Jogos
Você acha que sabe
Com suas armas e jogos
mas deixarei você na linha
perdendo todo o seu tempo por nada
No seu mundo
Você não sabe o que há
Cada um tem que ser o que é
E você tenta manipular
Observarei os seus passos
O movimento do cinismo
Nos olhos da traição
Você se envenena no seu próprio ódio
Eu estarei aqui
Assistindo na platéia
Você perder o seu tempo
E ser sufocado pela sua ira
sábado, 18 de agosto de 2007
Making Off
Enquanto me entretinha apresentando o elemento em questão (para usar o jargão policial), eis que uma outra personagem sorrateiramente adentrou os imensos estúdios “Faz de Conta”, onde o primeiro relacionado estava, como já disse, se entretendo com boa leitura. E isto é uma coisa muito importante; a leitura abre horizontes quase ilimitados; Canis lupus da silva (seu nome de batismo) descobrira isto bem cedo. Pois bem, a sorrateira visitante veio chegando de mansinho e quando estava prestes a surpreendê-lo foi agarrada por um par de mãos fortes:
- Ahá! Pensou que podia ludibriar a segurança!
- Calma, deixa eu só trocar umas palavrinhas com “seu” Lobo.
- Você sabe muito bem que mister Lobo não dá entrevistas.
Impressionado com a coragem da garota, uma bela repórter de cabelos negros, ondulados como um dia de mar agitado, possuidora de belos lábios carnudos e uma voz instigante, o astro das fábulas levantou os óculos interessado:
- Pode deixá-la, Arlindo.
- Mas mister...
- Tudo bem, sei que você está fazendo seu trabalho, mas esta jovem também está. E acho que será benéfico trocarmos algumas impressões, nem que seja em off.
O guarda, embora relutante, acatou o pedido. Vai entender estes artistas, pensou enquanto se afastava meio emburrado.
- Olha, não me tenha por uma paparazzi qualquer. Trabalho para o “Além da Lenda Post” e me pediram que lhe fizesse algumas perguntas.
- Você é uma foca, não?
- Como você sabe?
- Bom, como o Arlindo disse, não sou chegado aos microfones ou gravadores.
- Mas isto têm algum motivo em especial?
- Bom, seu comportamento já o demonstra.
- Meu comportamento?
- Claro, já está me interrogando – riu de maneira afável. A garota enrubesceu.
- É, acho que você têm razão. Se quiser, posso me retirar.
- Não, fique. Acho que já está na hora de colocar alguns pingos nos “is”, além de lhe ajudar a dar uma lição ao seu chefe de redação.
- Qual lição?
- Que a peça que ele queria lhe pregar, vai sair pela culatra. Bom, aproveite bem as perguntas, porque elas serão poucas. Aceita uma bebida? – Um sorriso se insinuava.
- Quer dizer que vai me deixar entrevistá-lo?
- Uma pergunta a menos. Suco ou champanhe? Ah, a partir de agora, podemos passar para o modelo de entrevista, assim você poderá se sentir mais à vontade.
A.L.Post - Suco, por favor... Então, como o senhor começou sua carreira?
Lobo Mau - Você, por favor – Após servir o copo da repórter, voltou a acender o cubano.
A.L.Post - Ok, como você começou sua carreira?
Lobo Mau - Deixe me ver. Venho de uma alcatéia grande, do interior, mas apesar de sermos muito chegados e termos basicamente as mesmas vontades, vi que aquele negócio de sair como um lobo solitário, uivando nas noites, até formar minha própria alcatéia era meio arcaico. Decidi me dar um tempo, enquanto aproveitava esta época que é muito importante na vida de um macho alfa. Comecei a fazer teatro por conveniência dos costumes, pois geralmente temos que atuar para vivermos em comunidade, daí para o cinema foi um pulo.
A. L. Post - Mas como um ser tão mau como você conseguiu se infiltrar neste meio?
Lobo Mau - Uma das muitas calúnias atribuídas a minha pessoa neste negócio. A propósito, poderia suprimir este “mau” no meu nome? Chame-me de Lobo, a partir de agora. – O aceno de cabeça da repórter indicou que ela atenderia.
A.L. Post - Mas de onde advêm isto?
Lobo - Bom, em geral, no começo da carreira somos obrigados a aceitar papéis que não nos agradam, ou a fazer alguns tipos de produção que nos envergonham no futuro. É o caso da Ovelha Negra. Na falta de oportunidade, fez uma ponta em um filme pornô, o que lhe granjeou a alcunha pela qual é conhecida. Acho que foi por causa da roupa de couro, da máscara e daquele chicotinho...
A.L. Post – Quer dizer que tudo neste mundo é encenação?
Lobo - Bom, uma boa parte. Mas reitero que somos seres tão normais quanto quaisquer outros.
A.L. Post – Mas e aquela estória da Chapeuzinho e da Vovó? É verdade que assediou a garota durante as filmagens?
Lobo (pensativo)- Um dos meus melhores trabalhos...(pigarro) Veja bem, o que saiu na imprensa na época foi para dar mais visibilidade ao filme. Cheguei, sim, a sair uma ou duas vezes com a Vovó (que na verdade só é mãe), mas como bons amigos, entende? A Chapeuzinho era uma criança na época, seria até um crime. Se bem que, agora, passado tanto tempo, é triste ver alguém que prometia tanto estar atolada em produções um tanto quanto “duvidosas”...
A.L. Post – Que tipo de produção?
Lobo - As da Ovelha Negra... Mas cada um com seu cada um, não?
A.L. Post – E as acusações do Lenhador?
Lobo - Ah, quem levaria a sério um cara que mata árvores para viver? Sou do Greenpeace, tenho sérias reservas ao comportamento daquele senhor.
A.L. Post – Mas o Pinocchio corroborou o que ele disse.
Lobo - Acho interessante aquele cara de pau tomar partido dele. Um sujeito feito de madeira concordar com um madeireiro. Cheira a medo. E olha que tenho faro para isso.
A.L. Post – Falando no filho do Gepeto: Tanto ele quanto a Rainha Má conseguiram se eleger nas últimas eleições. Há rumores que você também se candidataria.
Lobo - Bom, com o nível da nossa política, acredito que os dois estão, como pode-se dizer, “em casa”. Os talentos verbais do boneco (que alguns dizem ser uma marionete, embora eu não tenha uma opinião formada sobre o assunto), mais os poderes especiais da Rainha, dão a ambos ótimas condições para se manterem entre seus novos pares. O que acho difícil é o primeiro cumprir as promessas de campanha e a segunda não fazer desaparecer parte do erário. Mas se assim agirem, não estarão sendo tão diferentes dos que lá se encontram.
A.L. Post – Uma última pergunta: e o coração deste canídeo, como vai?
Lobo - Semana passada fiz um eletrocardiograma, está melhor a cada dia, segundo minha enfermeira particular.
A garota desligou o gravador, após um lento cruzar das belas pernas, agradeceu:
- Seu Lobo, nem sei como lhe agradecer!
Um sorriso largo, que cobriu toda extensão da imensa boca descortinou-se, ouvidos em pé, olhos fixos no alvo, passou um dos braços pela cintura da repórter e deu uma piscadela, das mais safadas:
- Pode deixar isso com o Lobão aqui. Você está em boas mãos...
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Pequena Reflexão
Resolveu então abrir um livro. Definitivamente, a melhor viagem era aquela para dentro de si mesmo.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Manchete
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Dai-nos
E os anos pelos meus dedos.
Enquanto milhares
Oravam a Ave Maria,
Eu me prostituia,
Com a cara e coragem...
E amontoava o pão de cada dia.
Profana sacanagem.
Que bobagem!
Me
sábado, 11 de agosto de 2007
ebook Estrada para o Infinito e ezine BDE
A palma da mão branca
A palma clara da mão
faz do homem irmão
e esbofeteia com precisão
Em todos é branca
mas a igualdade manca
falta a unidade franca
Esta branca mão
é paz
ou rendição?
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
in.quie.ta.ção
Me abrace
Enquanto ainda sou moça e
me torça o pescoço
(não precisa ser com força,
basta quebrar o osso)
não quero me ir de cansaço
nem quero me ir de doente
(de fígado, de rim, de baço)!
prefiro ir de repente.
não quero morrer numa cama,
sofrendo com a dor me fazendo calo
que seja de queda
de quebra
de tiro.
prefiro morrer de estalo
faz bem mais
o meu estilo.
quero um piscar pra morte breve
que não passe
do espaço de um soluço
pra mim tem morte certa.
não quero morrer na siesta,
prefiro morrer de susto.
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Invencionice Literária
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Tome Nota
Tomar três banhos por dia: pra sentir que a natureza não mendiga suas posses.
Gritar dentro do armário: pra ouvir os ecos de nossa própria consciência.
Chorar dentro de um copo: pra não esquecer os motivos que nos emocionam.
Massagear os pés: pra perceber que somos nós mesmos que nos impulsiona para frente.
Despejar o lixo: pra levar pra fora as dores e os males da alma.
Sorrir para o gato de porcelana: pra lembrar que você é uma pessoa normal.
Ler bulas de remédio: pra descobrir como somos frágeis.
Tome nota do que você precisa fazer, mas faça apenas o que te faz melhor.
domingo, 5 de agosto de 2007
Sermão do Tempo
O tempo passa por mim,
Mas eu não o percebo.
Quando ele me diz:
- Caro infeliz,
Esquece-me!
Apaga-me da tua mente,
Pões fora teu relógio;
E abraças as horas
Que correm o seu curso lógico.
Não queiras fazê-las parar,
Nem, muito menos, mais rápido andar,
Apenas por um pedido
Infantil, desesperado,
Teu.
Saibas que elas não se curvam
Nem ao pedido despótico
De Deus.
Acaba-se assim o sermão do tempo.
E eu, que apenas percebi
A linguagem suave do vento
Espero-o ainda.
Ele se cansa e passa.
Infeliz por sua língua
Incompreendida.
- fado de toda
linguagem divina -
André Espínola
sábado, 4 de agosto de 2007
Máscaras
resgatei pedaços
de máscaras deixadas no tempo
por restos rasgados de eus do passado
sentimentos postergados
folhas dilaceradas,
molhadas por tempestades escuras
queria navegar
pela razão que flutua
em mares além do horizonte
deixada em sustento ao pranto
que cegou-me os olhos
como vendas de encanto
em desatinado reencontro
floresci como hibisco roxo
e fiz-me exalar perfume ao vento
serenando corações petrificados
ofereci alento
hoje tenho a máscara do contentamento
que pulsa num sorriso
esbanjando adolescência
de saber-me livre das amarras da existência
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
A fábula do vidro e do tijolo
pela vidraça vê-se o muro
vê-se furos
no paladar!
não há o que se esconda
e se oponha
à dor de fronha
e a amores de chafarizé
tudo tão caro
que o metal não pode pagar
beijara teus tijolos
e ainda trazia na língua
os esporos alheios
enganando-se cotidiano
e os olhos secos se fecham
na esperança da chuva
da fonte na praça central.