Julho. Feio está… o duelo todos os meses é
adiado. Os contendores são já vítimas de gozo público, ficam amigos.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
sábado, 26 de julho de 2014
Análise Crítica II
- Olha, filho, veja bem. Seus
textos não são ruins. Mas ...eu não sei. Acho que você poderia mudar seus temas.
Escrever sobre coisas que as pessoas querem ler. Não sei. Talvez escrever sobre
coisas fofas. Sabe?
- [Ele coça o queixo, olha
para os pés – precisa cortar as unhas dos dedões - põe as mãos nos bolsos da calça] Coisas
fofas, mãe? Bom... Eu poderia, então, escrever um diálogo com filhotes de
tartarugas... É. O que você acha?
- Uhn... Filhotes de
tartaruga. Eu acho que coisas fofas talvez não seja o seu filão. Vamos pensar
em outra possibilidade.
sexta-feira, 25 de julho de 2014
A face por trás da máscara
![]() |
Ilustração: Ivelin Trifonov |
A chuva, fraca, respingava morna em seu rosto magro, de semblante abatido. Sentia o calor embriagar-se até o coração. Sem delongas fugia. De algo, de alguém e de si. Percorria a penumbra de uma rua assaltada pelo pavor da madrugada. Uma noite fragilizada pelas badaladas de horas vagarosas e impertinentes. Sob as gotas pesadas rastejava os pés sem rumo, sem direção, carregando em suas mãos a culpa pelo ato desvairado e descomedido.
O coração palpitava quase sonolento, sofrido pela tensão suscitada há pouco. Tremia com o frio que preenchia o íntimo. As nuvens se recolhiam como uma cortina fechando o espetáculo. Conclusão épica, mas trágica; um desfecho como o fim de uma leitura, onde o fim não agrada; de um dia retirando-se, em trovoadas, para a noite comparecer. Era o fechamento de um ciclo. Abrupto. Revelador. Assustador. Seus dedos convalesciam diante do que restou. Não havia alento. Só dor.
Os passos lhe conduziam até o mirante. Mas ele sentia ir ao inferno. Mais do que quando vira. Os nervos explodiam. Mas não como antes, em cólera. Agora era de impotência e apatia. Era o resultado de um ser acometido pela adrenalina de vestir o rosto com uma indelével mácula. Sua feição era outra, era a de alguém escalpelado, com a máscara caída, com outra face construída por um vil momento; um fatídico acontecimento que o traumatizou.
Parou diante da sacada do mirante. O rio brilhava em reflexo com a luz estrelada da noite. Os olhos culposos refletiam a dor de outros olhos que o fitavam estáticos, chorosos. A imagem que ali ficaria eternizada. Seu choro era contido, engolido pelos soluços fortes, impávidos e sem ritmo. As estrelas não entenderiam o alcance de sua consternação. Faltou hesitação e medo, um receio que o impedisse. Mas ao vê-los, ao flagrá-la, o ódio permeou suas veias, desabando qualquer máscara humana que ainda lhe cabia.
A cena se repetiu pela sua mente em segundos. A culpa que lhe abraçava tinha toneladas. Arrependera. Sua nova face, antes oculta pelos demônios, formou-se no sussurro de um peito amargo, de uma tentação malévola, atendida na pressão da dor. Com um tiro matou o amante. E em segundos que pareciam séculos, matou a mulher de sua vida logo após, a quem lhe contemplara como se pedisse misericórdia. Segundos horripilantes para quem caiu em si minutos depois ao ver o sangue de sua amada. Abraçou-a em uma fúnebre despedida e disparou em fuga, ensandecido.
Agora diante da sacada do mirante, chorava pela face do desespero. Ouvia ao fundo a sirene de polícia. Nenhuma prisão seria mais dolorosa do que a imagem que ficara de lembrança. Num ato consciente, mas vestido em loucura, apontou a arma em seu próprio rosto. O cano entre os olhos lhe afundava na alma. Não hesitou. O som ecoou pelo horizonte. As estrelas cintilaram, testemunhas de seu próprio julgamento. O rio levemente se ondulou e pássaros próximos, assustados, alçaram voo para longe. E o mundo viu um homem se matar pela face que ele nunca queria ter desmascarado de si mesmo: a da vingança.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Oceano
Tudo é efêmero
diante do mar
navegadores,
sereias, tritões
o encanto
dos celacantos
a
cor dos corais
Nada dura diante de
suas dunas
grandes impérios, conquistadores
A memória não sabe
nadar
sofre de enjoo, é
presa fácil
em tempo de
tempestade
Só pra nos lembrar
(que tudo é efêmero
diante do mar)
o mar o mar o
mar
sobe as encostas
encharcando as
nuvens
alterando a geografia
do ar
quarta-feira, 23 de julho de 2014
quarta-feira, 16 de julho de 2014
domingo, 13 de julho de 2014
desaforismo 10: A busca do sentido
A busca do sentido é o próprio sentido.
Para evitar a lucidez da loucura, busque uma ilusão, um fanatismo, algo que preencha o vazio dos dias.
Trabalho, Família, Religião, Política, Diversão, Arte, qualquer coisa serve para tornar mais leve a espera.
sábado, 12 de julho de 2014
Domador de demônios
Deito em minha cama e milhares de pequenos demônios
infestam-me as ideias, o travesseiro e o canto escuro do quarto.
Ando cautelosamente até o som, ligo-o e volto para a
cama; Com a música, ao menos, eles dançam.
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Dama arqueira
Vem da terra do fogo
limpando tudo de ruim
vigia sobre a pedra
usa um vestido carmim
Seu arco é temido
sua flecha nunca erra
nunca recusa um pedido
se a causa for correta
Usa uma pedra jade
tem olhos verdes sem fim
adora receber flores
com cheiro de jasmim
Cabelos sempre soltos
ouvidos sempre alerta
nunca temerá o perigo
quem for amigo dela
Joakim Antonio
Imagem: Fire by ursrules1
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