terça-feira, 28 de setembro de 2010

Le Vents









ainda não sei ler o

silêncio

mudas árvores

escutam os

ventos mas

os ventos

o que sabem sobre

o

verde

?

silêncio


- Graça Carpes -

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Jesus

foto rafael nolli

1

Senhor, cantá-lo exige prudência.

Senhor, não: Jesus! Prudência...


Mulheres tremem ao imaginá-lo

e homens se contorcem de medo –


se enfurecem por ti. Por ti são

capazes de tudo, com fúria.


Não os quero diante de minha casa,

ou sobre mim, com suas tochas.


Prudência para não despertá-los,

ajoelhados na primeira fila –


bebendo a palavra suja de kolynos,

encharcada de vinho barato.


2

Estavam equivocados sobre a sua palavra.

Sequer leram os livros. Ouviram


de um profissional, ingênuo do latim:

um animal diante do arado


sendo chicoteado por outro animal:

numa estrada reta, sem cruzamentos.


3

E que não fosse por outro animal.

A palavra em si já trás o equívoco:


abades que excederam no vinho e

se distraíram com ilustrações proibidas;


poetas pequenos, insignificantes,

maus tradutores a serviço do estado.


Para cada povo a palavra tem um peso.

Cada uma, sua carga – nada nos diz algumas:


estão na boca diariamente, já sem sabor,

como chiclete repetidamente mastigado.


Algumas não entendemos.

Outras nossa compreensão estraga.


Estão feridas, cobertas de pus,

muitas sequer foram germinadas.


O equívoco (talvez!) resida no fato de

nenhuma ter saído de sua boca.


Gritam, na rua, em seu nome,

algumas que você sequer conheceu.


4

Quando criança, seu nome pichado no muro –

em neon reluzente, gritando na face das igrejas.


Quando criança, sua marca no quadro-negro,

em adesivos no vidro traseiro dos carros.


Quando criança, sua palavra no rádio,

no pára-choque de pesados caminhões.


Quando criança, sua imagem no quadro:

no quarto de minha avó, um pouco vesgo.


Lembrava um dos generais de Hitler

ou um modelo das propagandas de cigarro.


5

Um homem melhor do que eu,

maior que todos nós juntos.


(O que não é grande coisa,

nem fato de extraordinária façanha)


Um homem, ouso dizer. Apenas isso.

Prudência, o poema exige. E me calo.


*

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Decifra-me

foto: http://l-netz.deviantart.com/gallery/


Eu mesmo já fui muitos em um só. Num único dia, cada pedaço meu, um mundo diferente. Tomei sol e chuva, inflei no vento; comi e bebi quanto pude; cada passo à seu tempo. Um mundo diferente a cada instante, não só em mim, mas em todos. Quantos perambulam por aí e não sabem disso? Uma humanidade inteira e tantos mundos diferentes, basta olhar! Cada qual tem seus próprios pensamentos, e um pensamento é um mundo particular, não há como lhe pedir as chaves, tão pouco arrombar as portas para espiar o que vive lá dentro. Eu mesmo sou tão pequeno e tenho tantas histórias, mas diante desse esquecimento caprichoso, de pessoas e fatos, me sinto como uma partícula de meus infinitos mundos, a cada vez que abro meus olhos. E dentro de minha cabeça vivem tantos seres imaginários, que ainda que eu tivesse muito tempo, não os descreveria com a exatidão que merecem. Eu, que já fui tantos, e de tantos outros, hoje só quero ficar no escuro, e aquecer meus pés, pois já não me apetece mais nada. Sempre fui das sombras, agora sei, que fui um ser obscuro e de múltiplas faces. Só quero me aproximar do fundo do escuro, do fim da noite agourenta, e criar mais mundos diferentes em meus sonhos. Eu que sempre mantive os olhos fechados e ainda assim via tantas coisas, não me considero mais um nesse mundo de todos, deve haver algum sentido em tantos sinais, em tanta gente que anda ao meu lado e também leva dentro da cabeça seus mundos ordinários. Eu mesmo nunca dei importância para as criações alheias, como queria que me acendessem holofotes e me estendessem tapetes vermelhos ao passar? Meu caminho é de torturas e carrego comigo meus personagens, a fim de dar-lhes vida quando menos esperarem, e quando eu mais precisar fugir e me esconder de mim mesmo.


*** Também publico aqui: Milonga - Ideias

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Manhã de vento e frio em Copacabana






















Domingo de maio, azul e ventoso, mar agitado, em Copacabana. Manhãzinha, caminhava pela calçada, quase vazia. Sozinha. Pensando nas coisas da vida. Na vida como ela é. Na falta de Nélson Rodrigues, em silêncio, sentei ao lado de Drummond. De costas para a avenida, de frente para o imenso mar.
O mar sempre me fascina e apazigua, sem sentir, disse em voz alta. Ainda mais agora, com tantos amigos que vez em quando, do outro lado, à beira-dele se sentam e, com carinho, me buscam, me olham.
De onde você é? me perguntou, sorrindo, o poeta. E eu, me perguntei qual foi a última vez que vi uma estátua sorrir. Talvez tenha sido Adriano, ou Atena, não em Roma nem na Grécia, mas no Louvre, em Paris.
Do Recife, respondi.
— Poetisa, decerto. Ou prefere que eu diga poeta, como agora se usa dizer?
— Prefiro poetisa, sem ofender a língua, embora a palavra poeta soe muito mais bonita. Mas, a bem da verdade, sou médica.
Ele riu. E eu me aconcheguei um pouco mais, no casaco azul, de linha fina que mal me protege do frio.
— E os seus poemas, quem os escreve? A médica?
Touché, pensei, sem querer dar o braço a torcer.
— Com certeza. Pois que a médica e a poetisa não são uma única pessoa?
Touché, ele respondeu, como se me lesse o pensamento.
E ficamos os dois em silêncio. Ele olhando para a avenida e eu com os olhos molhados de tanto mar.
Que diabos estava fazendo ali, sozinha, num domingo de manhã, conversando com uma estátua? Tudo bem que era a estátua de um poeta, mas ainda assim, uma estátua. Será que a solidão se me chegara a tal ponto? E o vento soprou mais frio.
— Posso lhe perguntar uma coisa? A voz do poeta me roubou aos pensamentos.
— Certamente. O que quiser.
— Tem algum poema meu que toque fundo o seu coração, que esteja entre os seus preferidos?
Pronto! Era só o que me faltava! Por que tinha que parar e me sentar ao lado dele? Não podia ter seguido meu caminho, com um simples Bom dia, Drummond, ou ainda sem nada falar? Mas não, tinha que sentar, procurando sarna para me coçar. Tinha encontrado. E agora, que diria? Nunca fui muito fã da sua poesia, poucos poemas seus me comovem e não lembro de nenhum? Mas, se serve de consolo, é-me exatamente assim a poesia de Pessoa? Nem morta!
Ele me olhava, com um esboço de sorriso no olhar, por trás dos óculos, como se me adivinhasse o pensamento.
— Não lembra nenhum? Ou não gosta de nenhum?
Ele riu e eu pensei que detesto estátuas falantes.
— Não é que não goste, é que, sinceramente, conheço pouco a sua poesia. E assim, de supetão, só consigo lembrar dos mais comuns, de José e o da pedra, que não são meus preferidos e dos quais você já deve estar um pouco saturado.
Ele riu alto, como nunca pensei que riria. Aliás, nunca pensei que ele risse. Nem em vida.
— Boa saída pela tangente. Além de poetisa e médica, vai ver, você é geminiana.
Foi minha vez de rir. Alto e bom som.
— Sou, sim. Então...
— Então?
— Então, melhor deixar de bobagem e falar claro.
— Muito melhor, com certeza.
— É que realmente conheço pouco a sua poesia. Conheço muito melhor a do seu amigo Emílio Moura. Ela me fala mais perto, como se me lesse. Ao contrário da sua, que, desculpe a franqueza, quase sempre pouco me diz.
Ele me olhou com carinho, pôs a mão sobre a minha e disse:
— Não há o que desculpar. Eu sempre disse que Emílio era o maior poeta das Geraes. E a Poesia é assim, tem muitas vozes. Uma para cada poeta. Uma para cada leitor. E como dizia o Nélson, em quem você pensava quando aqui sentou, toda unanimidade é burra, não acha?
Que alívio!, pensei, rindo. E lembrei de uma conversa entre poetas bem vivos, que tivera uns dias antes. Onde se falara sobre a grandeza da Poesia. Sobre o seu ir além de picuinhas, além dos rótulos. Sobre o seu abrigar tantas formas e fórmulas, díspares, diversas entre si. Sem julgamento. Sem discriminação. Sobre ser o fazer poético fado e sina. Modo e necessidade de sobrevivência, como o respirar.
— Melhor você ir andando. Começa a chuviscar.
De novo, a sua voz me roubou aos pensamentos.
— Estátua não se importa com chuva, frio e vento, mas poetisa nordestina e viva pode adoecer, se resfriar. Mesmo sendo médica.
Ele tinha razão. A chuva engrossava. Beijei a sua mão e me levantei.
— Obrigada, Poeta. Tornou minha manhã menos só e mais feliz.
— Eu que agradeço. Há muito não conversava assim. Posso fazer um pedido?
— Mas é claro! O que quiser.
— Quando voltar para casa, numa noite qualquer, leia aquele meu livro branco, que seu amigo Oswaldo recomendou, você comprou e nunca o leu.
Nem sei se fiquei vermelha, ou se bege, empalideci, naquele frio. Sei que por dentro, sorri. Touché, again, pensei.
— Leio sim. Prometo. E quem sabe, venho aqui para conversamos sobre ele. Numa manhã de sol. Menos fria.



Márcia Maia

domingo, 19 de setembro de 2010

Confidências & Considerações

1- quando me chamaram pra escrever aqui no blog eu escolhi dia 19, mas nunca escrevo no dia 19 porque eu esqueço. tenho que escrever antes, na primeira dezena do mês, entre o dia 1 e 10 (11 nunca, eu disse, de 1 a 10), e aí eu programo e fico esperando e isso me dá uma puta ansiedade com gastrite. tenho que voltar a escrever no dia 18. marcar na agenda, no relógio, sei lá.

2 - quando um cara não te liga é porque ele realmente não quer nada com você. sem essa de pensar que a avó morreu, que ele bateu o carro, ou que ele e a avó morreram num acidente de carro. vá para a cozinha, prepare um brigadeiro de panela e seja feliz.

3 - quando algo ruim acontece e a gente está com algum amigo altamente espiritualizado super up pop cool que ganhou todas as extra balls nos joguinhos da sociedade contemporânea, ele sempre diz que a gente merece a merda que nos aconteceu, ou que atraiu isso, ou que emanamos algum tipo de energia para o mundo e a resposta foi essa e blábláblá. se alguém descobrir que energia eu tenho que emanar pra afastar gente idiota, me fala.

4 - eu não sei se isso que escrevi pode ser considerado literatura, que é logicamente a intenção do blog, mas nas aulas com o Cristóvão Tezza ele dizia que até bula de remédio podia ser considerada como tal, eu particularmente gosto muito de ler bula e rótulo de shampoo e imaginar o que as "inas" e "onas" fazem no meu estômago e no meu cabelo ou o contrário, depende do dia é claro. se alguém se incomodou com o teor literário do texto, então vamos contextualizar que é um estudo sobre a prosódia bop do Kerouac, ou então uma reflexão típica de inferno astral desconjunturado premeditado por um bode místico que me telefonou lá do Tibet e disse que tinha que ser assim.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Fábula




O médico da floresta dá uma péssima notícia para a dona porco-espinho, grávida de seus primeiros quíntuplos.

O parto seria natural.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ANTOLOGIA BAR DO ESCRITOR - EDIÇÃO 2 BRAND

Estou vendendo a 6 reais, já inclusas as despezas do correio normal.
email para pedidos: flavia_perez@hotmail.com

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Não era de verdade


Acorda, mãezinha, não era de verdade. O pai só tava brincando com o facão.

domingo, 12 de setembro de 2010

Engano

- Alô!

- Boa tarde, o senhor Seixas encontra-se?

- Quem quer falar com ele?

- Falo em nome do Banco Rio Sul.

- E por que é que não pode falar comigo?

- Desculpe-me, senhora, mas devo falar diretamente com o senhor Seixas.

- Olha aqui, mocinha, tudo que é do interesse do Alberto é também do meu interesse. Saiba você que sou a senhora Seixas e que, apesar de ainda não ter passado tudo no papel, somos muito bem casados!

- Peço desculpas novamente, mas eu preciso falar com o senhor Seixas, temos alguns assuntos para resolver e, para isso, preciso que ele confirme alguns dados, senhora.

- Não me chame de senhora, mocinha. Eu devo ter quase a sua idade!

- Desculpe, mas foi a senhora...

- Senhora não!

- Desculpe. Foi você que me disse que era a senhora Seixas.

- Era e ainda sou!

- Tudo bem, mas, ainda assim, preciso conversar com o senhor Seixas.

- Mas quanta insistência, trate logo desse tal "assunto", seja ele qual for, comigo mesma. Afinal de contas, o que é que você precisa? Deu algum problema no cartão? Alguma coisa nos investimentos? O que foi?

- Trata-se de uma dívida, senhora.

- O que foi que você disse?

- Desculpe novamente, não tive a intenção.

- Não, não isso. Você disse que tem uma dívida?

- Sim, senhora! Eu trabalho na área de cobranças. O saldo devedor do senhor Seixas está acima do tolerável pelas políticas da empresa há alguns meses. Por isso estamos ligando para informar que os cartões serão suspensos se não negociarmos esta dívida.

- Ah, mas isso você que resolva lá com aquele traste. Eu não tenho nada a ver com esse sujeitinho!

sábado, 11 de setembro de 2010

Vida de mentira


Na insegurança da adolescência
mentiu idade
para conseguir emprego
onde morava
pelo preconceito
sobre o trabalho
para não virar piada

Já homem feito e livre do medo 
continuou mentindo 

Para as crianças
pela alegria
aos adultos
para relaxarem
à velhinhos
para relembrarem

Chegando no fim da vida
ainda assim mentia

Se dizendo saudável
para não lhe pararem
com o coração forte
mas aos poucos morria
por fora chorava
mas por dentro sorria

Morreu no fim do espetáculo
segurado nas cortinas
enquanto o povo aplaudia de pé
achando que ainda vivia

Joakim Antonio

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

nem a nem b nem nada


cousins by Jrwooley6

(ó)lho e o (ô)lho dói; é de mim que falam não não é. corro e continuo ouvindo suas vozes toscas – grito, fixo, estaco. bebe um pouco mais, goza um pouco mais. Ri-se toda, foge. Fujo eu. Cá estou no centro do peito e um acorde baixo desce melancólico pela garganta seca.
escarro, normal, no meio da festa. essas mulheres estão gozando com minha cara. eu pego a bandeja de copos e cuspo em cada um deles. Elas pintam suas bocas grossas e exibem suas línguas sujas. eu corro, corro mais, elas me perseguem.
talvez você não saiba do que estou falando mas é disso mesmo, um nada, um tapa na minha cara de tanta verdade misturada. odeio esse dia, quero ir, e quanto mais eu grito, mais quieta fico e essas pessoas estão rindo como se o mundo realmente não fosse acabar amanhã.
tem um tambor ecoando na minha cabeça e o som da guitarra se torna mais forte, doloroso, tem sinos nos meus tímpanos. eu quero pular, mas hoje não posso. eu me infernizo com os fantasmas que insistem em permanecer vivos. Estaco, paro. (ó)lho um (ô)lho morto, ele olha para mim e abre caminho a machadadas em meu corpo. Eu tremo. Vou me abrindo e me dissecando, caio.
Sou eu ou é você? minha essência está escorrendo pelos meus ouvidos e pelo meu sexo latejante eu sofro eu suo eu mijo eu sonho eu vomito. Você continua parado a me olhar. num ímpeto pulo, danço sobre mim mesma e há essa guitarra que me arde em cada toque nas cordas.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

É inútil a palavra

É inútil a palavra

Aflorando das murchas manhãs de inverno
Rasgando a carne de nomes que se confundem
A outros nomes e almas que se dissipam
Na neblina turva do ar sepulcral
Que se eleva
Na orla intangível da vida.

É inútil o verso
Travestido de incongruências e dissonâncias
Que escapam entre os dedos
Transbordando medo e insônia
Tédio da vida escassa de anseios
Que perpetua a inalterável
Transposição rotineira das horas.

É inútil a poesia
Impregnada do ocaso dos dias cinzentos,
Seu sopro morno nas têmporas
Rotulando o caminho impreciso
Em tempos de angústia e espera
Lamento intenso – quimera –
Por ver toda a vida perdida.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Segurança

quando eu abro esta janela no meu quarto
pelos vãos das grades vejo só um muro
tendo pouco mais de dois metros de altura
de tão próximo parece bem mais alto

um cenário de metal e de concreto
a paisagem cinza fora e cá de dentro
mais ferragens, fechaduras, mais cimento
isolando minha câmara secreta

artefatos para paz e segurança
cerca elétrica, asseguro mais distância
entre ser que se aproxima e o olho mágico

um alarme, disparando ao movimento
cães vorazes, furiosos, sempre atentos
protegendo o que me resta com meu máximo.

sábado, 4 de setembro de 2010

Do teu silêncio

Do teu silêncio
tão profundo
sobem ondas de agonia
revela almas amordaçadas
presas com pedras aos pés
querendo gozar

Em têmporas, suores fervilham
e eu te fito, buscando resposta
mas resta-me apenas sentir
a angústia
das tempestades em minhas vísceras

Caroline Schneider

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

miniconto


jogou a toalha molhada mas errou. acertou a cunhada absorta na
novela das 8. atravessou a rua. não voltou. na varanda, elas em
silêncio, lembram dos passos brincalhões dele. principalmente em dias
nublados.




foto e texto isaias de faria

quarta-feira, 1 de setembro de 2010
















Caia a noite!
Caia sobre as colchas de quem dorme
Permeie os sonhos com o albor onírico,
Com prazer eterno
Num sonho efêmero,
O gozo veneno
Num corpo moreno
Ao som dos cantos sacros
Oh, negro véu que arrebata
As últimas gotas de sol
No horizonte,
Caia sobre os ombros de quem ainda
Está de pé,
Caia sobre os seios da mais
Linda mulher,
E faça com que seu êxtase
Seja infinito,
Como o imenso Universo sombrio
Que envolve a vida e a morte
Num laço ínfimo e eterno
Noite da vida,
Na vida de morte.
Manhã que tarda,
Manhã que não vem,
Noite caída nas coxas medidas
Nos sonhos obscenos
Segura nos ombros serenos
Descansa, em seios incandescentes.