domingo, 30 de maio de 2010

Putaria

Sou um puto
fundendo Esperanças e Ânsias
nesse puteiro Mundo.

No Programa Desumanitário Federal Otário Mentiroso Miserável
já sou uma puta
sendo fudida por tristezas e empresas.

& tô puto da vida
c/ a puta merda dessa Politica
que fode tudo
e me deixa com um puto no bolso
e fode até a puta que me pariu,
a saber a Terra Brasil.
Tô puto
mas que se foda o silêncio
o desânimo
as regras
as tristezas
porque sou um puto
e continuarei transando
c/ as Esperanças e as Ânsias
até gozarmos da alegria,
da vida.


sábado, 29 de maio de 2010

TORPOR


♂♀
Acordei. Meus olhos aos poucos se habituando ao lusco-fusco daquele fim de tarde, fim de domingo, fim de um sono de dois dias. Das janelas do quarto de paredes nuas eu podia ver a chuva caindo. Faz calor, apesar da chuva, um calor sufocante. Ouço o som da televisão ligada no outro apartamento, algumas vozes abafadas e o tilintar da chuva na cobertura da garagem. O telefone toca e eu tateio tonta em busca dele. Atendo. Não morri afinal.

– Alô.
Minha voz me parece surpreendentemente firme.

– Oi. Esqueceu?

– De que?

Pergunto enquanto levanto meio trôpega e nua.

– De mim.

– Parece que sim.

– Vem me ver?

– Pode ser.

– Quero te ver.

– Sei que quer. Apareço depois.

Desligo sem esperar resposta. Lá fora tudo me parece calmo e ameno como a paisagem de um filme ou de uma fotografia antiga. A chuva parece fresca. Nua e tonta, caminho pelo apartamento abafado e mortiço. O calor torna meus movimentos ainda mais pesados. O telefone toca de novo. Deixo tocar.
Olho para a cartela de comprimidos vazia, para a meia garrafa de Martini e penso que devia ter calculado melhor. Não estou mal e também não estou bem. Meu sorriso refletido no espelho parece quase convincente, pareço calma e tranqüila, nada em mim diz: “tome conta de mim” ao contrário pareço pronta para cuidar de tudo e todos.
O telefone toca e eu ignoro. Um banho rápido e me visto rapidamente também. Camiseta branca, minissaia, tênis, algum dinheiro no bolso e nada mais.
A cidade parece vazia e estranha, quase tão vazia e estranha quanto eu. Caminho sem pressa através da chuva fina, quase invisível. Preciso andar para afastar o torpor que a mistura de Martini e comprimidos tinham deixado. Era quase engraçado, não morri, mas dormi por dois dias e ninguém notou, nem ele.
Toco a campainha. Ele abre a porta sorrindo e sem falar me beija. Não penso,não falo,deixo-me beijar, deixo-me levar. Não morri. Ele nem percebe meu torpor, meu vazio. Percebe?


Rosa Cardoso

♂♀

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Legenda para filme de Sergei Eisenstein

Foto de Rafael Nolli

O poema tem que ser ácido,
não por mim,
mas por Sacco & Vanzetti –
sentados em cadeiras onde serão eletrocutados.

O poema tem que ser ferino,
não por mim,
mas pelo Líbano novamente bombardeado –
e que será bombardeado até que os telejornais
se cansem de noticiar a desgraça dessa guerra.

(Que o verso noticie as crianças confusas,
as bibliotecas cheias de poesia,
as mulheres agarradas às barbas de Maomé,
os cedros cantados pelo profeta Ezequiel –
todos excluídos das estatísticas,
pois suas mortes foram desprezadas
por não venderem jornais
e atrapalhar o comércio bélico.)

O poema tem que ver além do seu próprio umbigo,
não por mim,
que muito sei do meu umbigo,
mas por todos aqueles que amanhã
acordarão desesperados –
eu e meu umbigo entre eles.

O poema tem que ser denunciante,
não por mim,
mas por Ruanda
que na Noite dos Facões
perdeu um milhão de seus filhos
para uma fábula belga
sem príncipe encantado ou final feliz.

(Que no poema escorra o sangue dessa gente
que ainda ontem estava viva,
donas de suas mãos e
cabeças decepadas pelos vizinhos,
onde buscavam o sal
que faltava para colorir as suas mesas escassas.)

O poema tem que ser visionário,
não por mim,
que mal posso ver além das brumas do agora,
mas por todos aqueles que mesmo vendados continuam
sem dosar os passos no campo minado das cidades.

(Que o poeta saiba cantá-los
sem se esquecer dos
crimes diários que a sociedade obriga-os a cometer
[Bakunin sorri nessa estrofe!])

O poema tem que ser dos homens,
respirar o mesmo ar que eles,
chorar os mesmos mortos,
estar ombro a ombro nas filas dos hospitais
ou nas trincheiras do desemprego,

não por mim, poeta, não por mim.



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Mais poemas por aí:


* Estou na Revista Biografia do amigo Daufen Bach

* Novamente na Revista Letras Et Cetera



*

domingo, 23 de maio de 2010

Frio

Para ler ouvindo:







Sinto muito frio. Não importa o quanto eu pense em coisas quentes. É apenas frio. Pés, congelados. Pernas, imóveis. O corpo todo arrepiado. Muito frio. E se eu saísse desse lugar? Como não pensei nisso antes? Um passo. Ainda frio. Tantos outros passos, outra direção. O mesmo frio. E eu que não gostava do inverno! A vida é muito irônica. Um frio cortante tirando minhas forças. Meus lábios adormecidos. Não sinto minhas mãos. Consigo mover apenas os olhos. Tento em vão proferir uma palavra. Gelo. Muito gelo. Se eu respirar profundamente, sinto congelar os pulmões também. Todos os órgãos envoltos por uma teia fria. O pior frio de todos. Longe, muito longe, em meio à neblina gelada, há uma janela. Tenho certeza que a vi. Ou seria miragem. Como num deserto sem água. Miragem. Eu sei que havia um povoado aqui. Exatamente onde estou agora. Mas não vejo as casas. Não há pessoas. Não há calor. Nada mais pode tomar o lugar de tanto frio. Se tivesse neve, tudo bem. Mas é apenas frio. Vento enregelante. O ar está congelando, se solidificando. Quando acabar, não sei. Por que ainda penso nisso? Acabado o ar, finda a vida. Ou seria uma mutação do nosso habitat como o conhecemos? Loucura. Nunca ouvi dizer que o frio levasse à ela. Só pode ser delírio. E isso me lembra que também pode ser um sonho. Terrível. Um pesadelo. Daqueles que parecem reais. Tento beliscar meu braço, envolvido por uma névoa gelada, estranha. As pontas de meus dedos congelados não tem força. Não é como minha mãe dizia. Beliscar não resolve. Ainda durmo. Talvez não tenha sido o suficiente. Um frio surreal. Ordeno que meus pés se movam, um de cada vez, para tentar mais alguns passos. Sei que há uma janela aqui em algum lugar. Frio. Gelo. Privação dos sentidos. Ausência de calor. Meu sangue também vai congelar, eu sei. O arrepio dói. O vento corta a pele sensibilizada. Mais arrepios. Mais dor. As orelhas vão se quebrar, como vidro. Cada movimento tem que ser muito calculado. Dói. Congela. Mais alguns passos e avisto uma sombra enorme. Deve ser a casa que eu tinha visto. Tem que ser. Mais pessoas estariam congelando? Vou gritar, chamar por alguém. A voz não sai. Tento inutilmente pensar mais uma vez em fogo. Penso no sol. Penso que estou sendo queimada viva. Pensar não resolve, e congelo mais. Imaginar que estou mais agasalhada, inútil. Perco tempo e gasto as últimas energias idealizando uma cama quente, um bom cobertor. O colo de minha mãe. Mais um passo. A inércia me assusta. Se ainda consigo diferenciar emoções e sentidos, ainda posso ter esperança. Não é loucura. Mas o frio só aumenta. A dor é lancinante. As lágrimas congelam antes mesmo de cair. Gelo. Quantas vezes pensei no fim... mas nunca era assim. Desejo que seja rápido, e que eu não me lembre de nada depois. Agora sim, vejo a janela. É mesmo uma casa. Penso ter ouvido um suspiro. Deve ter sido o vento. Mais alguns passos e uma poça d’àgua. Piso sem querer e meus pés sentem ainda mais frio, congelam. Não vou resistir. E se eu encontrar alguém congelado? Devo seguir em frente. Mais passos, cada vez mais pesados. Pedras. Gelo. Frio. Se eu soubesse que isso iria acontecer. Agora não há saída. Só aquela janela. Parece haver luz. Não, mais uma miragem. Engraçado, se eu puder um dia contar isso a alguém. Mais um pouco, e eu alcanço. Salvação. Frio. Há neblina gelada por todos os lados. E mais nada. Tento alcançar a parede da casa. Nada. Ninguém. Foi minha imaginação. A loucura gelada do fim de uma vida. Quero me aquecer. E mais nada. Calafrios. Agora está ficando mais nítido. Posso ver a janela e todas as suas formas. Mas para chegar a ela, há frio. Muito frio. Cada passo parece um caminhar sobre micro cacos de vidro. Passos cortantes. Movimentos involuntários. Espasmos. Calafrios. Ouço vindo de longe a voz de Chico dizendo baixinho: “oh pedaço de mim, oh metade amputada de mim...” E é isso mesmo, o frio amputou partes de meu corpo, mas deixou a mente lúcida para assistir ao fim. A janela escura. Cacos de vidro pelo chão gelado. Cacos de frio. Um vulto pela fresta da janela. Um olhar. E ele continua cantando: “... leva teu olhar, que a saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar...” Palavras profundas, frio imenso. Arrepios sem fim. Calafrios. Sempre achei que a saudade era meu pior tormento. Mas o frio me domina. Entreva. Paralisa. Os olhos estão na janela, observam meu dilema. Tanto frio. Minha última esperança era aquela janela. Apagou a luz. Fechou. Mais frio. Mais dor. Esse frio também dói como uma fisgada num membro amputado. Meus membros foram amputados definitivamente. E congelados pelo frio. Torpor. Numa quase demência, mais um passo. E meu corpo se atira na janela trancada. Não há mais nada. Deixo o gelo me abraçar. Só consigo murmurar um adeus, quase ridículo, para o nada. Para o frio que me leva. Adeus.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Voragem

Abriu a janela e deixou que entrasse a chuva. Até que a casa-casa se tornasse casa-rio, casa-mar. Até que surgissem as primeiras algas e uma areia fina recobrisse o que era ladrilho e mármore. Até que o primeiro peixe, veloz e prateado, reinventasse prazeres e caminhos. E então, só então, adormeceu.


Márcia Maia

quarta-feira, 19 de maio de 2010

dos "maus" entendidos

Há uns bons 5 anos que ninguém me desejava Feliz Aniversário.
E aí era sempre a mesma coisa: eu colocava o celular pra despertar e fingia atender pessoas que me amavam, um amor antigo ou um familiar próximo inexistentes.

Mas naquele dia nem isso eu fiz, por preguiça ou tristeza mesmo.
Dentro do meu novo círculo social não menos insuportável que os outros, inventei que era filha única e órfã, tanto porque é quase mais ou menos isso mesmo, e aí nem tinha o que ou quem atender.

No finalzinho do dia, ele entrou no meu escritório e disse, tímido, Feliz Aniversário, querida.

Comovida, o abracei e deixei escapar um suspiro em seu ombro, até que enfim alguém lembrou, alguém viu que eu existo, pensei.

Ele, que não entendeu nada, entendeu tudo errado e pegou na minha bunda.

sábado, 15 de maio de 2010

Banquete


No meu blog
tem batatas assando toda segunda,
terça tem feijoada
de carne fumada,
orelha de livro e pé na bunda.

Abro com peixeira quem fizer piada,
mas quarta tem rabada
e quinta tem pacu.

A sexta faz fogueira
e assa canas ao sol
pra dona tem chiboquinha
pra visita brahma, bavaria e skol.

Tem baba de moça
no sábado,
quitute que não lhe cai mal.

Domingo, maminha de alquatro,
cupim queimadinho
bastante pimenta e sal.

Se rimasse melhor que cozinho
e lavasse a palavra
depois de usar
não sobrava nem um tantinho
de tempero pra rimar.

http://tudoqpuderbyblabla.blogspot.com/

quinta-feira, 13 de maio de 2010

teflon*

.
pular muros não faz liberdade.

não há liberdade alguma na fuga bem-sucedida.
liberdade é a desnecessidade da fuga.
é a fuga ser impensável, inconcebível, inexistir como conceito.

é não haver muros. 


quem não está preso ao solo não precisa de asas.

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*-Publicado Originalmente nos EcosDiversos.
(Direitos reservados, tanto lá, quanto cá.)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Remoção

Após as tragédias, iniciou-se a coleta seletiva, retirando os problemas da vista e despejando-os em algum aterro - distante e pouco sanitário

Quem reside em área de risco, diante deste cenário, nada mais é do que resíduo







ps: moradores de áreas de risco protestam contra a remoção

terça-feira, 11 de maio de 2010

Multifacetada


Cabelos molhados saindo do banheiro
ela possui a face do vento fresco
de mãos dadas a andar no parque
ela possui a face do sol da tarde
na cama em meio ao sexo e muito tesão
ela possui a face de um furacão

Em seu descanso dormindo quietinha
ela possui a face de menina
ao acordar sabendo o que quer
ela possui a face de mulher
realizando fantasias picantes
ela possui a face da amante

Mostrado as garras rasgando a roupa
ela possui a face da leoa
mordendo forte cravando as presas
ela possui a face da tigresa
desejos tamanhos que a deixam louca
ela possui a face da loba

Tempestade, sol, mulher, loba, fêmea, felina
ter todas suas faces é o que mais me excita!

Joakim Antonio

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Nada



Caminhou lentamente pelo longo corredor. Estava lívido, mas como era branco e fantasmagórico no dia-a-dia, ninguém se atentou para isso. Colegas de trabalho de um lado para o outro, equilibrando telefones, pilhas de papel nos braços, caixas, correria, barulho. Avistou o chefe através do vidro. Sentado, muito concentrado, em frente ao notebook, falava ao telefone. Não deu a batidinha usual, abriu a porta e o outro sequer teve tempo de esbravejar, como sempre o fizera, desde a chegada deste até sua demissão na semana anterior. Tanto tempo dedicado, horas extras, humilhações, tinha agora o olhar apavorado de um homem indefeso sob a mira do seu revólver. Saboreou aquele momento por milésimos de segundo. Agora ele é quem estava no comando. O tiro rasgou a testa do outro, o impacto o jogou para trás. O alívio não veio, contudo. Caminhou entre olhares assustados e vultos que agora corriam em pânico, sua mente, porém, pregava-lhe peças, podia jurar que todos riam, como sempre faziam, às escondidas, troçando de seu jeito de ogro desastrado. Desferiu outras balas à sua volta, não teve tempo de constatar se mais gente se machucara, na verdade não havia propósito naquilo tudo, as coisas aconteciam com tanta rapidez que ele nem podia se vangloriar. Foi demais para ele. Mudou de direção, acelerou o passo e voou pela janela, levando consigo uma chuva brilhante de estilhaços de seu corpo. Se o valor de uma vida era tão pouco ele não sabia, mas não poderia suportar mais. E foi pensando nisso até o chão, quando seu corpo se espatifou na calçada úmida, de uma São Paulo fria, caótica, que mal tinha tempo para entender o que acontecia.

domingo, 9 de maio de 2010

Ponto de Vista

Não nos cabe julgar
Coisas ditas no leito.

Afinal, depende do lugar
O que é ou não vulgar.
O que, noutro contexto,
Seria falta de respeito;
O que é certo ou irregular;
O quê, como, ou quando dar.

São, enfim, o dito e o feito
Apenas questões de conceito.

sábado, 8 de maio de 2010

Sopro - o poema sem fim...


Um índio morre queimado,
indefeso, dormindo.
Descaso.
Morreu.
Problema de exclusão!

Trinta morrem na igreja
de deus, do Quênia.
Peleja.
Morreram.
Problema de uma nação!

Os pais mortos a paulada
ganância, barbárie,
facada.
Morreram.
Problema de educação.

Um menino arrastado,
pela rua, para a morte.
Pecado.
Morreu.
Problema de alienação.

Uma bela arremessada
da janela, pelos ares
Judiada.
Morreu.
Problema de degradação.

Dois irmãos esquartejados
Deus do céu que
desgraçados!
Morreram.
Problema de legislação

Morrem homens todo dia
que somam-se aos índices.
Ironia.
Morreram.
Problema de coração.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Lembranças

Foto: António Barrocas


Acordo na madrugada em meio ao silêncio, o frio e a solidão e, me vejo ser transportado a outros tempos, outros lençóis. Ali, sob a luz do abajur, contemplava tua silhueta sob a camisola. Tua pele macia, teus seios a se avolumarem sob a seda. Teu sorriso enquanto dorme e, ao abrir os olhinhos sussurrando "que foi?", já sabendo o que viria a ser. Lascivamente, meus dedos percorrem seu corpo, enquanto minha boca se encontra levemente com teu pescoço e percorre o caminho até tua boca. Num beijo demorado sugamos a essência do outro, mudamos de alma, transbordamo-nos de nós. Nossa sombra na parede procura imitar-nos, embora nunca compreendam a delícia que é estarmos sós, sobre nossos lençóis. Minha língua mapeia cada pedacinho de ti, teus montes, relevos, reentrâncias. Descubro os mistérios que eriçam teus pêlos, que enrijecem teus seios e te umedecem inteira. Em desafio, tu me tocas. Desliza em meu corpo, percorre com teu véu o meu peito. Debruça sobre mim o teu dorso, roçando os mamilos em minhas coxas; suavemente me lambe, me arranha, me morde, me chupa. Retribuo com as pontas dos dedos a deslizar em tuas costas, a encontrar em tua nuca o teu declínio. Suborno-te com gestos e palavras para que me dê o que lhe dou. E, tu, sem relutar me concedes estar entre tuas coxas a lamber-lhe o sexo, a acariciar tua prenda. Ambos invertidos contemplando de olhos fechados o deleite alheio. Sussurros, gemidos. Tapas, mordidas. Em instantes estamos unidos, corpos que se encaixam no frenesi dos suspiros. De repente, desvairada, você grita: "me fode, vai... mete gostoso, meu garanhão... ahh... ahh... ui... uuuuu". E, eu, sem temer represália, mordisco teus mamilos e falo em teu ouvido: "isso minha putinha, rebola gostoso... ahh... ahh... uhhhh". Enlaçados assim, digladiamos até que nosso corpo tombe. Na pele o cheiro, o suor, o óleo a sair dos poros. E, nós, na certeza de amar-nos, já imaginávamos o próximo round, ensaiando as mesmas carícias de antes, recompondo os ânimos, nos tocando, descobrindo-nos a cada instante. Teus olhos mergulhados nos meus espelhos, enquanto eu me via espelhado nos teus. Sorriamos e principiávamos o embate.

Não sei por que a noite me roubara o sono. Talvez apenas, para trazer de volta estas lembranças. Talvez uma tortura involuntária. Talvez. Sei que não há nada que se compare, por mais que eu busque, não há faceirice como a sua ao me amar. Não encontro outro corpo, outros toques; mesmo com os desejos a flor da pele a enrijecer meus prazeres em busca da explosão. Os teus ficaram na alma, impregnados que, em outros braços, faço um eterno retorno ao paraíso que era nosso; e, acordo na manhã seguinte numa ressaca de sexo, precisando lavar-me para limpar o que macula a alma.





quinta-feira, 6 de maio de 2010

Exercício n. 2

Seguro em minha mesa,
destreza dessas de mesquinharia,
me prendo a uma vontade longa
de partir em recatadas notas.

O clarão do período imediato
abre, é fato, o corolário do tempo
e se quebra em instantes exatos
e falece em passado agourento

(quero ir)
mas.

O recato dos modos, coeso,
traça um impedimento tão bobo
de me ater, de novo, ao apego
de fazer qualquer gracejo de casta.

Embasbacado no norte dos nomes
você lá, sentada na espera
procurando um sinal, movimento,
dizendo de olhos fechados:

vá logo ou me leve consigo
vá logo ou cavalgue no vento.

domingo, 2 de maio de 2010

Poema

É quase maio
E meus dias se esparramam
Repletos de um gosto de sal
Semeados de pássaros

É quase maio
E o amor se entorta em mim
Como cavalo guernica
Rabisco traçado em tela

É quase maio
E tua boca de rosas
Exala silêncio

sábado, 1 de maio de 2010

o boi












a quase guerra duma camisa no varal com o vento, uma cerca de arame farpado protege o quintal. o mito passeia pelo paladar: é carne. nada bucólico, cru, não causa náuseas e mata a fome. no vigésimo capítulo, sob a sombra da pedra preta, Guernica pasta. é bovina a carne que dobra no prato e meu olho desprende mil farpas na direção daquela camisa suada, entreaberta sobre o peito dele. consumo a erva da beira da estrada, a mesma que alimentou o boi. Carlos dorme, alheio à refeição e ao mito.