sexta-feira, 24 de julho de 2009

Retrato Falado

Imaginá-lo pensando em um céu esterilizado, completamente
desabitado, não é exercício de muita poesia. Não há poesia
alguma em vê-lo esmagado pela solidão.

Seus planos sangrentos, encharcados de crueldade, nem
devem ser mencionados. Nunca matará ninguém.

É tomado de pesadelos que acorda: seus projetos de esfaquear
pelas costas, incendiar casa com gasolina, atropelar e fugir,
nunca sairão do papel. Logo o sangue congela nas veias.

No fundo do poço o escape que lhe ocorre é cavar.

domingo, 19 de julho de 2009

Dos silêncios



abro os olhos e vejo que o carro está de cabeça para baixo não consigo virar o pescoço cadê meu filho preciso me concentrar calma 1 2 3 preciso sair daqui abro a janela me arrasto me corto no vidro o outro carro todo quebrado também maluco desgraçado meu filho no meio da estrada ai meu deus está morto filho filho o motorista ele me chama desesperado pede socorro tento alcançar meu filho consegui está morto mesmo e agora o que eu faço meu deus ele me chama de novo eu me arrasto até ele a estrada está vazia ele pede socorro pede desculpas eu me aproximo e puxo sua cabeça para fora do carro ele agradece chora eu ponho a mão na sua boca e tranco seu nariz ele se debate e se debate eu não consegui me despedir do meu filho e fico quieta ali matando o tal do motorista devagarinho ele ia morrer mesmo ele consegue soltar um som pela boca eu aperto mais a mão e digo

-Shhhh quieto. Quieto.

domingo, 12 de julho de 2009

Biblioteca



Naquele prédio imponente

Repleto de palavras ilustres

Só restava espaço para o silêncio, reverência

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Tez necessária

Da lástima em forma líquida
sobra o rímel escorrido na face

judia!

Envergo(nho)-me
pelas chibatadas
rumo ao campo
de concentração

E de novo tentar entender
é correr atrás da sombra
(vão)

Rosto borrado
atualmente antigo

A guerra nada mais é
que a menina que rouba risos

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Reciprocidade inegável

Um amor era o que eu não tinha. Na verdade sofrer era o melhor sinônimo para ele. E você não pode acreditar que tudo de repente mudou, da noite para o dia...

- OK, Sr. Tomas na próxima semana continuaremos com nossa conversa.
- E o que faço até lá?
- Bem, continue tomando seus antidepressivos e não chegue perto da sua ex.

Tomas faz parte da classe de seres chamada "amantes". Convenhamos que o amor tem um lado bom, embora você rapidamente esquecerá qual é ao deixar de amar.

E nossa historia não acaba aqui, vejo vocês em breve.

sábado, 4 de julho de 2009

Mendigo estrelas



Mendigo estrelas
a me tombarem luz
pelas calçadas

Em noites escuras
vago, sem rumo,
nas madrugadas
Anseio ver - quem sabe -
aquela cadente
que inda mantenha
deserdado brilho
que seja qual à jura nunca dita
que seja igual a sede que me voga

Mendigo estrelas...
pois sem elas, minha noite empalidece
e a solidão toma o tamanho do Universo

Caroline Schneider

quinta-feira, 2 de julho de 2009

...

Respiro teu perfume
em meus dedos de seda
Me alimento do teu gosto
em meus lábios crispados

Na fina pele
percebo teus gemidos
Na ponta da língua
me abasteço
de você

E o poema nasce assim,
órfão de sentidos
repleto de ti

Se esparrama
como sêmen
sobre a pele incauta

Ocupa o espaço
onde, antes,
nada.