segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O Caso do Piolho Hermafrodita



Foi acusado de ser o mandante do crime. E de ser narcisista. E de ter caso com a viúva. Tudo mentiras. Calúnias dos oposicionistas invejosos. As declarações da principal testemunha - a joaninha gay - trouxeram à tona a verdade dos fatos: a viúva havia comido o marido, após ser comida por ele enquanto tecia um belo cachecol com gravuras escorpiônicas. De fato, esse ato incomum - ela sempre fazia palavras cruzadas durante a cópula - já deixava transparecer suas intenções maléficas. Sorte a joaninha ser, além de gay, voyeur. Além de voyeur, fofoqueira. Caso contrário, estaria fodido. Hóspede na teia, praticava o auto-coito durante os fatídicos, funestos, trágicos, lúbricos e antropofágicos instantes. Quando amava-se a si mesmo, entrava em transe. Mergulhava em seu próprio mundo, em seu próprio ser, em seu próprio biprazer. Jamais saberia das comidas. Nem do viúva, nem da viúva, nem do escorpião escarlate dotadão de ferrão destruidor de portas de guarda-roupas e arrombador de viúvas. Escapou. Por um triz. Tremeu só de pensar do que se livrara. A terrível morte na câmara de gás, a coisa verde e vermelha com letras em branco. Chamavam de "O Nefasto Baygon". Sentiu outro arrepio na carapaça. Agradeceu a São Louva-a-Deus por atravessar ileso o vale da sombra da morte. Prometeu não mais foder-se a si mesmo, nem chupar sangue de égua no cio, nem desejar pueris cabeludos couros. No primeiro retesamento peniano e vaginal umedecimento, descumpriu a porra toda. Sentiu-se vil. Ignóbil. Execrável. Piolho. Hermafrodita. Quase humano.

Carlos Cruz - 16/01/2008

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

COMERCIAIS DE METRALHADORA

Guy Bordin





Ópera-rock sobre o Cárcere de Abaetetuba


1 – os fatos

Tinha quinze anos e subtraíra um Rolex made
in China ou um CD by Zona Franca de Manaus.

Por isso fora jogada
numa cela úmida de suor e porra.

Uma cela ocupada por homens exemplares,
educados na arte da pederastia e da extorsão
– onde trocava um copo d’água por uma chupada.

Tinha quinze anos e roubara pouco mais
de uns reais, que não lhe pagavam a fome.

Por isso fora jogada
numa cela feita de aço, músculo, testosterona.

Uma cela abarrotada de orações sinceras,
de sífilis, de gonorréia
– onde trocava fiapos de colchão por tapas na cara.

Tinha quinze anos e roubara um pedaço de pão
ou uma carteira de couro de avestruz.

Por isso fora jogada
numa cela fedendo a desinfetante de menta e cu.

Uma cela decorada com frases de ódio
e estelares bocetas globais
– onde trocava um prato de comida por uma trepada.




*

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Carta sem remetente


Foto:Rosalina Afonso

Gotas de som compõem uma canção de chuva. Veja, meu amor, as coisas não precisavam ser tão tristes. Mas meu coração aperta até quando danço. Porque você me garantiu que longe era um lugar que não existia e agora aqui tudo é espera e fome.Tudo é sede de alguma voz e de palavras de encontro.É que esse silêncio denso não me explica distâncias...ou talvez seja ele que nos afaste ao ponto de nem haver mais eco.
Sabe meu amor, ontem eu lembrei de você quando a previsão era de tempestades e as temperaturas ainda estavam tão altas.O ar pesado e o calor ofensivo.E havia um poema oco e insônia e falta de abraço.
(Minha poesia anda miserável e minhas cartas sem remetentes).
E quando pensei que pudesse começar a me divertir, todos foram embora da festa:eu fiquei sozinha olhando a desordem.
Sabe meu amor, sobrou apenas o meu copo vazio, taças quebradas e restos que não se aproveita mais. E depois, essas gotas de chuva que pretendem compor nenhuma canção.


Meu amor, se longe é um lugar que não existe como você me explica essa distância?
*
*
Marla de Queiroz

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Dia após dia

(São Jerônimo - Caravaggio)
Eis a hora de minha morte
Enquanto dia, tardo solitário
Sob um sol sem nome nem visco
Vejo profundo, sinto, sublimação
Sutil como o copo guarda água

Agora é o dia, quando dia findo
Temo o céu aberto, sem nuvens
Sem sombra a proteger o rio
Evaporando lentamente gotículas

Contudo, se voltam do céu as nuvens
A desaguar nas margens, subtraem
Toda a gente deste mundo
Pelo ontem e o que se foi

Acalme-se, acalme-se
Todos os dias passam e ninguém sente
O dia vale o fruto que nasce
Enquanto vivo a espatifar-se ao chão

Eis agora a sombra do horizonte
Pranto triste que o faz disforme
Glória contida, alegria pobre
Sempre, sempre irrevogável

domingo, 20 de janeiro de 2008

Intolerância


Quando me apedrejas, é o meu espírito que feres.
Quando me apunhalas, é a minha alma que sangras.
Por se ver julgada e condenada
Por ser distante das milhares de almas que cruzei no decorrer dos dias
Porque amei de outro modo
Porque vivi de outro jeito
Porque tive outros credos
Porque nasci em outro tom
Porque envelheci...

Quando avisto um sorriso,
É o meu corpo que festeja, anima-se.
A pele retoma a sua sensibilidade,
E deste modo parece à pedra sentir quando fere,
Mas ferir a pedra é lapidar o que é tátil
Apedrejar é ferir o intocado.
É arranhar o espírito
Sangrar a essência do ser.

sábado, 19 de janeiro de 2008

A Dor


No fim do escuro
Vi uma luz
Um fio a se lançar
Dentro do meu eu
Perdido no espaço
Avança na sua cavalaria
Um exército de dores
Que combatidos na guerra
A luz não se via
No fim do escuro
Tinha um fio de luz
Nada havia em minha volta
Só mortos de olhos fechados
Essa luz está adiante
Não consigo abrir o caminho
A paz é um sonho distante
E a dor está presente
Para fechar os olhos e ser morta.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sobre telefones, escritores e a vida calma na Bahia

Telefone deveria ser proibido de tocar antes das dez da manhã. É um acinte ser acordado violentamente por aquele barulho metálico, um dos símbolos ocidentais da impaciência, a irritante e grave voz da agitação do mundo moderno, irrequieto e apressado, que parece ter uma preferência sádica em tocar ainda mais alto quando quem está sendo chamado está dormindo o sono dos justos. Ou dos injustos, tanto faz.
Esse foi o breve pensamento que atravessou meu sonolento e nublado cérebro, chacoalhado violentamente pela resposta automática em me por sentado prontamente e com o fone em uma das mãos:
- Alôôô...- Será que sonhei que o aparelho tava tocando?
- Fala, Fezes...- Tive certeza que não era sonho. É um pesadelo. Só há uma pessoa no planeta que inicia uma chamada telefônica dessa maneira. Meu amigo Edevars. Faltava saber porque um indivíduo em férias na Bahia ia ligar para outro fulano, a mil e tantos quilômetros de distância, às nove da matina, acordando o pobre coitado.
- Ed, isso são horas de acordar um cristão?
- Ô guri, aqui o tempo anda com seu tempo próprio... A propósito, você atendeu rápido, hein?
- É que dormi na sala... Sabe como é, cheguei meio tarde ontem, com algumas na cabeça, daí que a Catarina me “aconselhou” a ficar pela sala mesmo.
- Hum... Esqueci que você tá morando com a versão feminina de Kublai Khan....
- Ah, cara deixa disso... Ela é legal.
- Entornando todas na quinta à noite, hein?
- Olha quem fala... O profissional do copo. Eu sou um reles aprendiz.
- Não me lisonjeie... Escuta Juliano, te liguei para tirar uma dúvida.
Suspirei aliviado. Tava pensando que novamente o Ed ia tirar uma com a minha cara, falando que tava na praia e taus, enquanto eu mofava no Centro-Oeste.
- Sou todo ouvidos.
- Você ainda escreve poemas? Sei que sua praia são mais os contos, mas não te dá uma vontade às vezes de escrever algo em verso?
- Arram – um leve pigarro geralmente dá um toque de seriedade ao que vai ser dito – Bom, na verdade às vezes eu escrevo um soneto ou outro, mas costumeiramente eles só aparecem quando estou meio deprimido ou chumbado... Não sei explicar muito bem isso.
- Aí é que está. Como você sabe não sou muito de escrever versinho, mas estava um belo dia na praia – Pronto, pensei, agora vai começar a esculhambação – Tava tomando uma com um pessoal, quando alguém que estava me apontou como escritor e poeta. Foi a senha para que o mulherio começasse a me olhar com outros olhos. No final da noite, sem papel ou caneta, tive que escrever um poema na areia da praia, para provar para uma ruiva curvilínea que sabia versar... Pena que não tinha papel e caneta para anotar aquilo... Era um belo poema. Queria tê-lo guardado ou ao menos me lembrar o que havia escrito.
- É um belo kaô, para falar a verdade.
- Modéstia à parte, foi perfeito... Quando a gata bobeou, babau...
- Imagino... – cara de sorte.
- E você, escrevendo muito?
- Ando meio sem inspiração ultimamente... Acho que é o limbo literário. Não ando bêbado o suficiente.
- Bom, desta parte eu não posso reclamar. Vou levando a vida em um ritmo bem baiano, vendo as moscas voarem quadro a quadro e o sol se locomover descompromissado pelo céu... Deitado na rede, dou uma bicada na loira gelada, uma bitoca na morena quente e mentalmente me pergunto (com uns quinze minutos de atraso da primeira para a última letra da frase): “Têm vida melhor?”... Nem tento raciocinar, ficar pensando muito, para não perder tempo...
- Eu não ando conseguindo escrever bem ultimamente, Ed... Acho que não estou sofrendo o suficiente...
- Garoto, se eu fosse trocar a escrita pela felicidade, nem pensava. Dane-se a posteridade...
- Pô Ed, justo você com esse papo de felicidade? Você quer ser feliz?
- E quem não quer? Não é essa a busca de todo mundo?
- Pode esquecer... Isso é lenda, igual a Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa.
- Têm sim... Sempre têm um pouquinho de felicidade, nem que seja a conta-gotas. Conversar com os amigos, tomar uma cerveja em uma tarde ensolarada, receber um pagamento, fazer uma promessa (que não se sabe se cumprirá)...
- Ce tá parecendo aquela propaganda do Martini: “Momentos de prazer, isso é viver”... Meio punk isso... Ainda mais na voz do seu quase xará, o Ed Motta.
- Mas tudo, tudo mesmo, fica em segundo plano, se não é coroado pelo encontro da cara-metade, aquela garota que te faz perder noites de sono, deixar o trabalho mais cedo, comprar flores em um dia qualquer e pagar o mico pela cidade, andando com um buquê no meio da rua...
- Olha só... Quem está sendo romântico.
- Pois é... Que me adianta, ficar aqui na Bahia, nessas praias lindas, pegando essas morenas gostosas, uma a cada dia, esse sexo selvagem e essas orgias escabrosas, se nenhuma delas consegue ao menos apreciar o belo som do canto de um passarinho ou se deliciar com um pôr-do-sol? Onde anda o romantismo no século XXI? Será que foi substituído por este hedonismo moderno e descompromissado?
- Ah, por favor, pare...
- O pior é sentir ataque frio e calculista da inveja, vinda dos meus amigos casados ou comprometidos... Principalmente aqueles que têm mulheres ciumentas...
- Ahhhh... Saquei... – Tinha que esculhambar... Tinha. Aproveitei a deixa para me servir de uma dose de Jack Daniel´s. Belo café da manhã.
- Quando digo que é difícil... Essa vida de solteiro descompromissado, que hoje dorme com uma, amanhã com outra. Pô, têm dias que bate uma solidão da porra...
- É, é uma vida dura, imagino como deve ser isso.
- E o pior, é que ainda têm gente que me acusa de ser pervertido, ou coisa parecida... dizem que é cafajestice, mas eu rebato: “Gente, é que tenho o coração grande! Cabe mais de uma... Então para quê desperdiçar espaço? Tanta mulher sozinha e carente no mundo!”
- Cara, você tá no maior monólogo...
- Viva a vida, guri, senão um dia você acorda vestido com o terno de madeira e descobre que não fez nada nela... Há uma verdade incontestável: fatos marcantes fazem explodir palavras no oco da cabeça. Às vezes, palavras geniais. E se você não fizer nada de marcante na vida, vai perder várias delas.
- Nisso eu concordo contigo; a tragédia, o sofrimento e a solidão parecem ser combustíveis para o bem escrever... Não escrevo muito bem quando estou amando. A felicidade não me inspira...
- Na verdade, para alguns inspira. Mas no geral, fica uma coisa muito delicadinha, bonitinha, felizinha... Uma frescura total, eu diria. Um pouco de caos aqui, de angústia ali, uma pitada de melancolia e um trago de cachaça da boa... 25 minutos no fogo da paixão não correspondida e taí uma boa poesia... Sujeito-homem-do-Goiás não nasceu para versar florzinhas...
- Podecrê.
- Aê, acho que vou ficando por aqui... Tenho que me barbear para buscar uma dona ali.
- Você, se preocupando com a aparência?
- Pois é, o tal do “metrossexual” veio acabar com o sossego do machão-desleixado-e-com-barba-de-três-dias... A mina com quem fiquei na sexta não ligava para muita coisa; a do sábado, achava legal cavanhaque e a que estou para pegar têm ojeriza de pêlos... Fazer o quê, é a vida.
- Peraí, quantas você já pegou por aí?
- Acho meio depreciativo esse termo “pegar”... Digamos que já me apaixonei umas quinze vezes na Bahia...
- Em dez dias?
- Algumas coisas andam rápido por aqui... Mas como posso dizer não? A fama do “pueta” já se espalhou... Bom garoto, é isso aí. Acho que já gastei demais o telefone dos outros.
- Como assim, não está em um hotel?
- Nada, tudo por conta de uns amigos das antigas... Me deixaram tomando conta de um casarão na beira da praia... Precisava de um lugar tranqüilo para me inspirar e escrever, eles, de alguém que tratasse dos cachorros e desligasse as luzes. No fim, fica bom para ambas as partes... Acho que vou acabar me acostumando com essa vida. Bom, é isso aí. Se cuida...
- “Té mais”
Fiquei ali sentado pensado na boa sina que alguns possuem. O Edevars é um desses. Porra de sujeito sortudo. Nisso o telefone toca outra vez. Era minha dona. Quase que literalmente falando, afinal, ela paga todas as contas:
- Juliano Werneck, acordado a essa hora! Milagres acontecem!
- Coisas do destino, baby.
- Liguei para te avisar que amanhã vamos para a fazenda da Tia Emengarda. Vai ter um bingo de família lá e quero que você esteja bem arrumado e não encha a cara desta vez, ok?
- Seu desejo é uma ordem... Câmbio e desligo.- acendi um cigarro e voltei a andar de um lado para o outro. Putz, esses bingos da tal tia eram um porre. Um monte de velhinha tarada me olhando esganiçado. Daí para o copo era um pulo. Tinha que tomar uma atitude viril naquele momento. Peguei minha carteira e olhei: nenhum dinheiro. Mas em compensação, haviam quatro cartões de crédito e havia estourado somente um. Voltei a pegar o telefone, estava decidido:
- Alô Ed, têm lugar para mais um aí?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

QUAL FÊNIX

Para Mônica, claro.

Minha noiva, inconformada, dizia-me, até pouco tempo, que era minha musa “desinspiradora”. Isso porque, sabedora de meu amor à literatura, estranhou que nunca mais escrevera nada desde que a conhecera, em 2004. Consultando meus escritos – tenho o costume de datá-los – percebi que o último texto fora escrito em novembro de 2004, poucos meses após conhecê-la. Seguiram-se então dois anos e meio em brancas nuvens (ou brancas páginas...); as idéias não vinham e na única vez que me propus a sentar e escrever algo saiu um contozinho meio confuso que misturava índios, pedofilia, jogos de Internet e investigação policial... melhor arquivá-lo e recomeçar o texto mais tarde...
Até que, neste 2007, já noivo, os deuses literários se lembraram de mim e me presentearam novamente com idéias. De abril a julho já contabilizo três contos e duas crônicas, incluindo essa. Se a qualidade é melhor ou pior ainda não sei, pois só dona Mônica leu os textos e convenhamos que não posso exigir dela maior imparcialidade. Mas, vamos lá, o que importa é que estou novamente encarando o papel em branco e transmitindo minhas idéias a quem queira ouvir.
Carlos Heitor Cony também já passou um tempo nesse “branco” literário. Vinte anos. Voltou com um livro de reminiscências chamado “Quase Memória”; na época do lançamento da obra, perguntaram-lhe o porquê de seu autoexílio literário. Sua resposta soou simples e misteriosa: estivera feliz. Cony passou anos sem escrever porque a alegria familiar interna, nesse anos, estivera mais presente que as reflexões externas sobre o mundo.
No meu caso, não passei esses dois anos em branco porque vivia feliz e agora (às vésperas do casamento, vejam só...) não. Na verdade, estou também numa fase de grande alegria interna. Mas talvez, nesse hiato, estivesse focado apenas na felicidade de outra pessoa, que, por conseqüência, se espelhava em mim. Meus olhos nos seus olhos e dane-se o mundo. Agora, creio, talvez esteja preparado para, não mais de frente, mas ao seu lado, de mãos dadas, encarar o mundo e continuar essa caminhada pela vida, observando e registrando seus pormenores, suas alegrias e dissabores.

Brasília, 09/08/07

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Brinquedo das madrugadas brancas




Meu realejo de música estúpida
Tirai a sorte do meu maníqueismo triste
Dos fantasmas que comigo dividem a cama
E estamos quites
Das mentiras que engulo como sobremesa
Fui plastificada,encaixotada
Adquirida por uma criança
Que comigo nunca quis brincar


Virei túnel e absinto
Para ratos roerem meus sonhos
Fica aqui mais um instante!
Meu próprio ser é para mim
Lugar medonho
Meu corpo não tenho sentido
Sou vândala das madrugadas brancas
Saqueio,engano,vacilo
Ensaio coisas estranhas

Oro em altares rubros
Marginalizo feras mansas
Aprendiz do obscuro
E ainda assim o brinquedo da criança


sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O limpo

Gosto de ser o que sou
Meus erros
definem meuZ eus
sou um deus
errado
Do Olimpo
sinto o fado
deste meu eu – do eu
safado
que apenas tentou
enganado
viver limpo
Um príncipe plebeu

conformado

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

QUEDA

A queda faz o pulsar das horas transgredir.
Assim como o caminho, as vontades subvertem-se.
Invertem-se os sentidos e os motivos não divertem.

Ruir,
o resultado indesejado com seu gosto amargo.
Inintensionalmente vai sendo saboreado.
A digestão é lenta, aziática,
requer paciência.

Mas ao desgosto cabe também o destino de todos:
morrer,
desde o nascimento, aos poucos.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Serafina




Quando a vida termina
Ou traz um beco em cada esquina
Chamo-te,
Serafina
Traga-me um trago
ou um trasgo de lua
Para que a vida se refine
Ou sequem as barragens
do fio de água que alimenta
a seiva dos meus rios e cascatas

Faz-me teu servo gentil
Pra que o tempo recomece
a contar longe de tudo que se finda
Serafina
.

O dia que menti para a realidade


Mais que menti, acreditei em minha criação
Por mim escarrado, num tipo de sonho mudo,
Na face rígida da minha realidade viril
E de troco, da verdade, ganhei um murro...
E quando me recuperei, novamente sóbrio,
Você e o acaso já haviam se cansado,
Salgaram o meu doce desvaneio febril...
Afinal, de tanto permanecer sorrindo,
Minha sorte teve caimbra na boca...


Augusto Sapienza