quinta-feira, 24 de abril de 2008

Coletânea

Trilhas - coletânea de autores blogueiros



Bilhete Encontrado em um Buquê de Rosas

Se eu não te amasse, te mataria com prazer.
Te esqueceria numa cova rasa, em beira de estrada,
para que cães pudessem lhe desenterrar –
arrastá-la pelo asfalto em pedaços repletos de vermes
___________e de moscas.
*
Se eu não te amasse, te jogaria da ponte –
como se lê todos os dias nos jornais –
só para vê-la voar desesperada, sujar o chão
e menstruar a cara de merda dos passantes
___________e suas blusas impecáveis.

Se eu não te amasse, te sufocaria com o traves-
seiro
(seria perigoso dormir comigo). Te picaria
com a faca cega da cozinha. Pela noite,
prepararia uma travessa de yakisoba
__________e me tornaria canibal.

Se eu não te amasse, te atormentaria amiúde.
Faria com que Hitchcock dirigisse os teus
pesadelos. Te acordaria com sussurros de so-
cos no ouvido – se eu não te amasse,
__________seria isso que eu faria.



* Poema publicado no Livro Trilhas.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

VERSOS




Hoje eu sou Hélio
amanhã eu sou Ana
uso Chanel durante a tarde
na praia uso tangas

Ouço jazz pra variar
procuro o canal de esportes
sem ter a certeza das horas
de quando a novela vai começar

Hoje eu sou Hélio
amanhã eu sou Ana
uso Havaianas pra caminhar
no carro dirijo de Nike
à noite pedalo de Bike
e às vezes devoro croissant

Ouço Blues, Reggae e Bossa Nova
pra trazer à memória a resistência
ou lembranças atemporais
de tempos esquecidos pelo ontem

Hoje eu sou Hélio
amanhã eu sou Ana
uso uma enxada pra sustentar a casa
em casa avental pra lavar a louça

Desejo de Coca e Ruflles nos dentes
Silicones na mente e fondue pro jantar
Simbiose entre o mito e o fito humano
Entre Ana, Hélio, símbolo, víspora, virtuosismos...
Sedução catártica e king size só pra relaxar




Poema inserido no livro O observador do mundo finito de minha autoria, editado pela Scortecci Editora em 2008.

sábado, 19 de abril de 2008

Entre becos

Subúrbios gritam
Por todos os lados
Ao sufocar o mal
Acorrentado pelo preconceito
Na dor de ser esquecido
Pela marca da indiferença
No desamparo do desamor
Assolados por entre becos
Invadem as casas
Num grito
Sem voz
Sem platéia
Em sua permanência da solidão
Para sentir o seu eu no vazio

sexta-feira, 18 de abril de 2008

RESTOS

Sem o sopro da vida
Continuo tentando existir
Insisto e grito
"Quero estar aqui"
Sou um emaranhado de tendões e músculos
Uma pilha de ossos tortos
Meus pobres órgãos danificados
Sou um conjunto inacabado
Sou a alma desencarnada
Ainda na terra enfronhada
Sou só
Sou pó
Mas ao pó ainda não retornei

terça-feira, 15 de abril de 2008

Próxima parada



Não,não pode
Saia da minha cama
Com sua cabeça coberta de meus afagos
E os afogamentos dos meus gozos
Leve seus sambas
O tira-teima de ser um maldito
Invente um apelido
Para minha dor

Não,não deve
Não vê que estou preste
A me jogar nas alturas?

E você em mim
E você aqui
Zona do desconforto sem lar
Ardendo a cabeça
Em forno bulímico

Aparição em estilo satânico
A marca do estilete cego
Nacos dos nervos no tapete vago

Não,não posso
Querer tudo e desaguar fragmentos
Nos teus amáveis pecados
Desaparecer em ti como solução
Solúvel em delírio e chá de lama

Não posso
Não pode
Não pare

Alienados em nós
Nos distanciamos em chamas frias
Se tudo pudesse ir embora nesse avião
Se eu tivesse asas
Para buscar-te em mim
E explicar essa mágoa

Deixaria tudo
Na palma estagnada
Sem linha,sem ponto,sem cruzes ou pausas

Mas não posso
Não pode
Não me possuo
Não note

Logo a cama de nuvens
E um apagar profundo
De não poder

segunda-feira, 14 de abril de 2008

O vô fatal de Isabella

No final do expediente, o pessoal do trabalho parou para tomar um cafezinho. O assunto poderia ser a derrota do Flamengo, poderia ser mais um flagrante de corrupção na cúpula do governo ou até a nova cor vermelha da cobiçada secretária Shirlei. Mas não, o assunto é o mesmo que toda a imprensa escrita e televisiva traz em manchetes nos últimos dez dias: o vôo fatal da menina lançada pelos próprios pais através da janela do sexto andar.
Adultos, crianças e velhos, todos estamos chocados por mais uma tragédia. A história é esmiuçada em detalhes sórdidos. Uma criança indefesa é espancada e asfixiada justamente por aqueles que deveriam dar conforto e segurança. O local do crime é a própria moradia, o lugar onde seria seu porto seguro. A verdadeira mãe não demonstra a dor desesperada pela perda da filha. Há provas da premeditação de crime devido ao corte da tela de proteção da janela antes do arremesso. O terrível estigma de ódio e ciúmes de uma madrasta pela enteada é resgatado e multiplicado. O choque de imagens da família feliz nas horas que antecedem o crime se superpõe ao cadáver da criança na grama. Aparentemente não há indícios que outras pessoas estievesem no apartamento na mesma hora da bárbarie. De onde, facilmente, qualquer leigo, conclui que os assassinos só podem ser os próprios pais.
O crime aconteceu na última sexta-feira do mês de março e até agora a polícia ainda não divulgou o nome dos criminosos. Meia centena de pessoas foi interrogada. Os pais foram presos por flagrante e soltos por habeas corpus. Quase linchados e presos novamente. A população tem ânsias de justiça. Tudo parece óbvio. Mas não é.
Se a justiça brasileira não está externando os resultados das investigações é porque deve haver outras razões misteriosas e ocultas.
Talvez o pai seja um agente russo infiltrado no Edifício London. Talvez a perícia tenha descoberto um túnel subterrâneo ligando o apartamento a uma agência do Banco do Brasil localizada a apenas três quadras de distância. Talvez os pais da Isabella quisessem enviar a filha para estudar no exterior. Talvez a madrasta tenha contribuído com enormes somas de dinheiro, oriunda de lavagem de dinheiro, para a campanha eleitoral de um deputado influente. Talvez o casal faça parte da rede de internacional de traficantes de cocaína e por isso tenha proteção de algum governo vizinho com o qual nosso país deseja manter as ótimas relações.
Não, nem eu, nem ninguém, consegue inventar qualquer desculpa plausível que justifique a não acusação formal do casal. No nosso país ninguém, que não tenho bons advogados, é incriminado.
Brasileiros não punem falta de respeito, falta de ética ou de moral e a conseqüência é a impunidade também para todos os tipos de crimes. As autoridades mentem, ameaçam, chantageam, insultam, enriquecem de ilícitos e não são castigados. São os nossos exemplos.
E, daqui a quinze dias, ao final do expediente, no cafezinho discutiremos como fomos obrigados a acreditar que a pequena Isabella caiu da janela ao tentar pegar um vaga-lume que pisca-piscava alegria e inocência.
Agora só falta Isabella cair no esquecimento.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Bar do Escritor no programa Letra Livre da TV Cultura

Na sexta feira, dia 11, o BAR DO ESCRITOR, a maior comunidade anárquica de escritores do Brasil, estará reunida em SamPa participando da platéia do programa Letra Livre da TV Cultura, para debater POESIA com Carlos Vogt e Nelson Ascher. Depois da gravação, o escritores do BDE ( www.bardoescritor.net ) continuarão a gandaia em algum bar da cidade, numa noite regada a drinques literários, biritas alcoólicas mesmo e muito papo furado.

O bar é uma comunidade do Orkut que se reúne há quase três anos, diariamente, com mais de 2250 membros, de todos os pontos do país, pelo prazer de conversar sobre literatura (através da anárquica interNerd).
Contos, crônicas e poesias dos autores bebuns de letras são arduamente discutidos através do olhar analítico de pessoas com os mais diferentes gostos. Há duas regras no bar: o texto tem que ser bom, senão receberá muitas "tomatadas" e, é claro, só uma dose por dia, senão vira vício!

Conheça o BAR DO ESCRITOR no Orkut:

www.bardoescritor.net

quarta-feira, 9 de abril de 2008

todas as vozes cantam*












PRESENTE DO SUBJETIVO


Tenho tendência pra variedades.
Me visto em quase-outros em função dos entornos.
Absorvo transfomações por contextos.
Possuo um eu pra cada um.
Em verdade, minhas verdades se multiplicam para ajustes.
Na minha mais pura verdade.
Eu jogo de futuros com quem converso.
Minhas mentiras também são puras.
Por isso é que entendo os desentendimentos comigo que tenho.
Pelo mesmo motivo que não entendo os entendimentos que prenho.
Sou meio esponja meio pilha alcalina.
E sigo por outros meios.
O ar que expiro também tem oxigênio.
Toda atmosfera é um pouco promíscua.
E eu: átomo e fera e outros e.
Mas, por ora, só palavras mesmo.
E a esmo.
Mas só por agora.


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* Poema presente no meu livro todas as vozes cantam
a ser lançado na semana que vem. Mais detalhes aqui.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Suspiros da Carne

Sensual Rieke Berg


Descaradamente reapareço neste espaço. Após a ausência no mês passado, venho um dia (ou seria um mês e um dia?) atrasado, pedir desculpas pelo mês que passou em branco. Aproveito e deixo um conto tão descarado quanto eu. Abraços Poéticos.

Flávio Offer
08-04-2008.


Suspiros da Carne
....Meu verbo amofina-se. O desespero é a medida da esperança. Espero em vão. Corro ao quarto escuro, sob os lençóis contorço-me como um feto. Recolho-me sobre a pele, sobre o cobertor, entre paredes mofadas que me isolam do mundo. O espírito é impelido a uma multiplicidade de pensamentos que me enlouquecem. Talvez Sofia tenha razão. Estou obcecado. E, minha paranóia se intensifica. Faz seis meses que ela se foi e ainda não consegui desgarrar-me. Era tão dependente, que ainda a vejo entrar pela porta sorrateiramente, sob aquela peça única de seda transparente, seus mamilos despontando sob o pano e, a silhueta de seu corpo desfilando pelo quarto. Sua dança incendiava-me. Meu refúgio eram suas delícias, fugia do mundo, sentia-me completo.
....Ela foi embora dizendo que não dava pra ser assim. Minha paranóia lhe perturbava, não era o que queria. Não quis assumir um compromisso, contrair matrimônio seria o último dos males e, ela não aceitou. Era como todas as outras queria toda depravação que tinha a oferecer, mas queria de papel passado, véu, grinalda e tudo que dizia ter direito. Novamente me vi só. Minhas buscas se tornaram freqüentes, queria compreender a dimensão do que se passava na cabeça de Sofia, mas ela recusou me ouvir. Bebi. Comprei um revólver a fim de dar cabo da vida, porém, sou covarde demais pra buscar a morte com minhas mãos. Meus desvarios passaram e, agora percebo que o que mais amei em Sofia foi sua capacidade de abrir as pernas nos lugares mais inusitados. Amava sua ousadia. Amava quando se prostrava diante de mim dizendo-se adoradora de meu membro sagrado e, beijava-o impetuosamente. Gostava mesmo era de seu instinto de puta, sua animalidade transtornada, seu desejo de me engolir inteiro. E, trepávamos todos os dias, todas as horas, todo instante em que nossos corpos insistiam em nos chamar a alcova. Afundávamos neste abismo de luxúria. Ela me deixou só, com duas mãos exaustas. Não escrevo mais. Tudo que me sai é depravado. Tornei-me um depravado. Durmo com as putas da rua de baixo e acordo com elas. Meus dias se resumem a isso. Noites pérfidas em uma loucura tão minha.

sábado, 5 de abril de 2008

Pagamento do dia

vista cansada
sombras dormidas
em assombrada
casa.

e uma dor
paga

à vista.

André Espínola

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Homenagem à pequena amora


Foi pequena amora!

Pequena, pois o tempo foi curto aroma

E fruto, pois intenso foi o sabor

Seu amor feminino, amora!


Ardemos como fogo,

mas acabou,

porque fluímos como água!

Não poeto aqui por saudade,

te faço apenas, homenagem!


Foi amor, aroma, minha amora!


Augusto Sapienza