sexta-feira, 30 de setembro de 2011

5º TESTAMENTO

Um testemunho, o seu legado. Um testemunho legado para o leitor, começando eu leitor por ser. Viaje(i) ao anterior
Em "Manufatura" manufaturo... a feitura à mão das palavras que se fazem escrita.
Venho com vídeo e música para/paraR… embala(n)do a Bossa Nova!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Série O Velho e O Poeta

Um dia um grupo de jovens religiosamente espavoridos,
apareceu com a solenidade dos sonâmbulos diante do Velho.
Seus semblantes ressumavam compostura e respeito.
Ajoelhando-se mui dignos, fizeram este pedido:
- Velho, ouvimos que és grande e sábio, e que falas nobres verdades.
Por favor, ensine-nos.
O Velho, que neste momento varria as folhas das árvores caídas próximo à estrada,
girou no ar o cabo de vassoura, e com fúria surpreendente, enxotou todos dali.
Depois voltou, suspirando:
- Novamente, não compreenderam minhas mentiras.   

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sonho

















e se fôssemos assim todos

repletos de

ar

feito balão sem corda

entre as nuvens do

céu

sobre as águas do

mar

?

flutuar

.

.

.

flutuar



     - Graça Carpes -

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Canto do Deslugar

Procuro qualquer lugar
Que tenha algo a ser descoberto
Um baú de risadas honestas
Ou amuletos para uma vida boa
Pode mesmo ser um objeto placebo
Só para, em sua busca, eu agridocicar
Esses dias da objetividade com aroma de bílis.

Todos os meus amigos estão velhos
Já não suportam a música alta
Nem procuram as possibilidades abertas
Que a noite resiste em insinuar
São almas batendo ponto
Na esquina designada por outros.

Adoraria que não buscassem nas minhas letras
Vestígios dos versos da moda
Ou de MPB revisitada
Rogo louvores aos malditos
Escarro na cara deles para tentar ser aceito
Sou muito anos noventa
Para essa geração Y.

domingo, 25 de setembro de 2011

Cortina de letras





É difícil talvez esconder-se na sombra das palavras. Por mais reticente que somos. Pelo menos o segredo está ali enclausurado nas entrelinhas, como um elemento que instiga. Algo singelo que fica subliminar por trás de uma doce cortina. No mais, existem palavras que destoam bem essa nossa cumplicidade com os sentimentos que permeiam deliciosamente pelo suor do nosso corpo e pelo aroma afetuoso da alma. Elucidações evidenciadas no âmago dos traços. 

Louvamos porque somos brindados com a nossa melhor face. Exposta saborosamente com o teor externo com a qual as palavras são capazes de exprimir. Descrições palpáveis de sentimentos não táteis, essências invisíveis, que são peles que envolvem os nossos mais profundos anseios. Muito do nosso calor fica vívido nas letras, como que embrulhando nossos desejos, nossas aspirações e nossos impulsos mais ardorosos, ou nossas vontades mais sublimes. A verdade fica exposta nos mínimos detalhes, fazendo com que a cortina transpareça o palco. 

A escrita faz nos sentir assim, meio que despidos por esse véu que aniquila o medo. Um elo que destoa do cinza e contrasta com a cor pulsante da alma imensamente bela e verdadeira que revela segredos. As palavras demonstram bem a matiz que somos; fragmentos coloridos da essência mais plena da alma, que mescladas formam nossa parte mais inteira e real. São várias cores entrelaçando-se, para formar a pintura exata da alma. Ou estrelas brilhantes escondidas pela cortina das nuvens. O encanto fica ali, subentendido, mas nunca totalmente à mostra. 

O dedilhar oculta o encanto que encena por trás das cortinas. Letras são apenas ensaios de uma cena maior, de um ato mais explícito. São pontos de cruz que costuram bem os tesouros mais íntimos e preciosos da nossa vida. E tudo o que sobrevive nas sombras, canta solenemente e se faz presente de alguma forma impossível de explicar. A alma estribilha em sonhos, em formas não palpáveis, em mensagens não visíveis; e tudo o que torna a alma mais condizente com sua forma de instigar, de não se fazer óbvia. O bonito é esta revelação sem revelar; este degustar sem comer. 

Por trás da cortina de letras é que preparamos o verdadeiro espetáculo. Há poucos convites. E poucos podem entrar. O tesouro mais oculto em nós não é encontrado de forma fácil. Por mais que as palavras sejam transparentes, elas apenas convidam. Só que no silêncio. Tornamo-nos habilidosos em nos ocultar, mas também em atrair. Torcemos para que colham no mais distante deste horizonte de letras o sentimento que plantamos. Este é o passaporte de entrada. Para se achar basta ter sensibilidade. É isto que aguça o olhar do coração. 

É quando já estamos inteirados de boa parte do mundo de alguém, que as cortinas se abrem, e o show fica à mostra. Estando lá, apenas uma certeza concreta: é impossível não aplaudir.

sábado, 24 de setembro de 2011

2 [curriculum vitae]

 Acaso tivessem nascido no Camboja
sobre a égide do Khmer Vermelho
teriam herdado terra & poder

Eram porcamente alfabetizados –
o pouco que sabiam, o sabiam mal,
exceto o tempero da dor e seus requintes

A eles restavam os prazeres gratuitos:
incendiar um supermercado e,
aos chutes, por fim à vida de um cão

Enquanto suas mães – em segredo –
lastimavam o dom da maternidade
e maldiziam o fruto do próprio ventre


___
para ouvir:

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Cartinha


Caprichei na escrita
caneta ponta fina
e letra cursiva
(tão demodê!!!)
guardei uma teoria
apaguei a luz
para não ler a fórmula
cortei os "Ts"
pinguei os "Is"
deixei tudo limpo e legível
usei regras e acentos.

Por fim, dobrei o papel
- perfumado, é claro -
lacrei o envelope
joguei no vento
e esperei
parado.

O vento disse
que faltava o selinho,
fechei os olhos,
cerrei os lábios...

... estrelinhas!!!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Pequenas obscenidades

Pensava sempre nele nessa hora. A hora em que, casquinha de sorvete à mão, lambia lenta e delicadamente as bolas. Deliciando-se em dobro. A relembrar outros jogos de língua. Em tardes distantes. E por vir.



Márcia Maia

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

dos egos

outro dia, dois amigos, um escritor e um músico, discutiam na mesa do café.


não, não é piada, aconteceu mesmo, e eu resolvi compartilhar porque isso não me saiu da cabeça.

o escritor dizia ao músico que ele tinha que compôr coisas originais, dele, sabe.

porque tocar cover em baladinha é coisa de moleque, e que, por isso, não o considerava um artista, mas nada pessoal.

o músico ricocheteou violento nas paredes, dizendo que era artista sim, porque dava diversão e emoção aos passantes e frequentadores de seus empregos noturnos, além do que, perpetuava a música.

o escritor disse, então: ok, então eu vou lançar um livro cheio de poesias do vinícius e do quintana, vou assinar no meu nome e dizer que é um livro cover, e que, portanto, sou artista, porque perpetuo a arte batendo punheta com o pau dos outros?

desnecessário tudo isso, não acham? hoje os dois nem são mais amigos. e eu ainda não sei o que pensar.

domingo, 18 de setembro de 2011

Cavalo Alado


Oh! Grande senhor das horas do tempo imaculável,
por todas as voltas que essa esfera dá,
em torno de si e em torno do sol, te rogo:

me apresente algo que paire para além dos círculos de um girassol
que não seja pressão de cachoeira em queda livre
arvorecer em horizontes de esticar a vista
planaltos e planícies douradas
ou brisa de campo suave.
Tenho anéis de cerrado
cercando-me.

Ah! Que blasfêmia voz digo
portentosa alegria só se encontra no entrevo
do desfiladeiro de força centrípeta

nem lá, nem cá

 na travessia...
pontilhão de arruaça
 tênue linha.

Enquanto a  terra gira à pina...

Vem me buscar
cavalo alado dos dias,
por aqui o vento venta apressado
uivando e chamando toda a matilha

Aqui nada se esvai ou dilui
à total revelia

Toma de pulso certeiro
sua vida, seu tino
que o mais ao passo de trotes
é o mesmo destino console acolhido

Pra ganhar imensidão de céu azul!
É preciso arriscar,
alcançar a fronteira
daquele rincão encantado
de soalho molhado fecundo
ante a ribanceira.


                              Flávia Amaro

*Poema publicado inicialmente no blog pessoal da autora: "Cronicamente Orgânica" e no livro "Antologia Versos de Primavera" da Editora SAPERE (no prelo).

sábado, 17 de setembro de 2011

Pombo, pobre e pão

Hoje um pombo quase me atropelou! Um pombo bem do gordinho.
Esta praguinha tão bem alimentada pelos velhinhos nas praças.
Quantos pombos comendo pão dormido,
quantas pessoas dormindo do outro lado da calçada
e eu aqui escrevendo sobre pombos, pobres e pão.
Será que sou mais inútil que aqueles velhinhos?


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Dica: Projeto Interessante


O projeto "Um poema em cada árvore" visa ao incentivo à leitura e acontece mensalmente desde agosto de 2010. A ação consiste em pendurar poemas de autores desconhecidos - após seleção entre os enviados pela internet - em árvores de praças, ruas e calçadões da cidade de Governador Valadares. Surgiu a partir do esforço do poeta Marcelo Rocha em construir alternativas que ofereçam à sociedade acesso gratuito à leitura.

Poesia Nascente - Clique na imagem para ampliar

Para saber mais sobre o projeto, acesse:
http://www.institutopsia.org/p/um-poema-em-cada-arvore.html

domingo, 11 de setembro de 2011

Livros estão vivos




Vocês podem não saber, mas eles vivem

Quando você se interessa por ele em uma prateleira, na mesa de alguém

Ele que chamou

Quando você perde ele no ônibus, trem, avião

Ele quis viajar

Quando o vê na mão do seu amigo sem nem ter visto ele pegar

Ele pulou no colo dele

Quando você leva para cama e dorme lendo

Ele cantou pra você

Mas o melhor é quando devolvem ele sem que você soubesse mais onde andava

Não, ele não retornou para casa

Apenas veio matar a saudade, descansar um pouco e partir...

Para novas Aventuras!


Só quem conhece a magia da leitura pode dizer que sabe realmente ler

Porque falar que sabe ler apenas por ter aprendido é como comer apenas para ficar vivo.


Joakim Antonio

sábado, 10 de setembro de 2011

Victime de l'amour



Uma flecha de noradrenalina
Acertou-o bem no meio do peito.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Meu primeiro texto aqui... é uma honra para mim

"Ao mesmo tempo tudo parece estar numa velocidade vertiginosa, tudo corre. A chuva desce rápida pela janela, um carro acelera na avenida ao lado, meu sangue recebe uma carga extra de adrenalina e minha vida passa diante dos meus olhos em questão de segundos.
Estou sentado na minha cama, com um cara apontando uma arma para a minha cara.
A chuva pára como começou, de repente.
'-Foi você não foi? Não foi?' Ele grita.
Escuto o carro bater num poste.
Nos assustamos com o barulho, mas ele não tira os olhos de mim.
Sinto minhas mãos tremerem, meu rosto gelar. Acho que agora foi a vez do meu sangue parar...
Daqui a pouco será a minha vida que irá pisar no freio.

Mas não sou mané, levo as mãos até ao meu rosto e abaixo a cabeça, numa atitude natural de desespero, e rapidamente puxo o tapete em que ele estava de pé. Estava. Já me levanto pisando no saco e chutando a sua mão armada. O tiro acontece, mas nem sei onde vai parar a bala. Pego a sua cabeça e começo a bate-la no chão, gritando.Uma.Duas. Três. Quatro vezes.
'-Fui eu. Fui eu mesmo! Fui eu SIM! FUI EU!!EU!!!'
Me sujo com seu sangue. Saio de casa e consigo parar um ônibus.
'Estou fazendo amor com outra pessoa...'
Não podia ser pior. Mentira. Tudo sempre pode piorar. A minha vida é prova disso.
'...mas meu coração...'
Quase uma prova morta.
'...vai ser pra sempre seu...'
Porque não existe motorista de ônibus com gosto musical? E porque tem que ser tão alto o volume?
'...vão falar que é amor...'
E é bem capaz, que no patético da minha vida, essa música conte a minha história atual, e seja a trilha sonora da minha morte.
'...vão jurar que é paixão...'

Mas nem fudendo!

Consigo descer em frente ao Copan, e me lembro do livro do Eduf, espero ver se algum suicida cai do nada. Nada. Vou ao metrô. Melhor não, debaixo da terra deve ser bem pior para fugir. Mas porra, é mais rápido. Pego o metrô até o Brás. Pego o último trem e vou para Mauá, e vou andando da estação até a casa dela, andando e rezando para que ela não me pergunte nada. Só me empreste uma toalha, uma escova e me abrace durante o resto da noite."


continua...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

oh, lepse...


este sou eu,
frente a etnerf
com a imagem do presente

analepse do que fui
prolepse do que serei
recordações
e projeções

encarar a si mesmo
não faz bem ao ego
                                  nego

melhor seguirmos enganados
que encarar a realidade -
lindos
como
sempre

estamos apodrecendo
enquanto amaciamos a carne,
esticamos a pele
e maquiamos os vermes

a beleza está nos olhos de quem vê
tenho medo
prefiro não encarar
e se não estiver nos meus?

assim ao menos vou bonito,
imagino,
e que me esperem no fim da passarela
dessa 
vida
bela

e se insistem em perguntar
como vai?
respondo sempre
muito bem, obrigado

melhor mentir
a encarar os cacos
de fato
me mato?

não

aguardo a morte chegar
sorrindo
com sua cara 
que muito me agrada
de caveira
seca

ao menos vou melhor que ela

Isaac Ruy

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A cidade

A cidade cede luzes, cede asfalto
a seus ratos e baratas, sua elite
Requebrando um pé descalço um salto alto
altos brados, vai cantando o novo hit

A cidade pede grana, teme assalto
violenta, e que ninguém desacredite
Litorânea, lá da serra, do planalto
pisa fundo, passa muito do limite

Bebe todas, passa a noite toda insone
e amanhece criticando a vizinhança
A cidade, perna fina e silicone,

quer memória, quer notícia e confiança
Muito embora deixe nome e telefone
a cidade não te espera nem te alcança.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

artificial

já não suporto essa natureza frágil
que me inspira amores eunucos
e perfumes presos à lendas

tentei por anos retirar a bonequinha
loura e perfeita que me impuseram
velei e enterrei todas em meu quintal

e de certa forma elas voltam mortas
para atacar essas pequenas verdades
quem dera a beleza não valesse nada

tentei ser Monalisa de sorriso mestiço
sem adornos nos olhos, sem vaidades
seguem-me peitos sal e risos postiço.