quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Paraíso


1
muito além das plantações de agrotóxicos
esquecido depois da derradeira ponte

do último homem que por ali passou
não resta o menor vestígio

o que ele viu – há tantos anos atrás –
é o mesmo que um satélite vê agora
da imensidão do espaço sideral

nenhum dos dois sequer suspeitou


2
onde hoje a árvore produz sombra
o prédio da prefeitura se erguerá

o rio prateado pelo sol
escorrerá
sinistro & pesado
dentro de uma galeria

pouco depois da colina
um sinal de trânsito determinará o fluxo
para o que agora é só vale e vento

3
sobre esse chão as pessoas
conhecerão fome e sede
e lutarão até as últimas forças

onde hoje prospera a grama miúda
a estátua de um boçal apontará o dedo
para a imensidão do espaço sideral


15/08/15

domingo, 13 de dezembro de 2015

O (des)encontro


Jovem e idealista, andava pelo mundo “procurando se encontrar”.

Foi encontrado antes, por uma bala perdida.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Viver e recordar


Depois de muito tempo, descobriu-se que, na verdade, os responsáveis pelas pinturas nas cavernas não foram os homens, mas sim os antílopes, mamutes, tigres e gnus. Cada espécie havia feito suas pinturas em homenagem a seus mortos durante as batalhas do dia a dia. Somente após terem encontrado estes registros é que os homens começaram a fazer os seus também.
Atualmente, os homens são os únicos a manter registros além das marcas no corpo e na alma. Os outros animais não têm dúvida de que ainda demoraremos a perceber que é melhor viver do que recordar.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Preciso




Descente 
racha cabeças

não há sutilezas

sangue farto
escorre das mãos

mancha o teclado

boca certa
gosto ferroso

língua bifurca cala

escorre dos olhos 
transforma letras

alimenta o machado

depois adormece
feito criança

o sono dos justos


Joakim Antonio


Imagem: Axe head by Evillatenighttv