domingo, 27 de julho de 2008

Joãozinho Nerd Faz Poesia




Joãozinho inscreveu-se no concurso de poesias da universidade. Mostraria a todos que em sua gigantesca cabeça, além da Álgebra, da Trigonometria, da Biologia, da Química e da Física Quântica, havia espaço para a Lírica. Escreveria sobre o amor, algo assim bastante singelo. Horas depois, meio zonzo e muito exausto, concluiu a árdua tarefa. Sorriso nos lábios, satisfeitíssimo com o resultado, sentindo-se o poeta, leu seu texto em voz alta:

Poesia do Amor, da Paixão e do Coração

Com A escrevo Amor,
Com P escrevo Paixão,
Com C, C, V, V, A, A, V, A, V, A, V, M, C, V, V, V escrevo Coronária Direita, Coronária Descendente Anterior Esquerda, Coronária Circunflexa Esquerda, Veia Cava Superior, Veia Cava Inferior, Aorta, Artéria Pulmonar, Veias Pulmonares, Átrio Direito, Ventrículo Direito, Átrio Esquerdo, Ventrículo Esquerdo, Músculos Papilares, Cordoalhas Tendíneas, Válvula Tricúspide, Válvula Mitral e Válvula Pulmonar,
Que moram no meu coração.

Carlos Cruz - 12/06/2008

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Hiperbóreos


tela de Peter Max



Quisera que além das fronteiras
houvesse um outro mundo,
encravado debaixo desse mesmo céu –

onde homens como eu,
retirados do mesmo fosso,
tivessem aquilo que nos falta.

Por detrás de suas portas
tudo não fosse previsível e amargo:
a lida não exigiria o coração dos filhos,
o prazer da mulher anulado até segunda ordem,
as horas fraternas adiadas
para outro data, em outro lugar.

O dia, para acontecer, não necessitaria
mastigar a ponta de seus dedos
– beber o suco de sua imaginação
– minar o combustível de seus sonhos.

O dia, para funcionar, não exigiria
uma nova geografia nos rostos,
(uma imensa ferida aberta)
– o riso e o bocejo aniquilados
– o nome perdido em meio aos escombros da face
resistindo mumificado na foto do crachá.

Quisera que dobrando a linha próxima
houvesse uma outra terra,
mera continuidade dessa que por ora piso –

onde a lei não exigisse uma
travessia diária com o sol posto nas costas
afim de aquecer a piscina e corar as senhoras
de boa educação.

A ordem não obrigasse uma
rigidez marcial ao espetarem a lua no céu,
mantê-la acessa na janela das nights clubs
e pratear os passos de dança no gran hall.

Onde um decreto não impusesse
a manutenção e a conservação das estrelas
para acalentar o sonho dos pequenos
e ilustrar o triunfo dos bons moços.

Quisera que debaixo de seus tetos
houvesse mais que um fiapo de descanso
velado por um cão
ou um outro alarme estúpido qualquer –

que vencendo o limite adiante
existisse uma outra região,
habitada por homens como eu,
organizados num mesmo caldeirão –

onde os filmes de Chaplin
não fossem meros passatempos cômicos

e Chapolin Colorado não estivesse
lutando contra um demônio fictício.

Não fosse necessário afiar os dentes, as unhas,
sair de casa com uma faca no bolso da calça –

sem um dicionário de ódio no criado mudo
seria possível despertar, ir ao supermercado.

Quisera que após o perímetro adiante
houvesse um outro mundo,
situado no fim da rua que por aqui passa –

habitado por homens como eu.




* Poema inédito.

domingo, 20 de julho de 2008

Amigo é coisa...


Amigo é uma palavra que abriga duas pessoas
Não dá pra dizer o que é ser amigo
Porque não é possível ser amigo no sentido de estar
Porque amigo é um Ser
E o Ser amigo surge inesperadamente
E é de repente que o reconhecemos na lembrança
Que a própria memória se encarregou de guardar

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Profissional Liberal


O fiscal do trabalho sai da casa avermelhada e conclui: realmente não havia profissional mais liberal que a prostituta.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Lamento da Musa Triste

www.deviantart.com by Morskaya


Sou tua fada nua
Oh! Poeta dos vendavais!
Uma musa triste
Deveras cansada de esperar
Por seu poeta ausente...
Que em riste finge
Sem queixas ou pranto no olhar
Sorriso de musa que se sabe amar...
Ponho-me a buscar
O fio do rio que leva ao mar
E o vento bate em meus labaredos cabelos
Que, quais asas, aspiram em tua procura voar
Perfeita teia vermelha fervilha em meu corpo
Delineado por teu negro olhar
Olhos que em busca de inspiração
Já me fizeram tua
Tantas vezes, tua

Caroline Schneider