sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Reflexão Dela












concluiu

os

cabelos

com Wella

siliconou

as

ideias depois

cortou

os

pulsos toda

bela

!


- Graça Carpes -


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Teu Nome



O proclamo do silêncio
Revigora o sangue interior
O Teu Nome que eu chamo
É a cura da minha dor

Na união com a minha pele
Eu me faço um clamor
Na libertação da minha fé
É o Teu Nome que dá amor

Na dificuldade dos anseios
Eu recaio em torpor
Mas tua força me suporta
O Teu Nome é libertador

Na glória da sabedoria
A alma busca o crescimento
Um elemento imprescindível
O Teu Nome é o meu sustento

domingo, 24 de outubro de 2010

do livro comerciais de metralhadora


...


Faço para ti um colar de cobra coral

Orno teus pés com chocalhos de cascavel


tua foto sorri no sorriso da boca do sapo

Oferto teu boneco de vodu às pás do arado


(revivo tuas cicatrizes de criança

reescrevendo o idioma de sua dor)


Selo um verso para ti com a brasa de meu cigarro:

um buraco é o teu ponto final




sábado, 23 de outubro de 2010

Vadio





Não, dona lua, não se incomode
não precisa se retirar
e não sorria se não quiser;
não sou um lobo
uivando na madrugada
nem um solitário qualquer
remoendo antiga dor,
sou apenas um poeta
buscando inspiração
para o poema perfeito
capaz de matar esse amor
que quase me para o peito.
Calma, dona lua, fique tranquila,
posso ser um gato no telhado
Ou outro apaixonado na janela -
o revés da canção de ninar.
Mas não vou tomar seu lugar;
quero apenas a sua luz
para iluminar este papel
onde rascunho uns versos
e tento alcançar o céu.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Para sempre


De olhos fechados, eu me movia para cima e para baixo, como um pêndulo, no movimento circular que ele, sob mim, mãos machucando-me o seio esquerdo e a cintura, tanto gostava. Gozei primeiro e, sem pressa, esperei até que ele gozasse, para cravar o canivete, três centímetros e meio à direita da metade do pescoço, abrindo-lhe, a um tempo, a jugular e a carótida, no momento exato em que, dentro em mim, ele jorrava. Sempre ouvi dizer que morrer na hora do orgasmo eterniza o gozo.



Márcia Maia


em Dedo de Moça, uma antologia das escritoras suicidas

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Paco não pode escrever hoje porque levou uma picada de vespa e está no hospital (ela é alérgica a insetos).

Aí ela me pediu por telefone pra eu vir aqui e escrever que isso é praga, porque ela sempre escreve no dia 10 e dessa vez deixou pro dia 19 e se deu mal.

Eu não entendi nada, mas fica o recado.

Um abraço aos manufatores, e obrigado pela compreensão.

Ah, ela disse pra não ligarem pra ela porque ela não tem como atender (não tem mesmo, porque eu fiquei com o celular dela na mochila....ela vai me matar!)

sábado, 16 de outubro de 2010

Cotas

Local: balcão de informações de uma universidade fluminense (mas poderia ser em outro Estado);

Personagens: jovem vestibulando descendente de alemães;mocinha do balcão de informações.


Cena única:
— Bom dia.
— Bom dia.
— Queria saber a quantidade de vagas para Direito, à noite.
— Cento e vinte.
— Hmmm, tá bom.
— Mas tenho que alertar que trabalhamos com o sistema de cotas.
— Ah, tá. Então me explique.
— 25% dessas vagas estão reservadas para negros e afrodescendentes.
— Hmmm...
— Outros 25% são reservados para estudantes de escolas públicas.
— Caramba! Só aí já deu metade das vagas!
— Pois é, mas não acabei.
— Tem mais??
— Sim.
— respondeu a moça do balcão, enquanto pegava uma lista que até o momento passara despercebida.
— A universidade preocupa-se com os vários problemas histórico-étnico-sociais do país e por isso desenvolveu um exclusivo sistema de cotas que privilegia proporcionalmente a parcela minoritária da população.
— ????
— Vou explicar detalhadamente. — telemarketinguizou. — Eu havia dito que 25% das vagas são reservadas para negros ou afrodescendentes e 25% para estudantes de escolas públicas, não foi?
— Foi.
— Outros 10% são reservados para negros ou afrodescendentes E estudantes de escolas públicas, mais 10% são para indígenas ou indo-descendentes, outros 10% para pessoas que precisam pegar ao menos três ônibus para chegar à universidade... — está acompanhando meu raciocínio?
— ????
— Ótimo. Mais 5% para ex-presidiários, igual porcentagem para albinos e também 5% para os calvos, e finalizando...
— Tem mais??
— Teeemmm... a fim de se preservar o patrimônio imaterial futebolístico carioca, reservamos 1,5% para os torcedores do glorioso América!
— O QUE?? Até os torcedores do Ameriquinha tem esse privilégio?
— Sabe como é, o América é o segundo time de todos os cariocas, é verdadeiramente o time que faz reunir toda a massa do futebol do Rio.
— Putz, e o que me sobrou?
— 3,5%.
— Só isso?
— Não, me desculpe me enganei... esse meio por cento está reservado para os anões. Sobraram então 3%.
— E isso em número de vagas dá quanto?
— Três ponto seis.
— E a senhorita pode me responder o que é que vocês fazem com “zero ponto seis” de uma vaga?
— Bom... desculpe-me de novo, sou nova aqui, dessas “três ponto seis” vagas, “uma ponto seis” ficam para os obesos... é que eles precisam de uma cadeira maior para sentar-se. Nossa faculdade se preocupa com a ergonomia e o conforto dos alunos.
— Tá bom. Então na prática só tenho direito a duas vagas?
— Exatamente.
— E o que você acha disso?
A mocinha se debruçou sobre o balcão e sussurrou no ouvido do vestibulando.
— Confesso que eu acho até democrático: transformou todo mundo em minoria...
OBS: texto também publicado no www.prosaseviagens.blogspot.com (propaganda é a alma do negócio...)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Broto

Quando ela insistiu, afiando-se nos esforços para convencê-lo ao desencanto, ele disse pausadamente:

- Todas as rosas têm espinhos, mas nem todas as espinheiras têm rosas.

Ela desabrochou.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Alma da terra



Trago dentro de mim o canto das lavadeiras,
nas batidas do coração o crepitar de lenha seca,
cor de café feito com pedra quente da fogueira,
como água de cacimba o sangue em minhas veias.

Foi me dada a força da rapadura com farinha,
garganta protegida com mel do oco da árvore,
corpo purificado nas águas dos rios e açudes,
mente formada por contos da terra semiárida.

Pés que conhecem o prazer de andar na terra,
mãos que escrevem a cultura oral repassada,
olhos que descobrem toda beleza do simples,
voz que narra as lições das parábolas do sertão.

Minha alma veio de viajem no pau de arara,
fez parte dos sonhos de retorno para casa,
veio nascer nessa grande selva de pedra,
mas canta, dança e pertence à nossa terra.

Joakim Antonio

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dos quereres e do espanto



sob o manto escuro da noite
vem teu corpo aos meus assombros
privilégios feitos de açoites
forçar-me o fardo sobre os ombros

ante prazeres e desconfortos
o gozo singelo de um coice
a ceifar-me o peito a foice
de quereres absortos

do céu ao chão reluz febril
a inconstância de suas tranças
aos nossos olhos o teu ardil
inveterado feito dança
transpõe as chamas em acalanto
num último grito de espanto.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Excesso

eram muitas intenções e quase todas
nossas boas condições pra vôos curtos
eram muitas distrações tantos assuntos
que passávamos de pasmos para tontos

sobreveio um ponto cego prato pronto
e o que antes fora sol tornou-se surto
do que foi tão evidente só um vulto
afogado numa gota dessas ondas

nos sentimos arrepios e descompassos
e provamos nossas noites mais vazias
quanto mais abarrotadas de promessas

nos provemos de premissas e cansaços
decidimos como não amanhecia
não tardamos porque o dia tinha pressa

segunda-feira, 4 de outubro de 2010


No primeiro ato, as cortinas se abriram e ela admirou a platéia. Tons surdos a abraçaram nos segundos que precederam o beijo. Calmaria. Pareceu-lhe que deus criou o mundo com a mão esquerda e abstraiu o íntimo das ruas em convulsão, ao final do dia. Seguiram-se aplausos, tombados pela tragicofilia coletiva. Paradoxos. Viu-se a própria Carmem [de Bizet]. Todavia, percebeu-se apaixonada. Ar-re-ba-ta-do-ra-men-te. Não era hora para mimeses de encanto. Minutos suspensos. Cerrou os olhos para dedilhar os vapores se esvaindo de sua promessa romântica. Encontrou forças e fechou as cortinas antes do último ato. Virou-se sem olhar pra trás pra retornar ao seu deserto epicuriano.

Caroline Schneider

domingo, 3 de outubro de 2010

Desconsonância

- Livro bom, meu amor, é aquele gasto, surrado, triturado por olhos que entenderam muito, pouco, ou nada do que eles queriam dizer.
- Gosto dos sapatos, mesmo os de salto baixo, meio ofuscados na vitrina. Sempre fiquei retraída em entrar nas lojas mais chiques, mas agora estou indiferente a qualquer coisa que possa vir a me impedir de comprar meus sapatos. Até as vendedoras que tentam imitar o meu nariz empinado.
- Estávamos falando de livros.
- Ah, é. Detesto aquelas marcas de dedos sujos na lateral branca do livro fechado. Detesto dedicatórias de autores que nunca mais irão se lembrar de seus leitores.
- Você tá amarga...
- Amarga tanto assim eu não estou não, mas, eu detesto esse monte de livros que você junta.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

descrédito visionário
















antes fosse cego
penetrar além da visão
descaminhar pelos banheiros públicos
sentir-se a latrina descontaminada

ser aquele que perambula
de um pólo a outro
na cegueira por excesso
ou por falta de luz

ser aquele que desarma
a alegoria dos fatos
sem decifrar criptogramas
ou desnudar o dito perfeito

antes fosse ele mesmo
um desatrelado social
que se orgulhasse apenas
de sua tagarelice infeliz.