segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Suavidade: era o que mais esperava da vida.


Suavidade: era o que mais esperava da vida.

Ela me olhava fixamente, como se procurasse respostas em meu franzir de testa. Ou num piscar de olhos. Talvez num olhar fugidio a devanear coisas esquecidas no silêncio dos dias. A vida vai empoeirando sonhos, soterrando projetos, minando a alma.

A vida nos fita. Espreitando o primeiro passo em falso para nos passar a rasteira e nos tirar o chão.

Não foi suavidade o que encontrei. Foi o tombo. A queda mais absurda.

O corpo não flainou no espaço; não se levou pelo vento feito pluma que se perde suavemente. O corpo desmoronou como um saco de ossos no chão da realidade.

Arfante e em suspensão suportou o peso da desonra. O coração apertado e a náusea aflorando na boca. Um sorriso amarelo a contornar situações intransitáveis. O desespero de se ver confuso. A loucura de não se encontrar no mundo.

Suavidade: era o que mais esperava da vida.

Mal sabia que carregaria tantos mortos nos ombros. Não supunha as dores que viriam, nem imaginava os rostos que se apagariam ao longo dos anos. Tantos olhares a perderem o brilho, tantas vidas a sucumbirem às doenças. Tantos sonhos amputados.

Ah! Suavidade! Tanta esperança depositada em artefato tão solúvel.

Suavidade: era o que mais esperava da vida.

Ela, porém, brincou com os sentidos. Fardo pesado e mal medido se mostrou. Veio desconforto e fadiga.

Tenho comigo que, em um canto qualquer, ela se ri de nós. De nossas agruras, de nosso desvelo em viver. E, quando o espírito harmoniza com tudo ao redor, vem sorrateiramente mostrar-nos caminhos tão belos e de extrema leveza capaz de se desfazer no emaranhado do tempo que se distrai e nos diz festivo que já é tarde e é preciso dormir.

Suavidade: era o que mais esperava da vida. 

Um comentário:

Francisco Coimbra disse...

DOCUMENTO

Preparando meu testamento para o final do mês, deixo o mesmo começar nesta frase, com: era uma vez…
Desta vez lendo aqui, mais uma vez, comentando. Comentando, mais uma vez, a escrita como consequência de leitura.
Nada mais justo que ler, não ficar apenas… comentando? Esta ideia, a do comentário, a de comentar, é documento!

SUAVIDADE

a suavidade
subiu nas pernas
da madeira da mesa

vindo poisar
as letras

num verso para tu
Assim

SUAVE TU

tu me dás nomes
para saborear
minha vida

assim
todo dia

renovada alegria!
Mim