Para Eduardo Martins Nolli Duarte 
As
raízes
1
Descendo
de uma linhagem  de homens 
que  eram 
chamados
pelo  nome  do rio  mais  próximo  
Como
ela,  mantinham-se íntegros, 
enfeitá-los
com  códigos 
de barra 
& impor  tarifas  de exportação .
brotava
do seio  de uma máquina 
que  subjugava o solo 
esvaziando
o conteúdo  que 
ele  escondia 
fervilhando
nos  rugidos 
das onças 
             
no assovio  do vento .
os
inimigos 
que
nos massacrava, violentava,
respondiam
de prontidão .
o
sangue  na mão 
compartilhado nos 
2
Eu
estava entre  os portugueses
ensinei
aos índios  o beijo 
que  apodrecia a boca 
&
que  corroia os dentes 
–
o
abraço  que 
desfigurava as carnes 
(que  deixa  em  rubor  toda  a técnica 
transformando
sua  água 
em  sangue ,
cobrindo
os leitos  com 
cadáveres , era 
pouco .
e
envenenava as crianças –
3
Descendo
de mulheres 
                        o segredo 
da cura .
Sabiam
extrair  da menor 
partícula  da mata 
a
verdade  sobre 
o todo .
Contemplaram
um  dia ,
na face  da água ,
uma
terra  desolada que 
não  prestava
o
filho  de seus 
ventres  esterilizando o chão 
havia
sido decretada a era  do estupro .
4
e
viviam apenas  do que 
precisavam. 
E
assassinar  nunca 
fora problema 
& na cruz 
o álibi . 
5
Um
selvagem  impressionado
o
homem  de quem 
descendo
tremendo
ao ver  a ponte 
(pouco  antes 
temera o oceano 
Margareth
Tacher agradece. 
6
Descendo
de uma linhagem de homens escuros como o asfalto, velozes como os carros:
homens que foram assassinados em suas pátrias e trazidos para cá, para comerem
a areia da praia e se tornarem donos de dores não-catalogadas.
Os
que ficaram pelo caminho foram estraçalhados pelas lâminas dos corais, viajaram
pelo intestino de tubarões, sedimentaram seus sonhos junto ao assoalho
encharcado do mar.
Foram
lançados de navios como carne podre: mulheres, homens, crianças, reis, heróis entregues
ao dorso suado do oceano e suas milhares de garras.
Para
futuro semelhante foram arrastados os que a travessia preservou: 
–
para cultivar os bigodes dos coronéis
–
para manterem impecável a fazenda das mocinhas
–
para financiar os estudos em Paris ou Coimbra
de
vagabundos jovens advogados.
A
língua que colocaram em suas bocas não podia ser entendida pelos seus deuses,
enfurnado no alto-demais das nuvens – pululavam jesuítas com seu livro que
pesava uma tonelada. 
Aqui
ficaram sozinhos os homens de quem descendo: a solidão que havia era a mesma de
todo lugar – eles apenas a aperfeiçoaram.
Um comentário:
APARIÇÃO
Aperfeiçoando a perfeição, uma aparição/parição, apareceu/desapareceu.
Parabéns!
Postar um comentário