quinta-feira, 22 de novembro de 2007

TROPA DA ELITE



Ingênuos que lêem Foucault

Heróis que empalam garotos

Toda ajuda é hipócrita

Tortura é a solução

Morte à alteridade

Aplausos histéricos à autoridade

Dos caminhos o mais curto,

o mais fácil.

Fácil?

Desde que não atrapalhe o trânsito

e que não manche de sangue

os nossos sapatos, calçadas e filhos.

E desde que não perturbe nossas refeições.

Não nos embrulhe os estômagos

com a desagradável visão desses

pretos,

pobres,

sujos e maus

garotos estraçalhados.


Quem somos nós?


Pretensa elite que goza o mundo

e que cheia de medo

assina cheques, contratos e penas.

Elite que, cheia de dentes, berra:

Paz!

Justiça!

Honra!

Basta!

Basta de tiros em nossos quintais,

de mendigos em nossas calçadas,

de malabaristas em nossas esquinas.

Paz

no asfalto

na escola

no shopping.

Paz, no morro, engatilhada

Cano ainda quente

sujo de saliva e medo.


Pobreza pacificada,

silenciada até o próximo carnaval.


Salve a liberdade burguesa,

a invisibilidade do outro,

os gritos que não descem o morro!

Um viva aos novos heróis da pátria

com seus uniformes negros!

Carrascos com carteiras assinadas.

Durmamos em paz

e deixemos pra eles a honrada missão

da manutenção desse nosso gozo infindável...

3 comentários:

Freddie disse...

Pois é, né. A pena de morte já é permitida no nosso país e eu nem fiquei sabendo, só depois de assistir ao filme, só depois que eu vi pessoas radiantes, com os olhos brilhando diante das imagens de tortura e morte. A tropa só aparece pra silenciar, mas será que esta tropa está mesmo acima de qualquer suspeita? Já que está instaurada a pena de morte em nosso país, queria saber quem julga? Como julga? No cinema a gente tem controle de personagens, personalidades e caráter, e na vida? E no morrão? Quem? hein? Quem garante essa moralidade acima de qualquer suspeita? Gostei do seu texto, ele lançou luzes sobre algumas questões que me incomodaram no filme. Parabéns, abraço!

L. Rafael Nolli disse...

Olá, meu camarada! Um puta poema! Particularmente eu gostei muito do filme. Acho, no entanto, que a massa tem feito uma leitura equivicada - pessoas com tendencias facistas estão aos pulos, encontraram os seus heróis. Vejo no filme uma denúncia à tortura, a violência, e uma séria de coisas, enquanto que os expectadores retiram da obra um aval para justificarem a fé na coerção! O poema é muito bom mesmo!

medusa que costura insanidades disse...

È Thomas,lendo o poema,fui percebendo que era seu.....nunca ning~uem te calará e seu grito é sempre contudente,uma revolta justificada
bjos
Rita