segunda-feira, 4 de outubro de 2010


No primeiro ato, as cortinas se abriram e ela admirou a platéia. Tons surdos a abraçaram nos segundos que precederam o beijo. Calmaria. Pareceu-lhe que deus criou o mundo com a mão esquerda e abstraiu o íntimo das ruas em convulsão, ao final do dia. Seguiram-se aplausos, tombados pela tragicofilia coletiva. Paradoxos. Viu-se a própria Carmem [de Bizet]. Todavia, percebeu-se apaixonada. Ar-re-ba-ta-do-ra-men-te. Não era hora para mimeses de encanto. Minutos suspensos. Cerrou os olhos para dedilhar os vapores se esvaindo de sua promessa romântica. Encontrou forças e fechou as cortinas antes do último ato. Virou-se sem olhar pra trás pra retornar ao seu deserto epicuriano.

Caroline Schneider

3 comentários:

L. Rafael Nolli disse...

Olá, Caroline! Belo texto. Me senti na platéia, observando um belo drama! Abraços!

Rui Ventura disse...

Lindo seu Texto Carol...

REDES SOCIAIS E...o CARÁTER RESPEITO E RESPONSABILIDADE disse...

Texto Lindo....