sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ossos do ofício


            Augusto era publicitário. E dos bons. Tinha sua agência própria, um templo da diversão, com TVs de plasma, videogames variados, uma sala com mini golfe e mais outras distrações. Para a magia acontecer. Ia matutando um trabalho até que a lâmpada ascendia em sua cabeça e zás!, eureka!, outro contrato bem sucedido.
            Quando o governo estadual contratou sua agência, Augusto pensou que agora o céu era o limite. Mas não. Diante de uma greve dos professores que arrastava-se há meses, o governador partiu para uma tática agressiva: propagandas jogando a população contra os grevistas. Eles prejudicavam o trânsito, os serviços e o futuro da mocidade. Assim deveria ser dito.
E Augsto viu-se em uma situação inédita. Sabia que seu trabalho era vender aos outros coisas das quais eles não necessitavam. Venderia camisinha para freiras, se fosse necessário. Mas atacar professores, a classe mais injustiçada dentre todas, que provavelmente reivindicava o básico?
Ficou dias sem dormir. Em vários momentos, quase abandonou o trabalho. Augusto descobriu, quem diria, que tinha ética.
Mas, após tantas reflexões, ele o fez. Afinal, ossos do ofício. Nada de céu ser o limite: essa não era a meta dos publicitários. Antes, pelo contrário. 

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