Deixo o Natal, quem o quiser celebrar pode pensar em Jesus,
nas crianças, prendas, a_prenda: o que invento é só uma estória!
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
hoje acordei com uma tremenda vontade de dar um tiro na cabeça
esta é uma vontade recorrente
um desejo que me acompanha desde que me conheço por idiota
em geral, nessas horas, costumo não dar atenção
um desejo que me acompanha desde que me conheço por idiota
em geral, nessas horas, costumo não dar atenção
noutras vezes acabo mesmo me dando um tiro
mas não sirvo nem mesmo para segurar uma arma
e de todos os disparos que já dei
o mais próximo passou pela janela e matou meu cachorro
mas não sirvo nem mesmo para segurar uma arma
e de todos os disparos que já dei
o mais próximo passou pela janela e matou meu cachorro
resolvi parar com as tentativas antes que a próxima bala fosse parar no vizinho
o que lá não seria má idéia
mas se fosse preso, não teria condições de portar uma arma
e na prisão, com certeza,
mas se fosse preso, não teria condições de portar uma arma
e na prisão, com certeza,
teria vontade de sentir o gosto de pólvora em minha boca.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
#microconto 4
Deslizava a faca na barriga suína e vibrava quando os órgãos do cadáver saltavam para fora. Era seu trabalho e ele o adorava.
Não tinha namorada. Talvez não fosse coincidência.
Não tinha namorada. Talvez não fosse coincidência.
sábado, 24 de dezembro de 2011
Memórias à beira de um estopim
XXXVI31/12/03
...e é, na mesa , que nos diferimos. É na ceia que nos diferenciamos. Esse ano que passa nos mostra mais uma vez que é a mesa (repleta ou escassa ) que nos divide em pólos distintos .
... logo , a criança que se debruça sobre a lata de lixo irá parar por um instante para ver os fogos ... senhor , zelai pela nossa miséria! Que as latas de lixo amanheçam repletas! Que assim seja!
Mas que seja hoje , senhor , pois esse ano-velho amanhã será tão velho quanto os ossos do peru que o cão enjeitou, e que apodrecem na rua... tão velho quanto a fome do menino de ontem , debruçado, um lixo ... amém .
.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Hurt

foto: strany
Ele disse: "Você é um anjo!" - e piscou um dos olhos, como sempre fazia para conquistar...
Parecia ter passado uma década, e ainda não tinha terminado o primeiro cigarro. Ela sabia dele o tempo todo, e centelhas brilhantes ao seu redor - luzes de Natal.
Ele trazia seu perfume torpe e um sorriso safado... ela sabia, o tempo todo.
Piadinhas, sorrisinhos e uma dorzinha chata do lado esquerdo.
Ela disse: "Você sempre tem resposta para tudo!" - e pensou que aquilo desanuviaria seus sonhos... não bastou.
O rosto impúbere lhe marcara as retinas, e ela desistiu de fechar os olhos.
Sempre soube do caminho sem volta que é a paixão. E tinha medo.
Temia o frio que fica quando a paixão acaba, e o vazio que se aloja no peito quando a ilusão se desfaz.
Era mesmo uma batalha perdida.
Ela tentou lembrar de quem era antes dele, de sua vida...
Lembrou-se de quando ele segurou suas mãos e se declarou um cavalheiro.
Ela soube então que a canalhice é imensurável, e saiu.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Fim de linha
Esperara hora e meia e quando o maldito do ônibus passou, não parou. Mais meia hora, um novo se aproxima, reduz a velocidade e segue adiante, sem parar. Tem impressão de ter visto o motorista observá-la por um instante, antes de tornar a acelerar, mas não tem certeza.
Começa a chover. Chuva de vento, como se já fosse agosto: não adianta tentar se abrigar. Não há mais ninguém na rua, àquela hora. Só ela, a chuva e o ônibus que tarda a passar. Quando, uns quarenta minutos depois, avista mais um se aproximando, toma uma decisão radical e se põe, em pé, no meio da rua, encharcada, acenando com as duas mãos. Das duas, uma: ou o ônibus pára ou a atropela, porque, depois de tantas horas à espera, está disposta a tudo e dali não arredará o pé. E mais uma vez o ônibus passa. Como uma rajada de vento. Morno. Sobre ela. Sem parar.
Exausta, senta-se à beira da calçada. A chuva parou. A noite já quase finda. E em sua mente uma pergunta, como um eco, se repete: terá realmente morrido quando o botijão explodiu na cozinha do motel onde trabalha ou será apenas a continuação do pesadelo onde sonhou a tal explosão? E, por não saber a resposta, permanece à espera do próximo ônibus. Talvez apareça alguém para esperar com ela. Ou, quem sabe, com um pouco de sorte, da próxima vez, haja alguém recém-desencarnado, como ela, à direção.
Márcia Maia
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
Vênus de Milo e os Anéis de Saturno
Somos signos soltos e saqueados
Anéis de Saturno e Vênus de Milo
percorrendo trajetos efêmeros e circunstanciais ao acaso
em nossa torta órbita não habitamos
nossas translações desconexas
que são como satélites com sua luz própria
incandescentes
criaturas enternecidas pela apatia
arraigadas em nexos prolixos agonizantes
III
Flávia Amaro
percorrendo trajetos efêmeros e circunstanciais ao acaso
como um cão pedinte
amparava torniquetes
sibila de silvo surgia
zuuummmmmm, zunia
algum “start”
um despertar quaquer
acontecia.
Flávia Amaro
Link para a postagem original em: CRONICAMENTE ORGÂNICA: Vênus de Milo e os Anéis de Saturno
sábado, 17 de dezembro de 2011
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Audácia
Pela primeira vez em trinta anos, ela olhou fundo, bem nos olhos do marido:
- Você que falou para o menino não se amiudar?
Ele ficou surpreso com a novidade do enfrentamento, corrigiu a postura e falou com ar superior e desleixado - como se respondesse só porque queria mesmo:
- Falei sim, filho meu não traz desaforo para casa!
Mordendo o lábio inferior e contraindo as quinas dos olhos, ela continuou:
- Não traz mesmo. E nunca mais vai trazer
Ele ainda tentou abraçá-la, mas o bote da mão esquerda o afastou daquele choro que era só dela.
domingo, 11 de dezembro de 2011
Eternas crianças
"E eu nem quero fingir que sou gente grande."
Renata Fagundes
Na verdade ninguém é gente grande, aliás somos só grandes e ninguém deixa de ser criança, só não admite. Você quer brincar com os amigos, quer colo, cantar músicas e comer coisa gostosa. Não vê a hora de chegar em casa, e os melhores momentos, são os de fazer nada importante, falar besteira e beijo melado.
Joakim Antonio
sábado, 10 de dezembro de 2011
Iluminismo pós-moderno
Quando as luzes do passado se apagam,
as trevas invadem.
Caminhando sem saber para onde;
Buscando sem saber porquê;
Contruindo sem saber pra quem;
a arte tateia sentidos.
as trevas invadem.
Caminhando sem saber para onde;
Buscando sem saber porquê;
Contruindo sem saber pra quem;
a arte tateia sentidos.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Sociedade anônima
I
acordou no chão frio
com a boca amarga
e com a roupa suja
de vômito seco
pensou em quanto tempo
estava ali
mas deitou novamente
não importava
era só mais um dia
como qualquer outro
II
fumou o cigarro
sentado na privada
um vestígio de prazer
num dia difícil
para não desconfiarem
deu uma descarga
que levou junto
a bituca
e seus sonhos
de criança
III
aurora
juntou as latas de refrigerante
caixas de doces
garrafas de suco
embalagens de salgadinhos
amontoou no carrinho
e então fez sua primeira
e única
refeição do dia
crepúsculo
IV
penteou os cabelos
passou batom
rosa
sua cor preferida
colocou o vestido
rosa
seu preferido
e foi trocar sua infância
por dinheiro
na esquina mais próxima
V
passou o dia
na fila
gemendo
chorando
implorando uma chance
à aquela que
agora
dormia
no túmulo
de sua barriga
VI
noite de chuva
encontrou um canto seco
para deitar
se cobriu com o jornal
molhado
que estampava a notícia
da morte do amigo
queimado
os olhos abertos
também choviam
VII
atento
olhava a mãe e a criança
o modo como sorriam
o carinho que lhe era estranho
ausente
num ato de coragem
se aproximou
e levou a bolsa
para matar a fome
que lhe acariciava as entranhas
VIII
dividia o que tinha
com os amigos
naquela
noite
era uma lata
queimando crack
uma ponta de baseado
e um pouco de
tristeza
e abandono
IX
no semáforo
passava pelos carros
pedindo ajuda
por ser surdo-mudo
os motoristas
em solidariedade
se faziam
de cegos
protegidos pelos vidros fechados
e pelos óculos de sol
X
na calçada
as mãos
como pétalas
se abriam para pedir a esmola
os pés
cheios de feridas
espinhavam o olhar alheio
lhe garantiam a subsistência
e não saravam
graças a Deus
Isaac Ruy
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Atemporal
Poemas escreviam
na tessitura das manhãs
manhas instigando sonhos
florescência inquietante
inquirindo desafios
Poemas escreviam
na casca de árvores envelhecidas
profusão de ecos e silêncios
um hino ressoando livremente
nos confins dos tempos
Poemas escreviam
nas gotas escoando imprecisas
imprevisíveis memórias crescentes
se expandem latentes
arrastadas ao vento
Poemas escreviam
na imponderável simultaneidade
eventos circunscritos na pele
marcas rudimentares
mapeavam os vincos
do tempo
Poemas escreviam
na vertiginosa soleira:
poeira assentada
na funda ampulheta.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
O violino
Entrou no ônibus com a grande caixa escura que continha um violino. Seu assento era na janela e foi tratando de depositar com todo o cuidado o volume na prateleira sobre os bancos, como uma mãe colocaria seu bebê no berço. Pensou que se o ônibus corresse além do normal poderia danificar o instrumento. Teve a ideia de retirar umas camisas usadas de dentro da bolsa e com elas fazer uma “cerca” de proteção. Pronto. Estava bom. A caixa não deslizaria no porta-volumes.
Sentou-se no lugar marcado no bilhete. Arriou as costas da poltrona e fechou os olhos. Um universo de melodias lhe brotava da mente desde criança. Bastava cerrar os olhos como agora e a música nascia fácil, sinfonias e mais sinfonias que ia ouvindo por dentro, recolhido em si mesmo, abraçado a seu silêncio. Belas e únicas, suas sinfonias interiores o tornavam o maior compositor de todos os tempos, mais virtuoso que Mozart ou Beethoven. E apenas um mortal podia ouvi-las. Era, a um só tempo, compositor e plateia, instrumentista e regente.
O ônibus correndo e ele a escutar sua obra inédita, surgida nota por nota enquanto as rodas iam devorando a massa asfáltica...
Pena mesmo era nunca ter podido estudar música, não dominar nenhum instrumento. Tentara uma vez o violão, mas lhe faltava concentração, pendor, aquela vontade visceral que faz a gente se mover em direção a um objetivo. Jamais tivera nas mãos um violino, que, aliás, nem era seu. Era de um amigo que estudava música no Rio de Janeiro. Estava tão só transportando-o, porque o outro viria mais tarde com muita bagagem e um teclado. Mas os demais passageiros não sabiam disso e, vendo-o com a caixa, com certeza o teriam na conta de um violinista. Não era. Apenas construía dentro dele sinfonias perfeitas.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
ensinou-me os paraísos
em todos os sentidos
aguçou minhas sensibilidades
debulhou imprecisas possibilidades
foi-se sem aviso
dilacerar novos seres...
e no negro da noite
esperei por ti
reinventei-te
em tragos descomunais
porções de haxixe
campos de papoulas...
e no negro da noite
entreguei-me a outros braços
a outros vícios
quis-me paraíso narciso
com cipós brotando nas narinas
seus olhos habitando minha vagina...
e no negro de meu ser
seu sexo ereto em minha boca
o martírio de vitórias-régias
em meus olhos
acordo sozinha
vazia de nós.
aguçou minhas sensibilidades
debulhou imprecisas possibilidades
foi-se sem aviso
dilacerar novos seres...
e no negro da noite
esperei por ti
reinventei-te
em tragos descomunais
porções de haxixe
campos de papoulas...
e no negro da noite
entreguei-me a outros braços
a outros vícios
quis-me paraíso narciso
com cipós brotando nas narinas
seus olhos habitando minha vagina...
e no negro de meu ser
seu sexo ereto em minha boca
o martírio de vitórias-régias
em meus olhos
acordo sozinha
vazia de nós.
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