Esperara hora e meia e quando o maldito do ônibus passou, não parou. Mais meia hora, um novo se aproxima, reduz a velocidade e segue adiante, sem parar. Tem impressão de ter visto o motorista observá-la por um instante, antes de tornar a acelerar, mas não tem certeza.
Começa a chover. Chuva de vento, como se já fosse agosto: não adianta tentar se abrigar. Não há mais ninguém na rua, àquela hora. Só ela, a chuva e o ônibus que tarda a passar. Quando, uns quarenta minutos depois, avista mais um se aproximando, toma uma decisão radical e se põe, em pé, no meio da rua, encharcada, acenando com as duas mãos. Das duas, uma: ou o ônibus pára ou a atropela, porque, depois de tantas horas à espera, está disposta a tudo e dali não arredará o pé. E mais uma vez o ônibus passa. Como uma rajada de vento. Morno. Sobre ela. Sem parar.
Exausta, senta-se à beira da calçada. A chuva parou. A noite já quase finda. E em sua mente uma pergunta, como um eco, se repete: terá realmente morrido quando o botijão explodiu na cozinha do motel onde trabalha ou será apenas a continuação do pesadelo onde sonhou a tal explosão? E, por não saber a resposta, permanece à espera do próximo ônibus. Talvez apareça alguém para esperar com ela. Ou, quem sabe, com um pouco de sorte, da próxima vez, haja alguém recém-desencarnado, como ela, à direção.
Márcia Maia
2 comentários:
escrevendo bem tb na prosa. :)
gostei! um beijo
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