segunda-feira, 1 de julho de 2013

monções




não há argumentos neste lugar
só olhos vesgos de um mentir torto
tão verdadeiro quanto notas de seis
pois as de dois já existem

não peço nada além de sua presença
e nem assim se sente satisfeito
com o desprendimento grevista
sem platéias ou discurso inflamado

vermelhos, não de dor e sim de torpor
os lábios riem e mangam de repique
o piquete de elogios vazios 
e críticas destrutivas

acusa-me: "mentirosa, mentirosa"
como se ser falsário e ludibriador
fosse mérito apenas dos impuros
e cruéis de plantão

nunca tive medo das palavras atravessadas
cheias de desprezo e de escárnio
pois quem desdenha em algum momento
quer apenas adquirir algo com preço de lambuja

essa liberdade sonora que prega
é tão tênue quanto fumaça no vento
e saiba que nada se perdeu
é a velha lei da relatividade
ou talvez a farpa no olho do outro

estamos sempre presos a algo que desgostamos
ou que no mínimo não nos orgulhamos muito
e a maioria dos castelos são de areia
que a onda da realidade teima em derrubar

para quem não gosta de clichês
a vida ensina que poucos saem deles
e perdi a conta de quantas rimas pobres
habitam meus poemas de baixa qualidade
e não paro mais pra contar
  
já não me interessa quem é
ou de quanto espaço precisa
não temo estrelas ou buracos negros
como digo as coisas acabam sem deixar de ser

e mais uma vez me olha nos olhos
simulando uma quase verdade
como se já não conhecesse a marcha
aquela de arranque que precede a fuga

tantas vezes já vi outros aqui
fazendo o mesmo que faz agora
não sabe pedir ou implorar
mas se dá à demagogia verborrágica
do confronto sem causa

desaprendi de esperar
mas nada mais há além do tempo
e ele passa rápido demais
para que eu fique só olhando.

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