Владимир Ильич Ленин fez do mais livre pensamento uma espécie de religião; da busca por igualdade e justiça a repressão. Mentiu, deturpou, isolou-se. Metamorfoseou em ícones os que faziam ao mundo um convite à reflexão. Atrasou a luta em ao menos um século. E hoje, por outro lado, vemos cá e lá, como se saíssem de bueiros, os deslumbrados atados à suas tristes sinas a decretarem o fim
da História,
do estado de bem-estar,
da verdadeira liberdade,
da responsabilidade pelo outro,
e pelo amanhã.
Homens de bem bradam entre os dentes, nervosos, sorridentes, babando volúpia: “Temos a liberdade!”
...do mercado,
da exploração,
da ganância.
Caricatos filhos de Wall Street, mais um brinde! Mãos trêmulas, ansiolíticos apalpados nos bolsos; sim, cá estão! Próxima dose só às nove, como o doutor recomendou. Está tudo bem, tudo bem... vai passar.
“Ah sim, ô se vai! Estamos trabalhando nisso!”
“Vai passar... tudo vai passar. Sorriam para a foto!”
Como poucos são os cães que ainda ladram e mais raros ainda os que mordem pelos motivos certos, a caravana vai passar, levando tudo e todos com ela. Diziam: “Somente as baratas sobreviverão”. Doces tempos em que o cogumelo era temido. Mal sabiam que a morte já era embrionária, veladamente, dentro de cada um. O assassinato da alteridade era semeado em cada nova assinatura numa folha de cheque, em cada notícia publicada ou filme produzido. Hoje, cá estão as baratas e os ratos olhando para o que restou do passado e vociferando: “Contentem-se, nosso livre mercado os salvou de Владимир Ильич Ленин e similares!”.
Mentira triste, cinzenta e sangrenta... havia tanto a ser feito, eram tão grandes as possibilidades... mas o bode já expiou, as cabeças já foram oferecidas. Agora, quase ninguém mais se lembra do que havia por trás de tudo... restou o espetáculo dos ratos e baratas que bradam entre os dentes, nervosos, sorridentes, babando volúpia: “Temos a liberdade!” ...
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