domingo, 24 de fevereiro de 2008

Memórias à...



XXV
29/07/03

Eu sou um caçador que mergulha na mais nevoenta floresta para dar cabo à caça. Eu caço belas palavras com as quais lapido feios poemas. Eu sou o verdadeiro aproveitador, aquele que, por um mero acaso, tem o sótão aberto por onde os bichos-idéias vêm ver o mundo exterior e os abate, cruelmente, para expô-los em folhas mortas.


Eu sou o sublime egocêntrico que mostra o pensamento morto como bichos doentios em um zoológico; que faz do crânio um pequeno alçapão, uma minúscula prisão, um Awschitz, para arrancar pobres palavras feridas nas moitas, abatidas nos cantos e revelá-las sem vida, sem brilho.

Pois vê, que serviço sujo e ingrato: adentrar no fosso de minha mente e arrancar de lá uma dúzia de palavrinhas mortas para exibi-las, assim, como medíocres bichinhos empalhados, encharcados de formol, impedidos de sua sina derradeira
– feder.



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Um comentário:

Glauber Vieira disse...

Texto incisivo e verdadeiro!