Ó meninino que fui
dono duma infância sabor novalgina
sofrendo delírios por doses excessivas
de xarope para o pigaro e a tosse -
infantil viagem sob o sol anti-Copérnico
dos trópicos, onde te perdi?
Ó fotocópia do pai
imprudente criatura
amassando com o calo dos pés
os caramujos da esquistossomose:
educado naturalmente
por um brejo povoado por destemidos vermes -
que vida era aquela
onde a felicidade se escondia
no pequeno peixe que resistia
em meio as fezes e ao detergente
expelidos pelos intestinos da civilização?
Ó minúsculo sonhador
que escapou do coice de cavalos humanizados
pelas placas de trânsito
e a covivência com as rádios AM -
que motivo havia para se ser feliz
nas axilas daquela cidade
que produzia mangas
e goiabas melhores do que homens?
Ó incansável infante
que o tempo mastigou
até torná-lo meu antepassado:
te procuro tremendo de medo
das guerras televisonadas
em horário nobre;
tremendo de medo
dos vazamentos radioativos
discutidos nas mesas de bar -
que estupidez geográfica te levava
a crer que a tua casa seria o próximo alvo?
Ó ignorante de si mesmo
te procro mijando sobre as flores do jardim
num dia esquecido por todos
por não haver algo de novo nele -
que risos você riu nessas tardes
por nada que valesse a pena
ou merecesse apreço?
Ó curioso moleque
interessado na decomposição dos ratos
na fratura exposta, no fogo nas petroquímicas -
me encontro em ti
no olhar no passo na voz
e retorno em seguida
para a merda de vida que será a tua.
* do livro Comerciais de Metralhadora
dono duma infância sabor novalgina
sofrendo delírios por doses excessivas
de xarope para o pigaro e a tosse -
infantil viagem sob o sol anti-Copérnico
dos trópicos, onde te perdi?
Ó fotocópia do pai
imprudente criatura
amassando com o calo dos pés
os caramujos da esquistossomose:
educado naturalmente
por um brejo povoado por destemidos vermes -
que vida era aquela
onde a felicidade se escondia
no pequeno peixe que resistia
em meio as fezes e ao detergente
expelidos pelos intestinos da civilização?
Ó minúsculo sonhador
que escapou do coice de cavalos humanizados
pelas placas de trânsito
e a covivência com as rádios AM -
que motivo havia para se ser feliz
nas axilas daquela cidade
que produzia mangas
e goiabas melhores do que homens?
Ó incansável infante
que o tempo mastigou
até torná-lo meu antepassado:
te procuro tremendo de medo
das guerras televisonadas
em horário nobre;
tremendo de medo
dos vazamentos radioativos
discutidos nas mesas de bar -
que estupidez geográfica te levava
a crer que a tua casa seria o próximo alvo?
Ó ignorante de si mesmo
te procro mijando sobre as flores do jardim
num dia esquecido por todos
por não haver algo de novo nele -
que risos você riu nessas tardes
por nada que valesse a pena
ou merecesse apreço?
Ó curioso moleque
interessado na decomposição dos ratos
na fratura exposta, no fogo nas petroquímicas -
me encontro em ti
no olhar no passo na voz
e retorno em seguida
para a merda de vida que será a tua.
* do livro Comerciais de Metralhadora
2 comentários:
nossa, bacana aqui!
Admiro demais você, Nolli!
Texto com sua marca e padrão!
Excelente!
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