sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
É simples assim
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
A casa
Dos homens que a ergueram
não restam sequer testemunhas:
um pó de memória que seca a garganta.
De como retiraram o barro das distâncias
e o emularam em célula não restou a sujeira
nas roupas ou o câncer que os consumiu.
De como em fornos cozinharam os miolos
e o caldo das montanhas, nada sobrou:
talvez uma ficha em arquivo de manicômio
ou uma cratera que junte água salobra.
De como chegavam a seus lares –
felizes por ainda terem os dentes na boca –
nada se sabe. Se há quem o recorde,
não há de dizer algo que valha.
De como suportavam as horas
– tendo um copo de lágrima e
um cão para lamber as feridas das mãos
– coisa alguma se relata:
ninguém anotou nada em lugar nenhum.
Por certo, os filhos dos que a ergueram
virão derrubá-la.
Disso, todos são testemunhas.
*
sábado, 19 de dezembro de 2009
Merry Fuckin Xmas
-E aí, como vai passar o fim de ano?
-Ah...no Natal eu vou no mercado, compro um frango, desses de rolete mesmo, eu não sei fazer peru. Uma Coca também. Daí eu como sozinha, vendo TV. Às vezes alguém almoça comigo no dia 25. Do dia 26 até o dia 30 eu fico chorando, aí no dia 31 eu penso em me matar. Sempre assim. E você?
*2
- Feliz Natal!
- Você sempre esquece que eu sou judeu.
- ah....Feliz Natal mesmo assim!
- Mas eu... a gente não comemora!
- Jesus vai ficar triste se te ouvir falando isso!
- Como bom judeu que era, acho que ele te mandaria à merda.
*3
- Adoro festa de Ano Novo!
- Olha, o vizinho vai acender os fogos!!
- Que lindo!
- Ai meu Deus, ele ficou preso!
THE END
(Qualquer semelhança com fatos reais será mera coincidência. Ou não.)
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Letras em teu Corpo - Flá Perez
fazemos poesia e amor até bem tarde.
E ela acorda cedo de manhã.
Beija minhas costas, me acarinha .
Eu a puxo de volta, vasculho seu corpo,
encosto todo meu desejo nela.
Mulher que penso submissa, abelha rainha ,
se desvencilha e sai apressada.
Durante o dia sinto seu cheiro em minhas mãos,
nos lábios,
refaço cenas, passo a passo.
À noite, quando chego da minha lida,
a encontro na cama,
cabelos molhados, adormecida.
Por um tempo velo seu sono,
- algum tremor passageiro, algum sonho –
Não me contenho: exploro, farejo, beijo.
Minha felina se estica, abre seu sorriso mais lindo,
Abre as pernas e me recebe.
Quente, quente, quente!.
Então começamos tudo de novo...
Ah! vida meio vagabunda essa da gente!
Que não acabe nunca!
(Poema de 2007, meu primeiro com eu-lírico masculino)
sábado, 12 de dezembro de 2009
Cavando
Sentindo-se enganada e muito irritada, cavava cada vez mais, mas quanto mais fundo chegava, maior era a ausência de respostas, de pistas ou de provas.
Com o tempo, de mãos vazias, já estava quase desistindo da função quando percebeu que um pouco de terra lhe caiu na cabeça. Após olhar para cima, protegendo a vista mal acostumada do único feixe de luz que chegava àquele buraco, desabou em lágrimas. Percebeu-se cavando a própria cova. Viu que era ele, esgotado, que tentava enterrá-la no passado.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Terra Arrasada
Te ocultaste além do horizonte,
mulher que outrora chamei “Amada”.
E quem saberá dizer onde, e quão longe,
fica a amurada que te esconde?
A cama que foi nossa um dia
– e, por mim, ainda seria –
é o leito de um rio morto
(antes água, hoje lodo).
Entre uma margem e outra,
sumidouro, atoleiro, fosso:
queimaste a última ponte,
não resta vau, nem passagem,
e nem mesmo o próprio Caronte
se atreveria a navegar este charco.
Da minha margem diviso a tua,
que por léguas ao fundo e ao largo
fizeste estéril, calcinada e nua,
como quem dissesse, “Delenda Cartago”.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Poema de fé
na esquerda um afago
que estendo como sinal de fé.
Meu punho cerrado estendo aos santos vivos,
imaculados.
Aqui deste lado ostento uma reza
do outro um abraço
que ofereço a quem quiser.
Minha boca sedenta ofereço aos mortos vivos,
crucificados.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009

no último sonho
conto que não há mais nada
a heroína é o cansaço
que arregaço em minhas veias
fundidas ao pó da carne
dilacerada e entregue aos mortos
vou seguindo teus rumos
agregando-me devoto
aos pesadelos que desconheces
na pupila dilatada o universo
que engana
na finitude humana salva-nos
a ignorante batalha vã
e a vitória do desconhecido.