sábado, 30 de janeiro de 2010
PINGUÇU
(no boteco Terra)
uma dose de cachaça
para nosso máximo esforço
outra dose de cachaça
para esse mínimo salário
outra dose de cachaça
para debochar dessa desgraça
e torresmo batata e lingüiça
para tirar o gosto de suor
e sangue da língua
e outra dose de cachaça
para tirar o cansaço da cara
e outra dose de cachaça
porque mesmo assim viver tem graça
e outra dose de cachaça
porque a tristeza vem e não me abala
e outra dose de cachaça
pois a esperança vem e me embala
e outra dose de cachaça
para nossa força que não se acaba
e outra dose de cachaça
para a amizade que aqui não é falsa
e outra dose de cachaça
porque aqui não há distancia,aqui se abraça
e outra dose de cachaça
porque mesmo na batalha damos risada
e outra dose de cachaça
para essa risada que é escudo e espada
& de saidêra
uma dose de paz e solidariedade
p’ra ‘quele que o outro mata
o chame para compartilhar
uma garrafa de cachaça .
MG
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
efígie
domingo, 24 de janeiro de 2010
O mesmo título de uma obra de Knut Hamsum
Seria aceitável se estivéssemos
firmados em um deserto de sal
devorando o pneu dos tratores.
Se fôssemos aniquilados por
terríveis gafanhotos bíblicos
estragando os olhos das mulheres.
Seria aceitável se nos achássemos
em terras incultas dentando os arados
e enferrujando os ossos dos homens.
Se vivêssemos sobre um chão
diurético, por décadas incontáveis
afogando as auto-estradas e os silos.
Seria aceitável se nos restasse uma terra
imprestável para sepultar os chacais,
dia-a-dia corroendo as mãos das crianças.
Se habitássemos um solo indisposto,
nauseado das sementes, asfixiando o céu,
estrangulando a paisagem.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Rotina
visitem também: Os Letreiros
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
A EX
Procurei o endereço da vadia na gaveta. Achei fácil... fui lá.
-Você, aqui? O que você quer?
Segurei-a pelo cabelo para ela não fugir, e meti a língua no meio da boca dela.
A pilantra devia ser bi, porque nem reagiu.
Transamos ali na sala mesmo, e acho que o meu namorado não deu muito nela não, de tanto que gritou e gozou. Uma cadela.
Me vesti depressa, a vadia sorrindo no chão.
-Onde você vai?
-Sei lá, não enche.
Voltei pra casa e terminei com o corno.
Realmente a maldita dava melhor do que eu.
Os dois chorando pela mesma mulher? Não dá.
sábado, 16 de janeiro de 2010
Mãe-natureza
Esse textozinho foi um dos primeiros que publiquei no blog que criei recentemente. Postarei aqui apenas o link (aproveitando para que a turma aqui visite também o meu blog, chamado Prosas e Viagens).
http://www.prosaseviagens.blogspot.com/
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Ukma cantando meu poema "Aureolada"- Flá Perez
Aureolada
Eu tão anjo tenho andado,
que em mim nasceram asas.
O queme perde pro céu
é esse meu grande rabo
endemoniado
e minhas coxas grossas.
(repostagem de 07/01/08 com vídeo incorporado)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Tentativa n° 13
Presa no poliéster
Uma língua de fogo pelos recortes
tatuou-me asas nas costas
ardor e ímpeto no corpo imbele
Eu sei
Eu sei
Antes que eu ascenda
à musselina furtacor
trocarei de pele
Iriene Borges da Silva
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Visita
Após conferir cada detalhe dos preparativos para o jantar, pegou o porta-retratos na segunda prateleira da estante velha, o beijou, pediu desculpas e o colocou na gaveta. Poupou ambos do sofrimento.
sábado, 9 de janeiro de 2010
Picadeiro
o cara equilibra rimas,
joga palavras pra cima
como quem faz malabarismo
com três motosserras ligadas
e seis granadas sem pino,
mas sabe que o público espera
é só pra ver se ele erra.
Só isso e mais nada.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
(...) Ficções esparsas e inacabadas

Condenado que fui à vigília, não temo a visita do ladrão, pois não haveria de vir enquanto não me ausento. Por isso, mantenho os olhos bem abertos e, fixo-os na fumaça que se expande. Vivo acocorado, prestando reverências às sombras. Minha vigília se faz sob um fiapo de luz, pois a incandescência me cega e a escuridão me assusta. É insuportável a ausência, porém, prefiro ocultar-me. Há muito tempo não tenho nome. Resumo-me a números. Talvez seja um desmemoriado que se perdeu obtuso. Talvez seja apenas a transfiguração de um ser desfigurado: obra inacabada que se viu ruir. Minhas mãos, porém, se alongam. Volteiam meu corpo num abraço mecânico. Em minha cabeça ecoam os sons das sirenas, alarmes, ruídos, batidas, estalos, estampidos. Tudo ecoa desordenadamente ferindo os tímpanos e a alma. O calor me toma o corpo. Castigo que escolhi voluntariamente em meu masoquismo. Todos os meus membros são o prolongamento da máquina. Eu, indecifrável robô, tenho sonhos mórbidos. Um olhar confrangente sobre os outros que, em fila indiana, esperam o seu prato mofado para, como eu, amofinar-se no constrangedor fazer diário.
Minha obrigação é vigiar. Vigio a luz para que não se apague; a porta para que não se feche; o ventilador para que não gire demasiadamente. Vigio o pó suspenso, a poeira, a fuligem. Vigio o bem para que não se sobreponha ao mal e o mau para que não destrua o bom. Vigio as frutas podres: Adão e Eva no jardim perdido.
Sou o olho que olha, o ouvido que ouve, a boca que fala, o coração que palpita. Sou tudo e nada. Um ser sem nome, sem identidade. Sou o vigilante: aquele que não dorme, nem repousa. Designam-me por um número de uma imensa cadeia. 1263. Sou eu. Agente 1263 do setor norte. Treinado e qualificado para vigiar – olho do olho do olho. Todos são números. Agentes qualificados, treinados para diversos fins. Abrem, fecham. Acendem, apagam. Enroscam, desenroscam. Tudo simultaneamente e sincronizado, numa mecânica inigualável. Todos sinergicamente unidos, embora afastados. Não se tocam, não se sentem. Não tem afeto ou afeição: são números, e, números não sentem, nem se reconhecem, pois números apenas se somam, se multiplicam, se dividem, se subtraem.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
no último sonho
a heroína é o cansaço
que arregaço em minhas veias
fundidas ao pó da carne
dilacerada e entregue aos mortos
vou seguindo teus rumos
agregando-me devoto
aos pesadelos que desconheces
na pupila dilatada o universo
que engana
na finitude humana salva-nos
a ignorante batalha vã
e a vitória do desconhecido.