segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Aviso de Despejo


Lagartixa Morta - foto de Rafael Nolli

O poeta mente quando diz
que o amor é uma flor rara,
colhida nos verdejantes jardins da vida.

O amor, deveria ele dizer,
é o ato de desespero
no qual o homem se agarra,
é o chão que o suicida deseja –
mas embaixoapenas abismo e caos.

Mente o poeta quando diz que o amor
é o porto seguro onde se ancora
e mente duplamente quando afirma que Deus
nos fez para amarmos uns aos outros.

O amor, deveria ele dizer,
é a boia pela qual o afogado anseia,
masapenas água
e mais água em sua ânsia de boiar
acima, um pouco de céu sem fundo
abaixo, um universo de barro e lodo.

Amor é um cio estragado.


* do livro Comerciais de Metralhadora

8 comentários:

Lucas Ferreira disse...

De portas fechadas ao idealismo!... Isso é poesia do nosso tempo.

Gostei muito do seu poema Rafael!

Abraço.

Lucas Ferreira disse...

Rafael, gostaria de publicar seu poema no blog "Prosa de Sísifo". Confere-lá, se gostar dê um ok!

http://prosadesisifo.blogspot.com/

Paco Steinberg disse...

concordo tanto....

ando boiando mto por aqui

Joakim Antonio disse...

E há tanta dor, por!

Parabéns Nolli, um tiro certeiro.

Lucas Ferreira disse...

Sô Rafael, está publicado!
Valeu pela doação!

Abraço!

Márcia, vulgo Feto disse...

Quanta verdade! Eu até me afoguei.

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Eu diria que é por pensar e entender (e viver?) o amor deste modo que o mundo está como está: se arruinando!...

Amor é ternura, é afeição, delicadeza entre os seres (de todos os tipos, não apenas humanos).

Sem este sentimento, é que se afoga, principalmente no desespero, na solidão, na amargura, quando a vida é desprovida de ternura.

Diria ainda que o amor pode ser o barco que nos leva, ou a vela, ou o vento: amor é cio, sim, mas também flor, também sôpro, também movimento!...

Abraços alados.

Larissa Marques - LM@rq disse...

forte, como a maioria das coisas que escreve!
abre-me olhos ler-te!
beijo!