Num curta-metragem assistido em uma mostra de cinema aqui na região a verdade se mostrou mais crua do que nua: vivemos um tempo de relação íntima com a morte. Mas não a natural, que vive perto de cada um e ninguém quer pensar na sua existência. É a morte brutal, chocante, que tem a ver com a desvalorização da vida a que chegou a sociedade tecnológica, esta morte que ronda como um espectro nosso pensamento.
Basta acordar e tomar conhecimento do que andou acontecendo no planeta para se convencer de que a morte violenta é um dos males do século. Talvez nem tanto doenças, pois mesmo com as incuráveis hoje é possível conviver anos a fio; nem tanto a desmoralização política, incapaz de se ocultar aos nossos olhos como antes. O que agora nos assombra são os homens-bombas explodindo em algum lugar; são os assassinatos cotidianos em nossas cidades, mesmo nas pequenas e não mais pacatas; as grandes catástrofes que muitas vezes poderiam ser amenizadas, voltasse o homem a ter com a natureza o entrosamento ancestral, de respeito e até mesmo reverência.
A arte, em todas as suas formas, precisa estar comprometida com o seu tempo. Mas deve apenas lhe servir de espelho, refletindo fielmente sua deformidade com o objetivo de um insight nos muitos alienados, ou reinventá-lo – Cecília Meireles afirmou que “a vida só é possível reinventada” – com outras formas, tintas e leituras, levando o indivíduo consciente a uma possibilidade de reversão do atual descrédito em relação à humanidade? Refletir a questão é como estar no meio de um labirinto, com um monstro faminto à espreita. Algo necessário, porém, pelo próprio instinto de autopreservação.
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