Herança
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Foto: Rafael Nolli |
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Não sei se vou dizer
em que pé caminha a esperança no fruto
ainda na semente,
ou se digo
– se devo dizer –
algo sobre a certeza nas coisas quadradas
que se alongam até arredondarem-se.
Não sei se falo
– ainda há voz –
de equações químicas que se resolvem em silêncio,
nos livros que nunca caducam,
ou se conjeturo
a luta que enfrentaram os que, antes de nós,
domesticaram os grãos a nascerem
próximo ao apelo da mão.
Não sei se retrato a terra sitiada
de onde escapou o musgo
que cobre as pedras
como uma pelagem de inverno,
ou se explico
– resta um filete de canto –
os vislumbres de um futuro próximo
onde ainda se morre como em
Comerciais de Metralhadora.
Não sei se devo
– ou se me permitem –
relatar as dificuldades dos homens nas fornalhas,
derretendo o minério que irá virar bibelô de madame
ou maçaneta de táxi, e conto,
de mãos postas, a sua dieta fria, isenta de calorias;
não sei se romantizo
os vagabundos noturnos que chamo pelo nome
ou se narro as noites em que sonho com a Poesia
– a inevitável –
e acordo de pau duro.
Não sei se confirmo
– se é lúcido confirmar –
as verdades
sobre a ternura dos ditadores para com suas esposas
& amigos;
o carinho dos carrascos
& torturadores dispensados aos seus filhos
& amantes,
ou se, simplesmente, me calo.
Não sei,
talvez o poeta esteja mudo
diante dos outdoors do apocalipse.
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