sábado, 24 de janeiro de 2009




III
01/05/04
Memórias à beira de um estopim
para Sany Lara



O poeta habita
tardes escurecidas por nuvens
e, entre gemidos de paz
e declarações de ódio,
lampeja,
em sua mente, o sonho que a geração acorda antes de tê-lo.

Sonha (o poeta)
em noites clareadas por relâmpagos,
entre jogos de guerra e lutas de amor,
o sonho que seu vizinho iria sonhar
se às seis horas não o escravizasse.

Com as memórias pulsando
nas veias e o cérebro injetado de sangue,
entre balbucios de ira e gritos de rancor,
o sonho dos outros lhe escapa pela boca cerrada.

Com idéias de concreto e atos de vento,
contra inimigos invisíveis e armas de plástico
(sabendo ser mero flerte erótico
e intenções carnais a geração que o procederá),
o sonho do homem do andar de cima, que não foi sonhado ainda,
chega-lhe ao peito – numa jornada que intenta a mão.

Entre tristezas que nunca se acabam
e felicidades que mal se iniciam,
o poeta faz do sonho que a chuva e a fome impediu os outros de sonharem
um verso com palavras estáticas e se lança,
de coquetel em punho, contra moinhos de vento.


*

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