quinta-feira, 24 de junho de 2010

O leão nosso de cada dia

Do livro Comerciais de Metralhadora



Para Cássio Marcos Amaral

Hoje, sou exatamente aquilo que tenho:
centavos que não compravam felicidade alguma
uma úlcera metafísica,
que não me acompanhará ao infinito
dezenas de poemas sobre a exaltação do homem
e a felicidade tola dos desvairados.

Hoje, sou tudo que tenho:
um sonho de primavera
amadurecendo o coração dos brutos
um gosto de beijo nunca dado
uma iluminação repentina e irremediável
que me levaria ao céu, se o quisesse.

Hoje, nada além dos meus pertences é o que sou:
uma dor de cabeça debutante
migalhas de pão presas à barba
um projeto de poesia
que me remediará de todo o mal do mundo
depois de escrito me trairá covardemente
por não saber nada além
do que suas palavras dizem.

Hoje, sou exatamente o que tenho:
mas é nu que espero o amanhã.

2 comentários:

Manoel Carlos disse...

Hoje eu sou... não sei! Se gente valesse alguma coisa, eu talvez servisse de troco.
Manoel Carlos

Graça Carpes disse...

"... um projeto de poesia
que me remediará de todo o mal do mundo."

A Poesia... Salva.
:)