segunda-feira, 19 de julho de 2010

Da solidão


(Para ler e ouvir)

A solidão é cínica.
Ela escolhe algumas pessoas pra dividir seu tempo.
Quando ela me escolheu, eu ainda era criança.
Eu ouvia os adultos falando sobre ela, e achava bonito.
Que bonito, chorar com a chuva, sozinho.
Que idiota.
Se eu soubesse que essa paisagem ia se repetir tantas vezes.
Normalmente dizem que as pessoas ruins são solitárias.
Eu não me acho ruim.
Eu só tive azar.
A solidão da qual eu estou falando não é essa mais ou menos que você pensa, não.
Mas também não é aquela solidão dos velhos do asilo que eu visito.
É uma solidão safada.
Que vai comprar pão, some, e volta quando você está bem feliz.
Tranquilo.
Sabe o que é não ter NINGUÉM pra conversar.
No seu melhor e no seu pior.
Quando chove, daquele mesmo jeito de quando eu era pequeno, o mundo acaba.
Solidão é pra quem aguenta.
Eu preferia sentir dor.
Morrer de câncer.
Do que ser esse solitário filho da puta.
Desse eterno silêncio.
Silêncio contínuo não enlouquece, como tanta gente pensa.
Te deixa mais racional ainda, e aí é que você enlouquece de vez.

3 comentários:

Valquíria Calado disse...

Querido o silencio é benéfico e a paz as vezes se faz necessária pra equilibrar os sentimentos e as ideias, beijos e linda semana.

Glauber Vieira disse...

Muito bom o texto, a junção com a música ficou ainda melhor.

Cris disse...

O peso leve do silêncio é tão pesado quanto um grito oco na negrura que se instaura aqui dentro quando a gente não sabe bem porque essa morte parou no meio.
Ficar preso nessa entrelinha me é como essa solidão, a cínica que mereceu seu texto.