quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Carta sem remetente


Foto:Rosalina Afonso

Gotas de som compõem uma canção de chuva. Veja, meu amor, as coisas não precisavam ser tão tristes. Mas meu coração aperta até quando danço. Porque você me garantiu que longe era um lugar que não existia e agora aqui tudo é espera e fome.Tudo é sede de alguma voz e de palavras de encontro.É que esse silêncio denso não me explica distâncias...ou talvez seja ele que nos afaste ao ponto de nem haver mais eco.
Sabe meu amor, ontem eu lembrei de você quando a previsão era de tempestades e as temperaturas ainda estavam tão altas.O ar pesado e o calor ofensivo.E havia um poema oco e insônia e falta de abraço.
(Minha poesia anda miserável e minhas cartas sem remetentes).
E quando pensei que pudesse começar a me divertir, todos foram embora da festa:eu fiquei sozinha olhando a desordem.
Sabe meu amor, sobrou apenas o meu copo vazio, taças quebradas e restos que não se aproveita mais. E depois, essas gotas de chuva que pretendem compor nenhuma canção.


Meu amor, se longe é um lugar que não existe como você me explica essa distância?
*
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Marla de Queiroz

Um comentário:

Glauber Vieira disse...

Belo texto, gosto de narrativas em forma de carta.