quinta-feira, 12 de maio de 2011

Um dia é da pesca

          O garoto foi pescar com o pai, adorava esse tipo de programa. Ele e o pai juntos, viagem até o rio, aquela sensação de acampar - mesmo estando hospedado em um bom hotel - e pescar. Só tinha uma coisa que o incomodava: limpar os peixes. Ele não conseguia enfiar uma faca nos pobres peixes e arrancar-lhes as tripas com as próprias mãos.

          Ele e o pai passaram o dia pescando no barranco, cada qual com seu baldinho. Os baldinhos encheram-se, as horas também e o pai começou a limpar os peixes que pegou. Enfiava a faca, colocava no rio e tirava as tripas. Enfiava a faca, colocava no rio e tirava as tripas.

          O filho já estava enjoado e o pai, volta e meia, ainda falava:

          - Olha, esse aqui tem ova! - E levantava as mãos exibindo algo não identificável e bem sujo de sangue.

          Ao terminar de limpar o balde todo, o pai virou-se para o filho e perguntou:

          - Não vai limpar os seus?

          - Ah. Já limpo. Empresta a faca?

          O pai deixou a faca e foi andando na direção do hotel; Agora era só ele e os peixes. Olhou para o balde, faca na mão, suor na testa, olhos de peixe e mãos tremendo. Olhos nos peixes, mão no balde, suor na testa e hesitou. Não conseguiu pegar nenhum. Ficou apenas pensando na crueldade que era fazer aquilo com os animais.

Pensou mais um pouco e decidiu que ia soltá-los, todos. Decidido, foi até o balde e pegou o primeiro peixe na mão. O peixe se debateu, pulou contra seu rosto, fazendo-o gritar, escorregou entre suas mãos e foi para o chão.

          Ao lado, dois moleques que acabavam de chegar riam da cena e o imitavam em gestos e no grito. O garoto não teve dúvida, olhou bem nos olhos deles e enfiou a faca. Depois colocou no rio, tirou as tripas;  E repetiu o processo até esvaziar o balde - sem culpa ou remorso, afinal, era ele ou eles.






Texto publicado no livro Vem cá que eu te conto:

Um comentário:

Glauber Vieira disse...

Eita,gostei do final, surpreendeu.