domingo, 7 de dezembro de 2008

Sagrado Coração Profano


I


Sou potencialmente culpado
Uma culpa que vem de gerações ulteriores
Pois do passado só poeira e cinza restam nas vidraças
Espectros e vultos que se avultam do chão sequioso
E, em torrentes, sobem até os vãos das janelas
Lambem as cortinas negras
Que balançam na escuridão da noite silenciosa
Não há espaço para dois corpos num mesmo lugar indefinido
Mas há a indefinição de corpos num mesmo espaço simultâneo
As sepulturas se abrem, esperam desesperadas
Gritam, clamam... querem a carne pálida do indigente,
Mas lhe é negada a oblação
Seu espaço é definido demais e os corpos ainda se contraem
Numa busca desamparada de viver
Vivem o homem e o cão
Vivem a mulher e a serpente
Serpenteiam seus corpos oblíquos a enlaçar o homem
A sufocar o cão
Mas a morte não vem, não vem a doce lembrança,
Não vem o grito, nem vem o silêncio,
Apenas o descompasso absurdo de vultos que dançam
Sob um ritmo alucinado de Valquírias ensandecidas
Eis que surge a espada
A lâmina reluzente e mais nada...

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