domingo, 7 de outubro de 2007

Velhice


Na inquietude da metrópole,
sentado à beira da calçada,
lágrimas umedecem o olhar
taciturno de uma velhice.
Os braços que nada produzem
apenas sustentam, empalmados
ao rosto, a lástima alheia
que impiedosa tomou-me
de assalto em meu cotidiano
solúvel.

Esvaziei – me
desconstruí meu ego
me vi entregue.
Os Velhos Choram?
Crianças choram,
mas aquela velhice abalada
soluçava feito criança.
Não sei os motivos,
poderia abraçá-lo
como um filho a um pai,
poderia confortá-lo.
Simplesmente chorei
por minha incompreensão,
por olhar sempre meu próprio umbigo.
Por não pensar em que fim
sua vida se descortina,
sem saber que seus sonhos se desmoronavam
encharcados daquelas lágrimas.

A velhice chora
de saudade da infância,
dos tempos já vividos,
dos amigos que dormem
no passado.
Passa o tempo
e minha ruptura se refaz
na desconcertante rotina
que engoliu pouco a pouco
a imagem de um velho
que sentado à beira da calçada
lastimava sua vivência
em lágrimas que molhavam
seu taciturno olhar!

E, pouco a pouco,
vou envelhecendo!
.
.
.
(...)
Poema do livro: Itinerário Fragmentado (ainda no prelo).

4 comentários:

Fabrício Brandão disse...

Meu caro Flávio,

A velhice é sempre essa temática recorrente, algo que nos enche com seus questionamentos e incertezas mil. Por aqui, tuas linhas poéticas repensam essa condição como quem visita uma imagem misteriosa e perdida num fundo embebido em mistérios.

Abraços!!

Anônimo disse...

É o futuro não é brou, ou não! Talvez morra jovem, mas quando paramos para pensar aí e uma reflexão muita ampla.

Abração.

- disse...

Humm .. dos amigos que dormem no passado .. ótima poesia .. linda demais .. bem melacólico e saudosa .. e assim tb vou envelhecendo .. Beijins ..

Paola Vannucci disse...

Cuidai do bom velhinho, poie ele tem sempre a nos ensinar

beijos

Paola