II
                                                            31/08/03
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| Foto de Francesca Woodman | 
Nasci em  um  grande  espasmo , num dia  onze de setembro , enquanto  aviões  desnorteados cruzavam os céus  de Manhatam para  chocarem contra  o corpo  dos prédios . Mas  minha  gestação  foi longa : o sexo  que  me  deu o suspiro  da vida  ocorreu à sombra  de uma cruz . Desenvolvi em  um  útero 
Ao longo  dos anos , passeei em  belos  carros-bomba; estive nas reuniões  onde  a mão  riscava o mapa  e a estratégia  riscava o inimigo . Vinte anos  fardados ditaram meu  fardo . O leite  que  mamei na teta  mecânica  do mundo  em  ruínas  me  
trouxe um  gosto  ruim  à boca  e privou-me do hálito  de coragem . Não  sou filho  do carbono , da carne  nem  da fermentação  de partículas  e éter  – sou filho  da incompreensão , gerado no seio  da noite  e parido pela  boca  faminta  da desgraça !
Do Livro Memórias à Beira de um Estopim, edição independente, 2005

7 comentários:
"sou filho da incomprensão",acho que somos irmãos rs.....um texto marcante,adorei!
Tive o prazer de receber o livro, degustei como esses vinhos raros, de boa safra, esse poema me marcou de uma forma latente, falar de si não é fácil. Aliás é um rasgar-se em regalo, para mostrar a ferida!
Adoro seu estilo confessional, que deixa fluir o escatológico. Sê bem-vindo!
Beijo grande!
Rafael,
Texto forte,belo e com seu sotaque.
Beijos.
Caramba... Seu texto revela as marcas do tempo no tempo...a crueldade d'um sistema que domína e cria(gera) seu próprio câncer que corrói a si mesmo.
Se eu fosse poeta, gostaria de ter esse talento. Nâo é leitura fácil. Como disse Larissa: é como um vinho caro, que deve ser degustado aos poucos.
Parabéns, cara. Tá no caminho certo.
Pessoal, agradeço o carinho! Obrigado!
como diz o hegel: " a única lição prática da história é que ninguém aprende com lições práticas da história" grande poema meu caro!
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