quinta-feira, 17 de maio de 2007

Farfalla - Parte Final.

Um campo aberto, com nuvens lembrando bolas de algodão (aquelas da infância)... Um gramado sem fim, daqueles que se findam no horizonte, onde meus olhos chegam, mas nunca minhas mãos...

Com água correndo por entre pedras... Algumas flores colorindo a paisagem (brincando de florescer) e muitas árvores de caules largos, os quais meus braços (sozinhos) não conseguem abraçar.

No topo de uma montanha, da altura do meu sonho, um solitário chalé com varanda e um olhar enigmático que percorre a extensão da paisagem que alterna sol e chuva, numa composição tão lenta que a alma parece sair de um sopro da palma das mãos de um fio condutor...


“Então, surge um pensamento: Um dia... Lá será um lugar para se chamar de lar!”


E num aceno silencioso de pequenos dedos ligeiros, lanço o sorriso menina ao ar e me apresso em passos rápidos e faceiros... Rumo a paisagem... Rumo ao horizonte que sempre foge porque nunca sou rápida o bastante...

E roda a ciranda da vida... As flores murcham em seus galhos e as folhas se desprendem... Parecem que ganham asas, mas não, o vento as socorre e sepulta uma a uma no mesmo chão que agarra meus pés para que eu não encontre o azul dos olhos meus...

Aos poucos, meus passos abraçam uma lentidão... Se demoram e o meu sorriso? Foge para os bicos dos muitos pássaros que colorem os ares com suas penas coloridas... (às vezes, fazem lembrar um arco-íris). Eles são meninos arteiros... Passam em vôos rasantes pela relva... Brincam na areia, como se água fosse... Disputam o azul dos olhos meus e trazem a pele uma saudade gostosa, daquelas que abraçam com calma e a gente suspira profunda e intensamente percorrendo vilas de nossas lembranças...

E os pássaros insistem no vôo e eu apenas aprecio com meus pés ainda pregados ao chão e tudo que resta é um sonho, que já não me acompanha, prefere a sombra de uma árvore qualquer, perdida entre a eternidade e seu fim derradeiro...

Então meus pés tentam rodopiar como antes, até faltar o fôlego – já não conseguem mais... Se atrapalham entre uma marcha e outra. Parece até que a chuva que cai, acha graça... Enquanto goteja pela paisagem, uma melodia percorre meus lábios e a voz pouca, já cansada ensaia um antigo refrão... Uma cantiga. Ah! Sinfonia... Adágio!!! E toda a paisagem segue no compasso lírico de uma marcha silenciosa por entre folhas e vôos e eu apresso meu passo numa dança de movimentos que se repetem... Agora com mais calma. Já não corro mais pela relva como antes e o horizonte está lá... Cada vez mais distante!

E no chalé, um sorriso antigo se reinventando de quem aprecia a tudo e parece se divertir com isso... O tempo passa para todos, para a chuva, para o sol, até mesmo para os vôos dos muitos pássaros que não se repetem, embora na distração do meu olhar (já não mais tão atento) eu acredite que eles ainda sejam os mesmos...

Ah! E quando passa pela varanda um vento mais forte, trazendo consigo o cheiro adocicado da chuva, o qual já não sei mais se é ilusão ou verdade... Encontro aquela mão pequenina de dedos ligeiros acenando ao vento para mim... Engraçado como se parece com alguém... Ah! A memória já não acusa a lembrança e eu tento retribuir o aceno e o sorriso familiar... Mas o cansaço me vence...

De repente, os passos da pequena admiradora ganham “asas” e correm ligeiro pela paisagem... Lá vai ela... Munida de uma ingenuidade singular ao percorrer o horizonte... Lá distante, acreditando que se for mais rápida, ele irá ser alcançado!

Estranha sensação que percorre a alma e faz parecer que o chão já não me prende mais... A imagem distante, daquele velho horizonte parece se aproximar cada vez mais dos olhos e a alma... Agora, quem está mesmo distante é a pequenina de dedos ligeiros que parou de correr e voltou a acenar!

13 comentários:

Francys Oliva disse...

As vezes é melhor o silencio como você mesmo diz Tata.
Adorei, já tinha gostado do outro...

Larissa Marques - LM@rq disse...

Lunna, adorei seu farfala, é quase uma bruma, talvez uma pluma que voa ao gosto do vento! Leve e descompromissada!
Beijos!

Anônimo disse...

Acho que dessa vez você encontrou o tom certo.
Está salutar. Aguardo os poemas e o primeiro texto dessa composição.
Abraços

Anônimo disse...

Hummm! Eu sei que irá dizer que sou suspeito e tudo mais...
Porém eu ADOREI.

Anônimo disse...

Agora, quem está mesmo distante é a pequenina de dedos ligeiros que parou de correr e voltou a acenar!

Lindo isso.

Helena
www.prorider.com.br

Anônimo disse...

Minha visita, minha admiração e meus parabéns, Lunninha! Eu amei!! Bjs!

flaviooffer disse...

Puxa... texto muito bom!
Transcedental!

Abraços.
Paz e Literatura sempre.

Unknown disse...

L-I-N-D-O.
ADOREI

Anônimo disse...

Oi mon cherry.
Posso dizer que esta cada dia mais intensa em seus dizeres.
Adorei sua singularidade.
"Lá vai ela... Munida de uma ingenuidade singular ao percorrer o horizonte... Lá distante, acreditando que se for mais rápida, ele irá ser alcançado!"
Isso me lembra uma pequena que conheci.
Beijos
Lizie
lnlclclm@hotmail.com

Anônimo disse...

Garota, gostei do seu estilo.

Anônimo disse...

Que descrição incrível, me senti junto com você!

Lunna Guedes disse...

Oi pessoas alegres...
Obrigada pelos comentários e pelo carinho.
Abraços

Anônimo disse...

Os pedaços de uma natureza indizível mas tão aqui dentro...tão intensa.

Muito lindo, Lunna.